O Partido Socialista absteve-se na votação do orçamento na Assembleia da República, tal como o Partido Social Democrata havia feito quando os papéis estavam invertidos. Aliás, a abstenção nas votações da Assembleia têm sido frequentes sempre que se pretende não votar contra. A tirania dos partidos a isso obriga e é voz comum fazer declarações de voto e outras palermices quando se vota contra o que se pensa ou se quer defender, ou se vota contra a indicação de voto partidária.
Isto dá-nos que pensar. Isto devia dar-nos que pensar!
Quem quer que seja eleito para a Assembleia da República, está a ser eleito com os votos dos cidadãos portugueses, cidadãos esses que têm um conjunto de ideais, interesses, preocupações e desejos. Teoricamente, enquanto representantes dos portugueses e, descontando o facto de poderem representar todos os portugueses ou apenas uma parte, será legítimo a um político abster-se de decidir sobre um tema, seja ele qual for?
É uma aberração um político abster-se seja no que for. É o mesmo que um pescador se abster de pescar porque não sabe se há-de pescar carapau ou sardinha, um gestor se abster de gerir a empresa porque não sabe se vai vender mais ou menos ou um construtor civil se abster de acabar a construção de uma casa porque não sabe se há-de colocar um telhado de zinco ou telha de barro.
Não escolhemos políticos para que estes se abstenham de tomar decisões, mesmo que nós próprios o pudéssemos fazer por ignorância ou por incapacidade se tal nos fosse solicitado. Nós escolhemos os políticos para que possam tomar as decisões por nós, no melhor dos nossos interesses, ou da forma como os nossos interesses são percebidos pelo político. Ser deputado é um ofício, não um prémio! Por isso, quando um político se abstém numa votação, está-se a abster da responsabilidade que tem para connosco, os seus eleitores. E isso é imperdoável e deveria dar lugar a despedimento com justa causa, que é o que acontece no sector privado a alguém que, sendo pago para decidir, se recuse a fazê-lo.
Também por isso, muito me espanta que em altura de eleições os políticos venham pedir ao povo que não se abstenha, que vá votar, exercer o seu dever (direito) de cidadania! A desfaçatez!
Na verdade, nada do que disse me espanta realmente. Não espero que flores perfumadas nasçam numa lixeira. E o perfume das que nasceram nos canos das armas foi demasiado efémero.
sábado, 3 de dezembro de 2011
terça-feira, 29 de novembro de 2011
sábado, 1 de outubro de 2011
Inveja - 6º do ciclo dos pecados mortais
Será minha a palavra
-
a derradeira -
definitiva como a morte
som terminal
curto e contundente.
Será a minha a voz do cutelo
e a frieza a da lâmina da foice.
Fecharei portas e portadas,
soprar-te-ei a noite
de um céu varrido de estrelas.
Será minha a palavra
que extingue a chama
e que te venda os olhos
ao ondular da sua sombra.
A escuridão é tua para descobrir
E não mais invejarei a tua luz.
terça-feira, 27 de setembro de 2011
Soberba - 5º do ciclo dos sete pecados mortais
Se eu desviar o olhar
onde te vais agarrar?
Mergulhas no vácuo e na escuridão.
Se a luz dos meus olhos se extinguir
a que luz vais pedir
que te encontre a direcção
É na imensidão do que eu sou
que tu encontras abrigo.
É na minha consciência
que encontras, da vida, o sentido.
Se de ti me perder...
Se de ti me esquecer...
domingo, 18 de setembro de 2011
Ira - 4º do ciclo dos sete pecados mortais
Ergue-te, sombra desnudada da raça Humana!
Ergue-te dessa morte anunciada por criatura
profana
Que julgaste divina, pintura da Capela
Sistina.
Esquece a forma e o cheiro desse anjo negro
O canto de sereia, o desassossego
O mal sob a pele de cordeiro.
Liberta-te da traição desonesta e cobarde
De quem te converteu à Cristandade
Para te preencher com solidão.
Mata esse ser que amas e odeias
Mostra-lhe as trevas de que agora te rodeias
Mostra-lhe a obra de Deus!
Mata esse Deus que nunca se sentou a teu lado
Maldita seja a hora em que o criaste,
apaixonado!
E com ele morram os anjos e os demónios,
Quebrem-se as asas! Partam-se os cornos!
Queimem-se os altares, inundem-se os infernos!
Soprar-lhes-ei vida e deixarão de ser eternos.
Que o infinito acabe de repente,
Que leve tudo e todos na torrente,
Que colapse o éden imaginário, a cruz, o
almário
Queimem-se as vestes e o breviário!
Apaguem-se as velas!
Arrasem-se as capelas!
Toquem os sinos, a rebate, os finados
E empurrem-nos da torre, partam-nos em bocados
Destruam-se todos os símbolos desse engano
Desmistifique-se o divino e o profano!
Extinga-se a chama oca da ilusão
Pela espada morram, todos pela minha mão.
sábado, 17 de setembro de 2011
Mirandês - desliguem-lhe a máquina!
O mirandês é a segunda língua oficial de Portugal, ainda que ninguém a compreenda, fale ou escreva fora da região de Miranda do Douro e arredores. Acredito até que mesmo nessa região poucos o falem e quase que aposto que absolutamente ninguém o usa no seu dia-a-dia.
Afirmo isto sem recurso a nenhum dado concreto nem a nenhuma experiência particular. É uma daquelas ideias que se baseiam no conceito de que se algo não for útil (e incluo a arte como algo útil) não sobreviverá - é uma decorrência da selecção natural aplicada a algo que não é um ser vivo, mas que é manipulado ou utilizado pelos seres vivos e, como tal, se rege pelas regras que moldam a realidade desses seres vivos (nós).
Apeteceu-me discorrer um pouco sobre esta questão do mirandês por causa de uma reportagem lançada na SIC onde se dá algum tempo de antena à "utilização" e "importância" desta segunda língua nacional. Discordo completamente dessa relevância. O mirandês não é utilizado nem é importante, desculpem-me os mirandeses. Mais me irritou porque ao ver a reportagem pareceu-me estar a assistir a uma peça montada por uma máquina de propaganda fascista com o objectivo de evangelizar a população para a bondade da causa, neste caso do mirandês. Desde os meninos (coitados) na escola, com um ar natalício, a recitar, um de cada vez, a fábula da lebre e da tartaruga até às senhoras de idade a simularem uma conversa natural em mirandês, sobre vacas, silvas, portões e ladrões, visivelmente pouco à vontade porque, claramente, só devem falar mirandês quando lá vão os jornalistas da SIC, toda a reportagem foi uma encenação, quiçá patrocinada pela autarquia.
Não acredito que existam mais de 10.000 pessoas a falar mirandês como afirmaram na reportagem. A não ser que contem as pessoas que conhecem até um mínimo de três palavras. Nesse caso, eu sou um poliglota de renome porque falarei mais que dez idiomas, incluindo o mirandês, a saber: "lhéngua", "hoije" e "scritores".
Por outro lado, considerar o mirandês como segunda língua nacional, quando ela é ensinada apenas num punhado de escolas primárias é uma anedota. Mais valia seleccionar o inglês, o francês ou o castelhano como segunda língua, ou então, se o anterior vos escandaliza, escolham o latim e voltamos aos tempos de antigamente, mesmo porque língua morta por língua morta, o latim sempre tem mais valor e aplicabilidade. A "piéce de résistance" é saber que de entre os livros traduzidos para mirandês, os dois mais notavelmente publicitados são... Eça? Camilo? António Lobo Antunes? Não. São dois volumes do Astérix... tipicamente português, diga-se de passagem...
Se o mirandês alguma vez foi vivo, já morreu. Se está morto deixêmo-lo ao cuidado dos historiadores, façamos levantamentos culturais do que foi e da sua importância, criemos festas temáticas onde se celebre essa tradição mas não percamos tempo nem gastemos recursos a inventar uma roda quadrada que nunca funcionará, porque a redonda já foi criada há muito tempo e funciona melhor. Não gastemos o tempo das crianças nem o dinheiro dos seus pais e do resto dos contribuintes para ornamentar esse túmulo!
Passos Coelho, olha aqui uma despesa boa para se cortar quase sem impacto nenhum! Pode ser que chegue para oferecer um bilhete de avião ao Alberto João Jardim para o raio que o parta.
Afirmo isto sem recurso a nenhum dado concreto nem a nenhuma experiência particular. É uma daquelas ideias que se baseiam no conceito de que se algo não for útil (e incluo a arte como algo útil) não sobreviverá - é uma decorrência da selecção natural aplicada a algo que não é um ser vivo, mas que é manipulado ou utilizado pelos seres vivos e, como tal, se rege pelas regras que moldam a realidade desses seres vivos (nós).
Apeteceu-me discorrer um pouco sobre esta questão do mirandês por causa de uma reportagem lançada na SIC onde se dá algum tempo de antena à "utilização" e "importância" desta segunda língua nacional. Discordo completamente dessa relevância. O mirandês não é utilizado nem é importante, desculpem-me os mirandeses. Mais me irritou porque ao ver a reportagem pareceu-me estar a assistir a uma peça montada por uma máquina de propaganda fascista com o objectivo de evangelizar a população para a bondade da causa, neste caso do mirandês. Desde os meninos (coitados) na escola, com um ar natalício, a recitar, um de cada vez, a fábula da lebre e da tartaruga até às senhoras de idade a simularem uma conversa natural em mirandês, sobre vacas, silvas, portões e ladrões, visivelmente pouco à vontade porque, claramente, só devem falar mirandês quando lá vão os jornalistas da SIC, toda a reportagem foi uma encenação, quiçá patrocinada pela autarquia.
Não acredito que existam mais de 10.000 pessoas a falar mirandês como afirmaram na reportagem. A não ser que contem as pessoas que conhecem até um mínimo de três palavras. Nesse caso, eu sou um poliglota de renome porque falarei mais que dez idiomas, incluindo o mirandês, a saber: "lhéngua", "hoije" e "scritores".
Por outro lado, considerar o mirandês como segunda língua nacional, quando ela é ensinada apenas num punhado de escolas primárias é uma anedota. Mais valia seleccionar o inglês, o francês ou o castelhano como segunda língua, ou então, se o anterior vos escandaliza, escolham o latim e voltamos aos tempos de antigamente, mesmo porque língua morta por língua morta, o latim sempre tem mais valor e aplicabilidade. A "piéce de résistance" é saber que de entre os livros traduzidos para mirandês, os dois mais notavelmente publicitados são... Eça? Camilo? António Lobo Antunes? Não. São dois volumes do Astérix... tipicamente português, diga-se de passagem...
Se o mirandês alguma vez foi vivo, já morreu. Se está morto deixêmo-lo ao cuidado dos historiadores, façamos levantamentos culturais do que foi e da sua importância, criemos festas temáticas onde se celebre essa tradição mas não percamos tempo nem gastemos recursos a inventar uma roda quadrada que nunca funcionará, porque a redonda já foi criada há muito tempo e funciona melhor. Não gastemos o tempo das crianças nem o dinheiro dos seus pais e do resto dos contribuintes para ornamentar esse túmulo!
Passos Coelho, olha aqui uma despesa boa para se cortar quase sem impacto nenhum! Pode ser que chegue para oferecer um bilhete de avião ao Alberto João Jardim para o raio que o parta.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Avareza - 3º do ciclo dos sete pecados mortais
Tantas palavras para somar...
dois foram uns!
E eu não as uso
com medo de as gastar.
São minhas,
não as sei dar.
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Preguiça - 2º do ciclo dos sete pecados mortais
Quero um tempo
onde o tempo não se conte
o já não exista
o depois seja mais tarde
e o nada não acabe.
Quero um som
com poucas letras
escrito em minúsculas
dito em surdina
lido para dentro.
Quero uma ideia
já descartada
de premissas impossíveis
e sem aplicação visível.
Quero um esforço já feito
um custo pago na íntegra
uma estase perfeita.
Quero fixar o olhar
num horizonte inalcançável
até que a vista cegue.
Espero um universo
em que a espera seja avanço
e o sonho sabedoria.
sábado, 10 de setembro de 2011
Luxúria - 1º do ciclo dos sete pecados mortais
Tenho fome de ti
Doce pecado
Sushi de serpente
Nua e crua
És Eva
Em cama de arroz
Paraíso
Em forma de maçã
Dentada em forma de beijo
Curei a imortalidade
Com o teu veneno.
Mas vais cair do pedestal
E eu cairei contigo
Agarrado à tua costela, que é minha
Em êxtase
Completar-nos-emos
Nesse vôo lascivo
Descendente
Faremos Cains e Abéis
Atravessaremos os olhos dos anjos
Incrédulos
Penas sussurram e coram
-
Sobressalto!
Não fora este o sétimo
E talvez Deus acordasse – Alto!
Mas não.
Segue sonhando que é Deus
E nós, caindo, criamo-lo.
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
António Costa is back
António Costa foi, para mim, uma das figuras da semana por causa de um acto aparentemente inócuo, que passou por baixo do radar. Refiro-me à sua presença na lista de Assis, num vistoso segundo lugar, para concorrer à Comissão Nacional do Partido Socialista.
O facto relevante é o posicionamento político que António Costa continua a sedimentar, logo após ter rejeitado candidatar-se ao lugar de Secretário Geral do PS.
Com esta candidatura, António Costa vai, finalmente, a jogo e coloca uma carta forte na mesa. Ao apoiar Assis, demonstra acreditar que José Seguro não vai conseguir aguentar-se no barco logo após as primeiras eleições a que concorra e, por isso, posiciona-se desde já numa "oposição velada". Desta forma, ninguém o pode criticar agora por não apoiar abertamente Seguro nem, mais tarde, quando concorrer contra ele, correr o risco de ser acusado de saltimbanco político ou mesmo de traidor. Também relevante é o facto de avançar em 2º lugar. Apesar de ser um lugar natural, dado o peso que António Costa tem no PS, é uma clara manifestação de intenção e de poder. Se o objectivo não fosse o de marcar o seu território de forma muito clara, poderia ter avançado num lugar mais modesto onde se não comprometesse ou, até, manifestar o seu apoio político nos media e nem sequer participar na lista. Assim, está a dizer a todo o partido que deu um avanço a Seguro mas que agora vai começar a caçada.
Entretanto, vai esperando que Assis faça o seu trabalho de desgaste e Seguro tropece nas suas próprias pernas.
O facto relevante é o posicionamento político que António Costa continua a sedimentar, logo após ter rejeitado candidatar-se ao lugar de Secretário Geral do PS.
Com esta candidatura, António Costa vai, finalmente, a jogo e coloca uma carta forte na mesa. Ao apoiar Assis, demonstra acreditar que José Seguro não vai conseguir aguentar-se no barco logo após as primeiras eleições a que concorra e, por isso, posiciona-se desde já numa "oposição velada". Desta forma, ninguém o pode criticar agora por não apoiar abertamente Seguro nem, mais tarde, quando concorrer contra ele, correr o risco de ser acusado de saltimbanco político ou mesmo de traidor. Também relevante é o facto de avançar em 2º lugar. Apesar de ser um lugar natural, dado o peso que António Costa tem no PS, é uma clara manifestação de intenção e de poder. Se o objectivo não fosse o de marcar o seu território de forma muito clara, poderia ter avançado num lugar mais modesto onde se não comprometesse ou, até, manifestar o seu apoio político nos media e nem sequer participar na lista. Assim, está a dizer a todo o partido que deu um avanço a Seguro mas que agora vai começar a caçada.
Entretanto, vai esperando que Assis faça o seu trabalho de desgaste e Seguro tropece nas suas próprias pernas.
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Gotas de água fazem a tempestade
Diversos economistas e Passos Coelho acreditam que os proveitos resultantes de tributar as fortunas seriam gotas de água.
Américo Amorim não se julga rico, apenas mais uma gota de água...
As despesas exorbitantes com telemóveis e carros no Estado e empresas públicas são gotas de água.
Já os salários dos trabalhadores (por oposição a dirigentes e políticos) não são gotas de água.
Se não o soubessem já, gostava que alguém explicasse a estes senhores que é gota a gota que se faz uma tempestade.
Aperta o garrote
André Macedo escreveu no DN uma análise que resume o que eu tenho dito nos últimos tempos no que diz respeito à máquina fiscal. A complexidade que se foi acumulando com medidas avulsas ou de “emergência” politica, fiscal e social tem que ser eliminada para bem de todos. Digo isto porque se o sistema fiscal for simplificado conseguir-se-ão reduzir custos de gestão que o Estado pode redireccionar para outras áreas (Saúde!!!). Contudo, tal como André Macedo, defendo que a eliminação das deduções fiscais tenham uma repercussão positiva nas taxas de IRS e que só assim farão sentido, caso contrário estaremos a observar um novo aumento de impostos que asfixiará novamente a classe média. Os cortes feitos da forma que foram anunciados pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar vão, infelizmente, no sentido da redução dos rendimentos da classe média sem a respectiva contrapartida.
Para já, como nota André Macedo, as únicas medidas tomadas por este Governo centram-se na receita e resumem-se a aumentos de impostos. O “ataque” à despesa fica, inexplicavelmente, para 2012.
Compreendo que o Governo tenha que tomar medidas difíceis para a população mas é preciso que não se tomem apenas as medidas fáceis para o Governo. Para isso, qualquer badameco podia ser eleito ministro das finanças, não precisávamos de ir buscar um iluminado.
Adicionalmente, Passos Coelho já afirmou que não pensa criar um imposto sobre as grandes fortunas. Alguém pensou que a direita o faria? Alguém pensou que Passos Coelho o poderia fazer? Eu não.
André Macedo finaliza o artigo com um alerta: “Gaspar que não nos defraude”. Neste momento, só há uma hipótese deste Governo não me defraudar e demonstrar alguma boa-fé de que não continuam apenas a ser os campeões da riqueza e poder instalados. É urgente e prioritário terminar com o regabofe na ilha da Madeira. Há razão, há conjuntura, há necessidade imperiosa.
Haja também coragem.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
A força dos nomes
Uma das primeiras coisas que se ensina a quem quer escrever ficção é que um nome pode ser determinante para o sucesso de uma história. É evidente, para mim, enquanto leitor, que o nome de uma personagem pode ajudar a estabelecer a ligação entre ela e o leitor. A escolha de um "bom" nome pode, imediatamente, provocar um certo estado de espírito no leitor ou levá-lo a colar determinados traços de personalidade à personagem. Por isso, quando bem escolhido, o nome do herói ou do vilão fazem-nos acreditar que aquela personagem é boa ou má.
O primeiro livro que eu li do José Rodrigues dos Santos foi paradigmático. Um herói de ficção com um nome português não funciona para mim porque estou demasiado habituado a nomes estrangeiros ou nomes inventados. Um nome português, colado a uma nacionalidade improvável para aventuras fantásticas fez com que eu torcesse o nariz à narrativa desde o início. Pura e simplesmente não acreditei que o Tomás Noronha fosse um cientista aventureiro. Talvez acreditasse que fosse um nobre enfadado com a vida, um escritor revolucionário ou um missionário Comboniano mas nunca a personagem que Rodrigues dos Santos quis criar.
A minha dúvida é que nome poderia ter funcionado?
Em inglês, Butch pode ser o nome de um assassino, de um bruta-montes, de alguém que faz "bullying" na escola. Daisy, pode ser o nome de alguém doce, de uma menina bonita e cabeça no ar, de alguém alegre e vivaço. Matt é o nome do soldado, do tipo prático, do jovem de boa índole, etc., etc., etc...
Em português não consigo estabelecer esta ligação. Os únicos nomes que imediatamente funcionam, quando usados em conjunto, são "Cátia" e "Vanessa". Quem é o Manuel? Quem é o João? Quem é a Ana, ou a Cristina?
O primeiro livro que eu li do José Rodrigues dos Santos foi paradigmático. Um herói de ficção com um nome português não funciona para mim porque estou demasiado habituado a nomes estrangeiros ou nomes inventados. Um nome português, colado a uma nacionalidade improvável para aventuras fantásticas fez com que eu torcesse o nariz à narrativa desde o início. Pura e simplesmente não acreditei que o Tomás Noronha fosse um cientista aventureiro. Talvez acreditasse que fosse um nobre enfadado com a vida, um escritor revolucionário ou um missionário Comboniano mas nunca a personagem que Rodrigues dos Santos quis criar.
A minha dúvida é que nome poderia ter funcionado?
Em inglês, Butch pode ser o nome de um assassino, de um bruta-montes, de alguém que faz "bullying" na escola. Daisy, pode ser o nome de alguém doce, de uma menina bonita e cabeça no ar, de alguém alegre e vivaço. Matt é o nome do soldado, do tipo prático, do jovem de boa índole, etc., etc., etc...
Em português não consigo estabelecer esta ligação. Os únicos nomes que imediatamente funcionam, quando usados em conjunto, são "Cátia" e "Vanessa". Quem é o Manuel? Quem é o João? Quem é a Ana, ou a Cristina?
terça-feira, 9 de agosto de 2011
A ilha das bananas
O Tribunal de Contas (TC) anunciou hoje que a dívida financeira da Madeira aumentou o ano passado quase 100 milhões de euros. Além disso, o TC admite a existência de diversas ilegalidades, desde empréstimos contraídos à margem da Lei, aplicação indevida dos empréstimos, facturas passadas fora de prazo e adjudicação posterior de trabalhos já executados.
Não obstante a gravidade de toda esta colecção de ilegalidades efectuadas pelo Governo Regional o que me tira do sério é o beneplácito do "governo continental". Afinal, não se pode exigir a um ladrão que não roube mas pode exigir-se a um polícia que prenda o ladrão se ele roubar. O que sempre acontece aos nossos governantes, porém, estejam socialistas ou sociais-democratas no poleiro, é espetarem a cabeça na areia como a avestruz e esperar que nada aconteça durante o seu mandato.
Pelos vistos, a estratégia da avestruz tem funcionado a contento, pois já lá passaram Sócrates, Santana, Durão, Guterres, Cavaco e manteve-se tudo igual. No continente enterra-se a cabeça e na ilha enterra-se o dinheiro, como num bom filme de piratas.
O TC fez o seu trabalho e pode, desde já, começar a preparar os papéis da próxima auditoria que esta não vai servir para nada. Alguém aposta o contrário?
Não obstante a gravidade de toda esta colecção de ilegalidades efectuadas pelo Governo Regional o que me tira do sério é o beneplácito do "governo continental". Afinal, não se pode exigir a um ladrão que não roube mas pode exigir-se a um polícia que prenda o ladrão se ele roubar. O que sempre acontece aos nossos governantes, porém, estejam socialistas ou sociais-democratas no poleiro, é espetarem a cabeça na areia como a avestruz e esperar que nada aconteça durante o seu mandato.
Pelos vistos, a estratégia da avestruz tem funcionado a contento, pois já lá passaram Sócrates, Santana, Durão, Guterres, Cavaco e manteve-se tudo igual. No continente enterra-se a cabeça e na ilha enterra-se o dinheiro, como num bom filme de piratas.
O TC fez o seu trabalho e pode, desde já, começar a preparar os papéis da próxima auditoria que esta não vai servir para nada. Alguém aposta o contrário?
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Serviço Nacional de Saúde
Tenho para mim que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) deve cumprir dois requisitos básicos. Em primeiro lugar deve cumprir a função médica e atender as necessidades médicas de toda a população em tempo útil. Em segundo lugar, deve cumprir a função social garantindo os serviços médicos a cidadãos sem recursos. Como corolário dos dois requisitos apontados, o SNS deve proporcionar a todos os cidadãos o mesmo nível de cuidados de saúde. Só chegados aqui, devemos pensar nos custos associados que temos que suportar e na forma como vão ser suportados.
A função médica, enunciada em primeiro lugar, é a razão da qual emana a necessidade de serviços médicos. No mínimo, um Estado tem de garantir que a sua população é o mais saudável possível para que possa maximizar a sua produtividade e eficiência. Não obstante os serviços médicos poderem existir fora do âmbito do Estado, os cuidados mínimos e urgentes devem poder ser fornecidos dentro de um âmbito público que garanta a defesa da vida como o bem intrínseco mais precioso que possuímos. No fundo, a saúde abstracta do Estado é a saúde do conjunto da sua população.
A questão que tem levantado mais polémica está relacionada com o grau de intervenção estatal na saúde, motivada pelos prejuízos avultados que esse subsistema incorpora nas contas públicas. Há quem defenda que a solução passa pela privatização da função saúde. O governo anterior chegou a implementar aquilo a que chamou as parcerias público-privadas para testar modelos mistos de gestão pública e privada e procurar as eficiências que escapam aos nossos hospitais e demais centros prestadores de serviços médicos. Este, parece-me o caminho correcto mas os resultados não foram nada animadores e verifica-se que o problema não se encontra tanto no modelo mas nos gestores envolvidos nesse modelo e para esse problema não há privado que nos valha. Contudo, é indiscutível que o modelo de gestão público também está incorrecto porque promove a incompetência, o gasto descuidado e até o roubo. Como habitualmente, tudo passa pelas pessoas e tem que se encontrar uma forma de tornar os agentes públicos uns gestores mais competentes.
Uma segunda questão polémica centrou-se na concentração de recursos e a consequente extinção de diversos serviços médicos. Independentemente de poderem ter existido casos individuais questionáveis, não me restam dúvidas de que, holisticamente, é obrigatório concentrar serviços específicos em polos específicos que passam a servir geografias mais vastas. É preciso ter em atenção que o acréscimo de incómodo para alguns representa a salvação do sistema de saúde para todos e, principalmente, é preciso não esquecer que ainda assim, o nível de serviço é muito superior ao nível de serviço de há vinte anos atrás.
As taxas moderadoras, também elas vítimas de vários ataques, são a terceira questão polémica, ora pela sua aplicação, ora pelos montantes aplicados. Se por um lado é defensável afirmar que já pagamos o direito de acesso aos serviços de saúde através do pagamento de impostos, por outro percebe-se que, em virtude do descalabro das contas ao qual somos alheios, temos que aumentar a nossa comparticipação. O pormenor dos valores serem aplicáveis de acordo com os escalões de rendimento, enquadra esta medida dentro de uma perspectiva socialmente justa, pelo que me parece uma polémica menor.
Tendo tudo isto em consideração, para que o SNS funcione como é devido num estado socialista ou social-democrata como nós os conhecemos, basta que se criem condições para que o acesso ao sistema de saúde seja uma realidade para todos e que exista em igualdade de circunstâncias. O que não se pode fazer, na minha opinião, sob pena de extinguirmos o que de bom construímos é deixarmos o sector nas mãos das seguradoras e bancos. É inevitável que a procura do lucro rapidamente limite o acesso a bons serviços de saúde a quem os não possa pagar, que no caso de Portugal é a maior parte da população. A privatização destes serviços poderia ser atenuada com a atribuição de subsídios estatais (se o direito comunitário o permitisse, o que desconheço) mas será que alguém ainda acredita neste modelo de negócio? Eu, pelo menos, depois do exemplo das SCUTs, não acredito.
Trago este assunto à baila porque me ocorreu que a febre liberal do governo social-democrata possa vir a atingir de morte o nosso sistema de saúde pela pessoa do ministro Paulo Macedo, cujo currículo na banca o aproxima mais dos números e menos das pessoas.
A função médica, enunciada em primeiro lugar, é a razão da qual emana a necessidade de serviços médicos. No mínimo, um Estado tem de garantir que a sua população é o mais saudável possível para que possa maximizar a sua produtividade e eficiência. Não obstante os serviços médicos poderem existir fora do âmbito do Estado, os cuidados mínimos e urgentes devem poder ser fornecidos dentro de um âmbito público que garanta a defesa da vida como o bem intrínseco mais precioso que possuímos. No fundo, a saúde abstracta do Estado é a saúde do conjunto da sua população.
A questão que tem levantado mais polémica está relacionada com o grau de intervenção estatal na saúde, motivada pelos prejuízos avultados que esse subsistema incorpora nas contas públicas. Há quem defenda que a solução passa pela privatização da função saúde. O governo anterior chegou a implementar aquilo a que chamou as parcerias público-privadas para testar modelos mistos de gestão pública e privada e procurar as eficiências que escapam aos nossos hospitais e demais centros prestadores de serviços médicos. Este, parece-me o caminho correcto mas os resultados não foram nada animadores e verifica-se que o problema não se encontra tanto no modelo mas nos gestores envolvidos nesse modelo e para esse problema não há privado que nos valha. Contudo, é indiscutível que o modelo de gestão público também está incorrecto porque promove a incompetência, o gasto descuidado e até o roubo. Como habitualmente, tudo passa pelas pessoas e tem que se encontrar uma forma de tornar os agentes públicos uns gestores mais competentes.
Uma segunda questão polémica centrou-se na concentração de recursos e a consequente extinção de diversos serviços médicos. Independentemente de poderem ter existido casos individuais questionáveis, não me restam dúvidas de que, holisticamente, é obrigatório concentrar serviços específicos em polos específicos que passam a servir geografias mais vastas. É preciso ter em atenção que o acréscimo de incómodo para alguns representa a salvação do sistema de saúde para todos e, principalmente, é preciso não esquecer que ainda assim, o nível de serviço é muito superior ao nível de serviço de há vinte anos atrás.
As taxas moderadoras, também elas vítimas de vários ataques, são a terceira questão polémica, ora pela sua aplicação, ora pelos montantes aplicados. Se por um lado é defensável afirmar que já pagamos o direito de acesso aos serviços de saúde através do pagamento de impostos, por outro percebe-se que, em virtude do descalabro das contas ao qual somos alheios, temos que aumentar a nossa comparticipação. O pormenor dos valores serem aplicáveis de acordo com os escalões de rendimento, enquadra esta medida dentro de uma perspectiva socialmente justa, pelo que me parece uma polémica menor.
Tendo tudo isto em consideração, para que o SNS funcione como é devido num estado socialista ou social-democrata como nós os conhecemos, basta que se criem condições para que o acesso ao sistema de saúde seja uma realidade para todos e que exista em igualdade de circunstâncias. O que não se pode fazer, na minha opinião, sob pena de extinguirmos o que de bom construímos é deixarmos o sector nas mãos das seguradoras e bancos. É inevitável que a procura do lucro rapidamente limite o acesso a bons serviços de saúde a quem os não possa pagar, que no caso de Portugal é a maior parte da população. A privatização destes serviços poderia ser atenuada com a atribuição de subsídios estatais (se o direito comunitário o permitisse, o que desconheço) mas será que alguém ainda acredita neste modelo de negócio? Eu, pelo menos, depois do exemplo das SCUTs, não acredito.
Trago este assunto à baila porque me ocorreu que a febre liberal do governo social-democrata possa vir a atingir de morte o nosso sistema de saúde pela pessoa do ministro Paulo Macedo, cujo currículo na banca o aproxima mais dos números e menos das pessoas.
N de aNgola
O BPN, doravante chamado de Banco Privado de aNgola, foi parar ao colo de Mira Amaral, excelso social-democrata (será coincidência?) dos tempo de Cavaco Silva (será coincidência)?
Prefiro acreditar que este negócio não leva água no BICo mas... espero que os valores das restantes propostas seja tornado público para perceber se a Orangina passa a ser a fragrância que substitui a rosa.
Caso contrário, estará dada a primeira machadada na credibilidade do Governo de Passos Coelho.
Realço que um dos propostos compradores afirmou estar disposto a comprar o BNP por mais de 100 milhões de euros, a acreditar no jornal ionline. De acordo com a mesma publicação, o ganho do Estado com a venda ao BIC resultará num ganho inferior aos 40 milhões que o Governo pretendia. Parece-me que 60 milhões de euros já obrigam a uma explicação pormenorizada do ministro das Finanças, do género da que deu quando explicou a expressão "desvio colossal".
PS.: a nova nomenclatura do BPN pode não ficar exactamente assim ;)
Prefiro acreditar que este negócio não leva água no BICo mas... espero que os valores das restantes propostas seja tornado público para perceber se a Orangina passa a ser a fragrância que substitui a rosa.
Caso contrário, estará dada a primeira machadada na credibilidade do Governo de Passos Coelho.
Realço que um dos propostos compradores afirmou estar disposto a comprar o BNP por mais de 100 milhões de euros, a acreditar no jornal ionline. De acordo com a mesma publicação, o ganho do Estado com a venda ao BIC resultará num ganho inferior aos 40 milhões que o Governo pretendia. Parece-me que 60 milhões de euros já obrigam a uma explicação pormenorizada do ministro das Finanças, do género da que deu quando explicou a expressão "desvio colossal".
PS.: a nova nomenclatura do BPN pode não ficar exactamente assim ;)
domingo, 31 de julho de 2011
Opostos que se atraem
Costuma-se dizer que no meio é que está a virtude, mas é falso. No meio está o homem, prisioneiro dos extremos. Cada vez que nos aproximamos dos extremos há uma força magnética que nos empurra novamente para o centro, para o compromisso, para o consenso, para a paz, para a banalidade, para a serenidade. Contudo, quando nos aproximamos do centro sentimo-nos novamente repelidos para os extremos como se fossemos ímans de cargas opostas. Não aguentamos muito tempo sem criar, sem pensar, sem observar. Não aguentamos muito tempo sem expressar o nosso egoísmo, o instinto que nos leva a fugir do que conhecemos e do que temos para procurar mais. E depois de atingir esse mais, queremos voltar ao aconchego da nossa humanidade para saborear o que alcançámos.
Ambas as forças são energias humanas. Por um lado a criatividade, a diferença, a ansiedade, a agressão, o frenesim, o confronto, a ambição , o individualismo e o egoísmo, a repelirem-nos para os extremos. Por outro, a normalização, a partilha, o consenso a atrairem-nos para o centro. Todos vivemos nesta dualidade que saltita entre a presença e a ausência, entre o sentimento de pertença e a necessidade de afirmação individual. Todos nós nos sentimos puxados em direcções diferentes e abrimos conflitos internos que se vão renovando. Todos nós vivemos no paradoxo em que só poderemos encontrar a liberdade procurando a diferença mas apenas seremos livres quando formos absolutamente iguais.
Ambas as forças são energias humanas. Por um lado a criatividade, a diferença, a ansiedade, a agressão, o frenesim, o confronto, a ambição , o individualismo e o egoísmo, a repelirem-nos para os extremos. Por outro, a normalização, a partilha, o consenso a atrairem-nos para o centro. Todos vivemos nesta dualidade que saltita entre a presença e a ausência, entre o sentimento de pertença e a necessidade de afirmação individual. Todos nós nos sentimos puxados em direcções diferentes e abrimos conflitos internos que se vão renovando. Todos nós vivemos no paradoxo em que só poderemos encontrar a liberdade procurando a diferença mas apenas seremos livres quando formos absolutamente iguais.
Centros de Saúde - o serviço adiado
As minhas experiências recentes em Centros de Saúde não têm sido as melhores. As duas últimas, em Queluz, resultaram em duas entradas no livro de reclamações, de modo que resolvi finalmente inscrever-me em Oeiras, zona da minha residência vai para uns sete anos. Gostava de dizer agora que a mudança foi grande e para melhor mas na realidade não foi. Se descontar a melhoria do edifício, mais recente que o de Queluz e, aparentemente, mais bem dimensionado para a quantidade de utentes que o utiliza, as mudanças ascendem a… zero. Registei, para já, que a burocracia se mantém – já o esperava – e que o mero processo informático de troca de centro de saúde não terá sido bem desenhado ou bem implementado ou então está construído sobre tecnologia obsoleta. O efeito prático resulta em “penso que o seu processo foi alterado mas o melhor é ligar amanhã para ter a certeza”. Se juntarmos este facto à formação deficiente ou incapacidade de actualização por parte das pessoas mais idosas que trabalham no atendimento ao público temos uma grande chatice que nos faz perder bastante tempo.
Depois, finalmente inscrito e registado no sistema, continuo a não poder ter médico de família, o que só é uma chatice porque, conforme me foi explicado pela senhora do atendimento, apesar de eu sustentar todo este sistema com os meus impostos, não tendo médico de família apenas serei atendido no Centro de Saúde da minha área se tiver a felicidade de apanhar uma das TRÊS consultas disponíveis de manhã por ordem de chegada. Todas as restantes consultas estão reservadas! Apesar de pagar mais para este sistema de saúde que a maioria das pessoas que dele usufruem, significando com isso que os meus impostos servem, muito justamente, para permitir que pessoas com menos rendimentos possam ter os cuidados de saúde essenciais acabo, no processo, por ter um serviço pior para mim. E isso é incompreensível e inaceitável. Defendo, por isso, que se deve instituir o fim do privilégio chamado “médico de família”, quer seja porque todos o passamos a ter e deixa de ser um privilégio para passar a ser uma "commodity" ou porque todos o deixamos de ter e passamos a ser atendidos por marcação ou por hora de chegada.
Isto é uma agulha no palheiro. Mas é uma agulha que está espetada em boa parte da população e legitima a má imagem dos serviços de saúde. Por vezes bastam pequenas mudanças para fazer grandes progressos.
Depois, finalmente inscrito e registado no sistema, continuo a não poder ter médico de família, o que só é uma chatice porque, conforme me foi explicado pela senhora do atendimento, apesar de eu sustentar todo este sistema com os meus impostos, não tendo médico de família apenas serei atendido no Centro de Saúde da minha área se tiver a felicidade de apanhar uma das TRÊS consultas disponíveis de manhã por ordem de chegada. Todas as restantes consultas estão reservadas! Apesar de pagar mais para este sistema de saúde que a maioria das pessoas que dele usufruem, significando com isso que os meus impostos servem, muito justamente, para permitir que pessoas com menos rendimentos possam ter os cuidados de saúde essenciais acabo, no processo, por ter um serviço pior para mim. E isso é incompreensível e inaceitável. Defendo, por isso, que se deve instituir o fim do privilégio chamado “médico de família”, quer seja porque todos o passamos a ter e deixa de ser um privilégio para passar a ser uma "commodity" ou porque todos o deixamos de ter e passamos a ser atendidos por marcação ou por hora de chegada.
Isto é uma agulha no palheiro. Mas é uma agulha que está espetada em boa parte da população e legitima a má imagem dos serviços de saúde. Por vezes bastam pequenas mudanças para fazer grandes progressos.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Vacinas para o lixo
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Privatizar
Muito se tem discutido nas últimas décadas sobre qual o papel do estado na economia, nomeadamente no que diz respeito ao modelo de intervenção no tecido económico. Há quem defenda a liberalização absoluta das funções produtiva e de serviços, há quem defenda a manutenção de sectores chave no jugo público e há quem defenda um modelo misto ou até conjuntural, assegurando serviços específicos ou garantindo o desenvolvimento de produtos e serviços em que se pretende efectuar uma aposta estratégica.
A crise instalada tem servido de catalizador para uma discussão mais intensa. O Ministro das Finanças anunciou um programa alargado de privatizações. Ainda há poucas semanas atrás Mário Soares fez saber que não concorda com o neoliberalismo de Pedro Passos Coelho receando que o modelo económico actual e o estado social venham a ser aniquilados. Esse receio veio a ser corroborado posteriormente por um estudo do INE que assume a existência de dois milhões de portugueses a viver no limiar da pobreza em 2005, apesar do forte apoio do estado. Ora eu não sou partidário de deitar dinheiro fora em subsídios desnecessários ou mal aplicados mas concordo que um dos papéis do estado é garantir que a sua população possa sobreviver, em primeiro lugar, e crescer, em segundo. Não faz sentido o conceito de Estado sem população, tal como não faz sentido, pelo menos para mim, a existência de um estado que privilegie as classes instaladas no poder e abandone as classes marginalizadas, apenas porque não têm poder económico e são incapazes de sair de um ciclo vicioso que é tanto sua responsabilidade como responsabilidade de quem detém o poder, ou não fossem estes últimos os principais interessados na manutenção do status quo. Ainda não foi há muitos meses que um ministro das finanças foi para o exterior vender a ideia de que é bom investir em Portugal porque temos salários baixos! É preciso contenção mas também é preciso critério.
Trago este tema à baila porque a primeira iniciativa deste governo foi anunciar a privatização da grande maioria das empresas públicas. Aliás, o tema já estivera em cima da mesa na recente campanha eleitoral e não é surpresa nenhuma. Nessa altura, todos os quadrantes políticos rapidamente se prontificaram a desenhar as posições que mais os favorecessem junto das suas clientelas sem que tal significasse um prejuízo político no imediato. O Partido Comunista, como habitualmente, manifestou-se contra qualquer tentativa de privatização, passando e repassando a velha e gasta cassete de sempre. Não querendo glosar sobre a razão, ou falta dela, que os comunistas possam ter, acredito que nem eles próprios sabem porque não querem privatizar. Jerónimo de Sousa, no máximo da sua capacidade de eloquência, avisava que a direita queria tirar a “chicha” e deixar os ossos, referindo-se à suposta privatização de empresas rentáveis tais como a Galp ou a Edp. Teria razão se não estivéssemos no buraco em que estamos e que nos obriga a vender os ossinhos também, assim alguém os queira comprar.
O Partido Socialista, recém saído de uma esquerda muito endireitada e desnorteada, avançou e recuou nas privatizações e não tinha muito a dizer sobre o assunto a não ser manter-se na posição dúbia que lhe garantisse passar um pouco despercebido entre as gotas de água e evitar perder mais votos. Parece-me que o governo socialista foi defensor das privatizações mas esteve sempre refém de pressões várias que as impossibilitaram. Curiosamente, acabaram por ver-se "obrigados" a nacionalizar um banco quando se viu a crise financeira prestes a fazer a sua primeira vítima em Portugal (ou assim o comunicou o governo socialista).
O PSD, e principalmente o apagado candidato Passos Coelho, na expectativa de aproveitar a onda negativa que afogou Sócrates, tratou de medir o pulso ao eleitorado, testando o grau de liberdade permitido pela crise. Os barões do partido e outros clientes afiavam os dentes e salivavam com as privatizações da Caixa Geral de Depósitos e com a Galp e os espanhóis com a Edp. Aos eleitores apenas interessava o combate à corrupção e a privatização pareceu uma boa maneira de o fazer, pelo que legitimaram com o voto a pretensa social-democrata de utilizar a crise para privatizar.
Em boa verdade, neste momento não há uma alternativa melhor para as privatizações por causa das necessidades financeiras do estado, pelos compromissos assumidos, pela máquina pesada que se encontra em andamento. Aliás, se adoptarmos uma perspectiva histórica, de muito longo prazo, não há uma solução única e tudo passa a ser conjuntural. Num momento faz sentido nacionalizar, noutro fará sentido privatizar. Sobretudo há que decidir qual é o papel do estado ou qual é o seu papel num determinado momento. Não sou especialista em história político-económica mas, olhando para trás, talvez as nacionalizações tenham permitido diminuir o desemprego e aumentar, por esse meio o rendimento da população. Só que um dos efeitos colaterais foi o aumento da corrupção, da injustiça e a promoção da incompetência nos quadros do Estado. Hoje, é possível que a crise promova a adopção de medidas de maior eficiência económica e que se liberte a função estatal das garras dos incompetentes, pelo menos, já que estou menos confiante no que diz respeito aos corruptos. Quero, porém, acreditar que um governo com tanta gente fora do radar político possa fazer um bom trabalho também nessa área.
Sou da opinião que o Estado deve minimizar a sua intervenção directa no meio produtivo pela única razão de estar demonstrado que o Estado (ainda) não sabe gerir com eficiência e depois somos nós, contribuintes, que temos que colmatar os desvarios cometidos, de que são exemplo a Rtp, a Refer e a Cp, através de impostos mais pesados. Destas ineficiências há uma que é particularmente obnóxia e que passa pela contratação de amigos para cargos dirigentes, cargos esses, muitas vezes criados à medida. Não só se esbanja muito dinheiro nas mordomias como também se gasta ou perde dinheiro pela incompetência dos actos de gestão. Parece-me que esta razão é suficiente para que o governo tenha carta branca para proceder às privatizações e vai ser-lhe dada pelos portugueses exactamente por que o papel social do Estado deve existir para os necessitados e não para os amigos. Dito isto, acho que o Estado deve sofrer um emagrecimento considerável mas não ser sangrado até à morte. Os serviços que constituem a razão de ser do Estado devem ser mantidos na esfera pública. Refiro-me à Saúde, à Justiça, à Educação e ao Apoio Social. Adicionalmente não gostaria de ver a Caixa Geral de Depósitos privatizada porque me parece importante manter o bastião financeiro português sob o controlo do Estado, especialmente em momentos de crise, como o que atravessamos.
Os dados estão lançados. Esperemos que o Governo tenha o bom senso de não querer ser mais papista que o papa e não proceda a uma liberalização demasiado extensa para o nosso próprio bem.
A crise instalada tem servido de catalizador para uma discussão mais intensa. O Ministro das Finanças anunciou um programa alargado de privatizações. Ainda há poucas semanas atrás Mário Soares fez saber que não concorda com o neoliberalismo de Pedro Passos Coelho receando que o modelo económico actual e o estado social venham a ser aniquilados. Esse receio veio a ser corroborado posteriormente por um estudo do INE que assume a existência de dois milhões de portugueses a viver no limiar da pobreza em 2005, apesar do forte apoio do estado. Ora eu não sou partidário de deitar dinheiro fora em subsídios desnecessários ou mal aplicados mas concordo que um dos papéis do estado é garantir que a sua população possa sobreviver, em primeiro lugar, e crescer, em segundo. Não faz sentido o conceito de Estado sem população, tal como não faz sentido, pelo menos para mim, a existência de um estado que privilegie as classes instaladas no poder e abandone as classes marginalizadas, apenas porque não têm poder económico e são incapazes de sair de um ciclo vicioso que é tanto sua responsabilidade como responsabilidade de quem detém o poder, ou não fossem estes últimos os principais interessados na manutenção do status quo. Ainda não foi há muitos meses que um ministro das finanças foi para o exterior vender a ideia de que é bom investir em Portugal porque temos salários baixos! É preciso contenção mas também é preciso critério.
Trago este tema à baila porque a primeira iniciativa deste governo foi anunciar a privatização da grande maioria das empresas públicas. Aliás, o tema já estivera em cima da mesa na recente campanha eleitoral e não é surpresa nenhuma. Nessa altura, todos os quadrantes políticos rapidamente se prontificaram a desenhar as posições que mais os favorecessem junto das suas clientelas sem que tal significasse um prejuízo político no imediato. O Partido Comunista, como habitualmente, manifestou-se contra qualquer tentativa de privatização, passando e repassando a velha e gasta cassete de sempre. Não querendo glosar sobre a razão, ou falta dela, que os comunistas possam ter, acredito que nem eles próprios sabem porque não querem privatizar. Jerónimo de Sousa, no máximo da sua capacidade de eloquência, avisava que a direita queria tirar a “chicha” e deixar os ossos, referindo-se à suposta privatização de empresas rentáveis tais como a Galp ou a Edp. Teria razão se não estivéssemos no buraco em que estamos e que nos obriga a vender os ossinhos também, assim alguém os queira comprar.
O Partido Socialista, recém saído de uma esquerda muito endireitada e desnorteada, avançou e recuou nas privatizações e não tinha muito a dizer sobre o assunto a não ser manter-se na posição dúbia que lhe garantisse passar um pouco despercebido entre as gotas de água e evitar perder mais votos. Parece-me que o governo socialista foi defensor das privatizações mas esteve sempre refém de pressões várias que as impossibilitaram. Curiosamente, acabaram por ver-se "obrigados" a nacionalizar um banco quando se viu a crise financeira prestes a fazer a sua primeira vítima em Portugal (ou assim o comunicou o governo socialista).
O PSD, e principalmente o apagado candidato Passos Coelho, na expectativa de aproveitar a onda negativa que afogou Sócrates, tratou de medir o pulso ao eleitorado, testando o grau de liberdade permitido pela crise. Os barões do partido e outros clientes afiavam os dentes e salivavam com as privatizações da Caixa Geral de Depósitos e com a Galp e os espanhóis com a Edp. Aos eleitores apenas interessava o combate à corrupção e a privatização pareceu uma boa maneira de o fazer, pelo que legitimaram com o voto a pretensa social-democrata de utilizar a crise para privatizar.
Em boa verdade, neste momento não há uma alternativa melhor para as privatizações por causa das necessidades financeiras do estado, pelos compromissos assumidos, pela máquina pesada que se encontra em andamento. Aliás, se adoptarmos uma perspectiva histórica, de muito longo prazo, não há uma solução única e tudo passa a ser conjuntural. Num momento faz sentido nacionalizar, noutro fará sentido privatizar. Sobretudo há que decidir qual é o papel do estado ou qual é o seu papel num determinado momento. Não sou especialista em história político-económica mas, olhando para trás, talvez as nacionalizações tenham permitido diminuir o desemprego e aumentar, por esse meio o rendimento da população. Só que um dos efeitos colaterais foi o aumento da corrupção, da injustiça e a promoção da incompetência nos quadros do Estado. Hoje, é possível que a crise promova a adopção de medidas de maior eficiência económica e que se liberte a função estatal das garras dos incompetentes, pelo menos, já que estou menos confiante no que diz respeito aos corruptos. Quero, porém, acreditar que um governo com tanta gente fora do radar político possa fazer um bom trabalho também nessa área.
Sou da opinião que o Estado deve minimizar a sua intervenção directa no meio produtivo pela única razão de estar demonstrado que o Estado (ainda) não sabe gerir com eficiência e depois somos nós, contribuintes, que temos que colmatar os desvarios cometidos, de que são exemplo a Rtp, a Refer e a Cp, através de impostos mais pesados. Destas ineficiências há uma que é particularmente obnóxia e que passa pela contratação de amigos para cargos dirigentes, cargos esses, muitas vezes criados à medida. Não só se esbanja muito dinheiro nas mordomias como também se gasta ou perde dinheiro pela incompetência dos actos de gestão. Parece-me que esta razão é suficiente para que o governo tenha carta branca para proceder às privatizações e vai ser-lhe dada pelos portugueses exactamente por que o papel social do Estado deve existir para os necessitados e não para os amigos. Dito isto, acho que o Estado deve sofrer um emagrecimento considerável mas não ser sangrado até à morte. Os serviços que constituem a razão de ser do Estado devem ser mantidos na esfera pública. Refiro-me à Saúde, à Justiça, à Educação e ao Apoio Social. Adicionalmente não gostaria de ver a Caixa Geral de Depósitos privatizada porque me parece importante manter o bastião financeiro português sob o controlo do Estado, especialmente em momentos de crise, como o que atravessamos.
Os dados estão lançados. Esperemos que o Governo tenha o bom senso de não querer ser mais papista que o papa e não proceda a uma liberalização demasiado extensa para o nosso próprio bem.
domingo, 17 de julho de 2011
quinta-feira, 7 de julho de 2011
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Nobre - o cometa político
Fernando Nobre teve o primeiro efeito cometa da política portuguesa da minha geração. Tão depressa chegou como partiu.
Tal como um verdadeiro cometa, Nobre namorou um planeta socialista mas acabou por se aproximar demasiado do planeta social democrata, atraído pela sua "maior gravidade", esquecendo-se que os cometas são normalmente capturados e destruídos pela atmosfera desses planetas, mesmo que também eles sofram mossa e ganhem crateras na sua superfície.
Nobre aparece ou reaparece na cena política num momento delicado para o país. Surgiu no encalço de umas eleições onde o candidato de direita estava eleito, a esquerda não tinha alternativa e deixou o poeta-desastre finalmente candidatar-se para o queimar de uma vez por todas, um pouco o que tinham feito a Soares uns anos antes, pela mesma ocasião.
Por ter aparecido do nada político foi aclamado por uma faixa considerável da população jovem, principalmente de esquerda mas não exclusivamente, instruída, esclarecida e aborrecida com a política e com os políticos de então. Perdeu as eleições como era esperado mas ganhou credibilidade suficiente para se poder colocar no espaço de maior crescimento na política nacional - o da abstenção. E foi com esta não-derrota que Nobre (se) perdeu. Porque se esqueceu que quem votou nele o fez porque ele não pertencia ao mundo da política. E quando se alia a Pedro Passos Coelho e, principalmente, devido à forma como essa aliança foi comunicada, acabou por alienar completamente a sua base de apoio, quase levando com ele o próprio Passos. Aliás, não tivesse Passos uma conjuntura tão desequilibradamente favorável e a história seria outra.
Entretanto, os deputados profissionais, aqueles que não passam de yes men ou que estão há anos nas preguiçosas cadeiras da Assembleia e utilizam os partidos políticos como feudos, despeitados pela afronta de terem que se sujeitar a alguém que não utilizou habilidades nem escalou compadrios para chegar onde chegou, apressaram-se a capitalizar a evidente fragilidade de Nobre nos tortuosos caminhos da política bem como a dissonância da aliança vencedora das eleições no que à sua eleição dizia respeito e trucidaram-no completamente, num assassinato político de que não há memória em Portugal. A vingança serve-se fria, dirão os deputados do partido socialista. Eis a vingança como forma de fazer política e eis o magnífico exemplo que nos dão os nossos iluminados representantes! Até José Seguro, que não terá muita coisa de interesse para dizer, veio zurzir no defunto, por ter abandonado o seu posto de deputado.
Em virtude do comportamento da Assembleia, Nobre ficou sem opções. Ou se mantinha por lá a vegetar como boa parte dos seus (ex-)colegas sem que pudesse realmente ter um impacto onde quer que fosse ou se demitia. Demitiu-se e assumiu o único acto que, na minha opinião, lhe permitiu manter a dignidade, demonstrando que não era o dinheiro (ou a inexplicável pensão a que os políticos têm direito) que o movia a assumir o papel de deputado mas sim um espírito de missão. Missão essa que lhe não seria permitida pelo aparelho social-democrata. Quantos dos outros poderão bater com a mão no peito e afirmar o mesmo?
Tal como um verdadeiro cometa, Nobre namorou um planeta socialista mas acabou por se aproximar demasiado do planeta social democrata, atraído pela sua "maior gravidade", esquecendo-se que os cometas são normalmente capturados e destruídos pela atmosfera desses planetas, mesmo que também eles sofram mossa e ganhem crateras na sua superfície.
Nobre aparece ou reaparece na cena política num momento delicado para o país. Surgiu no encalço de umas eleições onde o candidato de direita estava eleito, a esquerda não tinha alternativa e deixou o poeta-desastre finalmente candidatar-se para o queimar de uma vez por todas, um pouco o que tinham feito a Soares uns anos antes, pela mesma ocasião.
Por ter aparecido do nada político foi aclamado por uma faixa considerável da população jovem, principalmente de esquerda mas não exclusivamente, instruída, esclarecida e aborrecida com a política e com os políticos de então. Perdeu as eleições como era esperado mas ganhou credibilidade suficiente para se poder colocar no espaço de maior crescimento na política nacional - o da abstenção. E foi com esta não-derrota que Nobre (se) perdeu. Porque se esqueceu que quem votou nele o fez porque ele não pertencia ao mundo da política. E quando se alia a Pedro Passos Coelho e, principalmente, devido à forma como essa aliança foi comunicada, acabou por alienar completamente a sua base de apoio, quase levando com ele o próprio Passos. Aliás, não tivesse Passos uma conjuntura tão desequilibradamente favorável e a história seria outra.
Entretanto, os deputados profissionais, aqueles que não passam de yes men ou que estão há anos nas preguiçosas cadeiras da Assembleia e utilizam os partidos políticos como feudos, despeitados pela afronta de terem que se sujeitar a alguém que não utilizou habilidades nem escalou compadrios para chegar onde chegou, apressaram-se a capitalizar a evidente fragilidade de Nobre nos tortuosos caminhos da política bem como a dissonância da aliança vencedora das eleições no que à sua eleição dizia respeito e trucidaram-no completamente, num assassinato político de que não há memória em Portugal. A vingança serve-se fria, dirão os deputados do partido socialista. Eis a vingança como forma de fazer política e eis o magnífico exemplo que nos dão os nossos iluminados representantes! Até José Seguro, que não terá muita coisa de interesse para dizer, veio zurzir no defunto, por ter abandonado o seu posto de deputado.
Em virtude do comportamento da Assembleia, Nobre ficou sem opções. Ou se mantinha por lá a vegetar como boa parte dos seus (ex-)colegas sem que pudesse realmente ter um impacto onde quer que fosse ou se demitia. Demitiu-se e assumiu o único acto que, na minha opinião, lhe permitiu manter a dignidade, demonstrando que não era o dinheiro (ou a inexplicável pensão a que os políticos têm direito) que o movia a assumir o papel de deputado mas sim um espírito de missão. Missão essa que lhe não seria permitida pelo aparelho social-democrata. Quantos dos outros poderão bater com a mão no peito e afirmar o mesmo?
quinta-feira, 16 de junho de 2011
domingo, 5 de junho de 2011
A grande incógnita
Ora aí estão as eleições, finalmente! Talvez agora possamos ter algum sossego e talvez os políticos possam voltar a trabalhar para o país e não para os partidos.
Os portugueses escolheram mudar e castigaram o Partido Socialista e, acima de tudo, Sócrates, pelo desvario dos últimos anos. Apesar da excelente máquina socialista ter conseguido mobilizar os socialistas, acho que Sócrates perdeu totalmente o eleitorado móvel e que decide as votações, aqueles que se encontram no centro, aqueles que não têm ideologia e aqueles que não olham para os partidos como um clube de futebol, o qual temos que defender sempre e em qualquer situação.
Agora é a vez de Pedro Passos Coelho, a grande incógnita, de se afirmar enquanto líder desta nação deprimida. Não acho que PPC seja um bom líder, não acho que ele tenha passado por provas na vida que justifiquem algumas das atitudes que toma e não estou confortável com a ligação visceral a Ângelo Correia, o barão que lhe deu colinho desde tenra idade. Contudo, acho que PPC tem o crédito de quem parte do zero, tem uma folha limpa para fazer o que quiser, inclusivé mudar a política e a opinião do povo relativamente aos políticos. A ver vamos se consegue. Os primeiros indicadores não são, especialmente, animadores e, para já, enfrenta o maior desafio que o país conheceu nas últimas décadas. Para bem de todos nós, espero que tenha sorte e competência, não necessariamente por esta ordem.
Como nota de rodapé, o CDS acabou por não ter uma expressão tão grande quanto a que receei poder vir a obter e poder causar ainda mais pressão sobre um futuro governo. Ainda assim, lá estarão esses senhores, preparados para encher novamente os bolsos como da última vez... há que aproveitar estes momentos! Da nossa parte resta-nos aguardar por novos gastos nas forças armadas na manutenção de um sub-sector do funcionalismo público que está sobredimensionado e sobrevalorizado.
Os portugueses escolheram mudar e castigaram o Partido Socialista e, acima de tudo, Sócrates, pelo desvario dos últimos anos. Apesar da excelente máquina socialista ter conseguido mobilizar os socialistas, acho que Sócrates perdeu totalmente o eleitorado móvel e que decide as votações, aqueles que se encontram no centro, aqueles que não têm ideologia e aqueles que não olham para os partidos como um clube de futebol, o qual temos que defender sempre e em qualquer situação.
Agora é a vez de Pedro Passos Coelho, a grande incógnita, de se afirmar enquanto líder desta nação deprimida. Não acho que PPC seja um bom líder, não acho que ele tenha passado por provas na vida que justifiquem algumas das atitudes que toma e não estou confortável com a ligação visceral a Ângelo Correia, o barão que lhe deu colinho desde tenra idade. Contudo, acho que PPC tem o crédito de quem parte do zero, tem uma folha limpa para fazer o que quiser, inclusivé mudar a política e a opinião do povo relativamente aos políticos. A ver vamos se consegue. Os primeiros indicadores não são, especialmente, animadores e, para já, enfrenta o maior desafio que o país conheceu nas últimas décadas. Para bem de todos nós, espero que tenha sorte e competência, não necessariamente por esta ordem.
Como nota de rodapé, o CDS acabou por não ter uma expressão tão grande quanto a que receei poder vir a obter e poder causar ainda mais pressão sobre um futuro governo. Ainda assim, lá estarão esses senhores, preparados para encher novamente os bolsos como da última vez... há que aproveitar estes momentos! Da nossa parte resta-nos aguardar por novos gastos nas forças armadas na manutenção de um sub-sector do funcionalismo público que está sobredimensionado e sobrevalorizado.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Rugas
O tempo conta-se pelas rugas
desfiladeiros secos p'la erosão desfiados.
Abismos os olhos, abismados
postigos profundos, contemplados
e submersos, rios de lágrimas efundos.
Os cantos da boca recurvados
arredondam o tempo ao mundo.
Contam mudos o tempo,
sem paladar, minutos que passam
entre os que conseguem contar.
Palmas trémulas abertas em leque.
Suspensas num futuro anunciado
por linhas cada vez mais curtas
do fantoche que fomos,
do pouco que nos resta.
Passam-se os dias ao ritmo dos ais,
Que a idade é oca
e a memória é saudade
gravada nas rugas.
sábado, 28 de maio de 2011
Tumultos em comício do PS
Eis um bom exemplo de palhaçada e intriga que descreve na perfeição a baixeza da política e dos políticos. O Comício do PS foi "abalado" por um cidadão que ousou colocar a sua voz por cima da do candidato Sócrates, acusando-o de ser o responsável pelo estado do país, manifestando o seu desagrado para com as suas políticas, medidas ou atitudes. Descontando o facto de não ser esta a forma mais correcta, talvez deva dizer antes "politicamente correcta", de interpelar um candidato ou de exercer o seu direito à manifestação ou indignação, não é a isso que eu chamo de palhaçada. Aliás, o "politicamente correcto" não é mais do que um eufemismo bacoco que se utiliza para definir um qualquer estado à margem do comportamento social estandardizado, que impede a mudança do status quo. O espaço que se encontra fora dessa expressão é o espaço dos mais marginalizados, dos que não têm voz nem tempo de antena, dos que não têm meios, nem força, nem visibilidade, dos que não conhecem ninguém no Centro de Saúde, na Câmara Municipal ou Junta de Freguesia, que não conhecem nenhum médico ortopedista, nem têm um amigo nas Finanças, na Segurança Social ou na Loja do Cidadão, muito menos num partido político. Por isso mesmo, recuso-me a criticar alguém que encontrou uma maneira de fazer ouvir a sua indignação, de nos fazer sentir, quiçá, uma pequena medida de algum desespero, porque como ele, muitos outros há, resguardados em cantos e recantos, estradas e valetas.
A palhaçada encontro-a na reacção do candidato Sócrates e dos seus correligionários a este evento. Descartando-o como se fosse um acto de somenos importância, um pintelho de Catroga, um robalo de Vara, um deserto de Lino, uns chifres de Pinho, um palhaço de Maria Nogueira Pinto ou a tia de um qualquer deputado da oposição. Este é o país real, meus caros! Este é o país que olha para o mar e já não acredita que ele seja redondo, mas que no horizonte está o adamastor e um fosso sem fim. É vergonhoso que para se fazer política os socialistas tenham que renegar os seus valores.
A intriga política prontamente preparada pela máquina socialista é outra palhaçada, por ser inverosímil. Para que aquele acto isolado fosse um acto orquestrado pela oposição, teria que se assumir que Pedro Passos Coelho seria um estratega capaz de planear actos futuros e de os capitalizar, conforme se viessem a desenrolar. Mas... será que alguém acredita realmente nisso?
A palhaçada encontro-a na reacção do candidato Sócrates e dos seus correligionários a este evento. Descartando-o como se fosse um acto de somenos importância, um pintelho de Catroga, um robalo de Vara, um deserto de Lino, uns chifres de Pinho, um palhaço de Maria Nogueira Pinto ou a tia de um qualquer deputado da oposição. Este é o país real, meus caros! Este é o país que olha para o mar e já não acredita que ele seja redondo, mas que no horizonte está o adamastor e um fosso sem fim. É vergonhoso que para se fazer política os socialistas tenham que renegar os seus valores.
A intriga política prontamente preparada pela máquina socialista é outra palhaçada, por ser inverosímil. Para que aquele acto isolado fosse um acto orquestrado pela oposição, teria que se assumir que Pedro Passos Coelho seria um estratega capaz de planear actos futuros e de os capitalizar, conforme se viessem a desenrolar. Mas... será que alguém acredita realmente nisso?
sábado, 21 de maio de 2011
Sopa de letras contra a crise
Dai-me sopa, senhor,
Sopa de letras!
A sopa da pedra escura, dura e bruta
já não enche como outrora
a promessa de ir mais além.
E cada pegada paga
sedimentou a imobilidade
desta nossa alma aziaga.
Educai-me p’lo estômago senhor,
dai-me sopa,
mas sopa de letras!
E um naco de pão.
Saboreai vós as estrelas
e o futuro por elas ditado
no fundo do prato.
Que a panela é vossa, senhor, sei-o bem...
Mas o suor do caldo é o meu
e nele pescarei palavras naufragadas
e, à tona, ungidas de azeite,
soarão como a extrema unção
da minha fome.
Dai-me sopa senhor,
sopa de letras!
E um naco de pão.
Letras pobres e tristes
- deixai-mas!
Mais às que colocaste na borda do prato,
agora verdadeiramente mudas.
Proscritas.
Desgovernada vai a fome
- como vós, senhor! -,
acorda-me o estômago,
em fúria.
Dai-me letras senhor,
mas não mas sopreis ao ouvido.
Afogai-as na sopa,
que eu faço do pão, jangada,
do suor, sal,
da vontade, vento,
das palavras, bandeira,
e da alma, alma!
E mais não é preciso
que um mundo redondo
e um mar sem fim
para se fazer Portugal.
Clique aqui para ler uma nota explicativa:
sexta-feira, 20 de maio de 2011
O FMI do mundo... outra vez.
Notícia do jornal Ionline
O mundo vai acabar outra vez. A chatice é que desta vez foi de um dia para o outro, o que não deixa de ser uma chatice, porque eu tenho combinado um jantar de caracóis e imperiais, o que não me parece nada adequado para uma última ceia!
Bom, a notícia acabou por ser desmentida por outro grupo, conforme se pode ler em baixo:
Grupo agnóstico e suicida anuncia o FMI do mundo em Junho. De acordo com o seu porta-voz, que se não quis identificar, o grupo de "cristãos idiotas" que anunciaram o fim do mundo para amanhã enganaram-se na data e lamenta também que se não tenham suicidado de imediato. Anunciou também que o GAS - grupo agnóstico e suicida vai suicidar-se três horas depois do FMI do mundo. Quando confrontado pelo jornalista sobre se esse hiato temporal servia para garantir que, se o mundo não acabasse, os suicídios não tivessem sido em vão, o porta-voz retorquiu que não, "as três horas servirão para que todos os membros do GAS possam contemplar convenientemente o FMI do mundo. Se se suicidassem antes, perderiam o espectáculo há tanto esperado".
O porta-voz do GAS afirmou ainda que o mundo vai ABACAR primeiro em Portugal e daí, em terramotos sucessivos, vai alastrar-se ao resto do mundo, seguindo mais ou menos pela A6 até à fronteira e em direcção a Madrid.
"Se alguém se quiser juntar a nós para se suicidar e comemorar o FMI do mundo basta que faça uma transferência de 1500 euros para a nossa conta e que venha às reuniões preparatórias em São Bento. Com essa transferência tem direito a duas doses de cianeto, uma caixa de seis pastéis de Belém, uma ginginha, uma mantinha para o chão e uns óculos de sol por causa da luz branca que se costuma ver ao morrer" - afirmou Zé Carlos.
- in jornal I diota.
O mundo vai acabar outra vez. A chatice é que desta vez foi de um dia para o outro, o que não deixa de ser uma chatice, porque eu tenho combinado um jantar de caracóis e imperiais, o que não me parece nada adequado para uma última ceia!
Bom, a notícia acabou por ser desmentida por outro grupo, conforme se pode ler em baixo:
Grupo agnóstico e suicida anuncia o FMI do mundo em Junho. De acordo com o seu porta-voz, que se não quis identificar, o grupo de "cristãos idiotas" que anunciaram o fim do mundo para amanhã enganaram-se na data e lamenta também que se não tenham suicidado de imediato. Anunciou também que o GAS - grupo agnóstico e suicida vai suicidar-se três horas depois do FMI do mundo. Quando confrontado pelo jornalista sobre se esse hiato temporal servia para garantir que, se o mundo não acabasse, os suicídios não tivessem sido em vão, o porta-voz retorquiu que não, "as três horas servirão para que todos os membros do GAS possam contemplar convenientemente o FMI do mundo. Se se suicidassem antes, perderiam o espectáculo há tanto esperado".
O porta-voz do GAS afirmou ainda que o mundo vai ABACAR primeiro em Portugal e daí, em terramotos sucessivos, vai alastrar-se ao resto do mundo, seguindo mais ou menos pela A6 até à fronteira e em direcção a Madrid.
"Se alguém se quiser juntar a nós para se suicidar e comemorar o FMI do mundo basta que faça uma transferência de 1500 euros para a nossa conta e que venha às reuniões preparatórias em São Bento. Com essa transferência tem direito a duas doses de cianeto, uma caixa de seis pastéis de Belém, uma ginginha, uma mantinha para o chão e uns óculos de sol por causa da luz branca que se costuma ver ao morrer" - afirmou Zé Carlos.
- in jornal I diota.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Sócrates aponta ao Óscar (novamente)
A propósito da Taça Europa disputada em Dublin, o que é que o Governo demissionário socialista e as irlandesas têm em comum?
Os quilos de maquilhagem.
Fiquei estupefacto com o comício de ontem do Partido Socialista, onde a encenação assume contornos 'hollywoodescos', com direito a olhos aguados e a cenas de martírio e sofrimento causado por esse bandido - a oposição - e pelos enxovalhos atirados sobre o programa das Novas Oportunidades.
Ver Sócrates a fingir a iminência de uma lágrima deixa-me a mim profundamente emocionado. Só não chorei porque estava com as lentes hidrófilas postas e era uma chatice ficar com as lentes a navegar livremente na retina, para além de poder sofrer danos permanentes na vista e correr o risco de não poder votar convenientemente.
Temos, portanto, cosmética na cara, nas contas do estado, nas contas pessoais, nos comícios, nos comunicados ao país e também na qualificação - na dele e na dos outros.
No que diz respeito às Novas Oportunidades, é bem verdade que é um programa criado para disfarçar a sub-qualificação do nosso país, mas também é verdade que serve outros propósitos, bem mais positivos, tais como permitir que certos indivíduos possam recuperar o atraso no ensino, possam concorrer em igualdade de circunstâncias com outros para cargos públicos ou possam recuperar o amor-próprio, perdido nas vicissitudes da vida.
Tenho pena que instrumentalizem, uns e outros, uma iniciativa que, estando longe de ser perfeita, sempre teve algo de positivo. Ao utilizarem a medida como arma de arremesso, Governo e oposição não fizeram mais do que manchar o esforço legítimo dos que utilizaram correctamente esta oportunidade.
Os quilos de maquilhagem.
Fiquei estupefacto com o comício de ontem do Partido Socialista, onde a encenação assume contornos 'hollywoodescos', com direito a olhos aguados e a cenas de martírio e sofrimento causado por esse bandido - a oposição - e pelos enxovalhos atirados sobre o programa das Novas Oportunidades.
Ver Sócrates a fingir a iminência de uma lágrima deixa-me a mim profundamente emocionado. Só não chorei porque estava com as lentes hidrófilas postas e era uma chatice ficar com as lentes a navegar livremente na retina, para além de poder sofrer danos permanentes na vista e correr o risco de não poder votar convenientemente.
Temos, portanto, cosmética na cara, nas contas do estado, nas contas pessoais, nos comícios, nos comunicados ao país e também na qualificação - na dele e na dos outros.
No que diz respeito às Novas Oportunidades, é bem verdade que é um programa criado para disfarçar a sub-qualificação do nosso país, mas também é verdade que serve outros propósitos, bem mais positivos, tais como permitir que certos indivíduos possam recuperar o atraso no ensino, possam concorrer em igualdade de circunstâncias com outros para cargos públicos ou possam recuperar o amor-próprio, perdido nas vicissitudes da vida.
Tenho pena que instrumentalizem, uns e outros, uma iniciativa que, estando longe de ser perfeita, sempre teve algo de positivo. Ao utilizarem a medida como arma de arremesso, Governo e oposição não fizeram mais do que manchar o esforço legítimo dos que utilizaram correctamente esta oportunidade.
sábado, 14 de maio de 2011
Solo
Foram teus os meus primeiros passos
titubeantes.
Dei-tos à força
p'la força da Lei
que nos atrai.
Se te pressiono
é porque me amas.
Tacteio-te,
suspenso como Babilónia em flor.
Também Amitis foi solo de Nabucodonosor,
um jardim impenetrável
que aproximou nações.
Solo admirável de arreigadas fundações,
gravito inexoravelmente para ti.
Se te pressiono
é porque me suportas
e recebes as minhas pegadas
como um colo.
Levas-me tu e eu deixo-me levar...
Marco-te com o ferro dos meus cascos
e anuncio-te meu.
Tu apenas deixas o tempo escorrer
p'lo barro que fende,
um corpo que desce,
uma alma que ascende.
Se te pressiono
é porque me aceitas
e guardas no teu passado o meu rasto,
guardarás depois também o rosto.
Um pouco de mim fica para o próximo,
o restante para os restantes
mas não agora, não já.
Leva-me, que eu deixo-me levar.
titubeantes.
Dei-tos à força
p'la força da Lei
que nos atrai.
Se te pressiono
é porque me amas.
Tacteio-te,
suspenso como Babilónia em flor.
Também Amitis foi solo de Nabucodonosor,
um jardim impenetrável
que aproximou nações.
Solo admirável de arreigadas fundações,
gravito inexoravelmente para ti.
Se te pressiono
é porque me suportas
e recebes as minhas pegadas
como um colo.
Levas-me tu e eu deixo-me levar...
Marco-te com o ferro dos meus cascos
e anuncio-te meu.
Tu apenas deixas o tempo escorrer
p'lo barro que fende,
um corpo que desce,
uma alma que ascende.
Se te pressiono
é porque me aceitas
e guardas no teu passado o meu rasto,
guardarás depois também o rosto.
Um pouco de mim fica para o próximo,
o restante para os restantes
mas não agora, não já.
Leva-me, que eu deixo-me levar.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Testemunho - 25 Abril
Nasci em Fevereiro de 1975, um pouco antes da revolução dos cravos. Não a vivi, não estava em Portugal. Contudo, mesmo que por aqui tivesse nascido, de tão imberbe que era, não me iria recordar de nada. Por isso, cresci num país “livre” sem disso tomar conta e sem perceber a importância do que tal representa. Escrevi a palavra livre entre aspas, não porque duvide da nossa liberdade mas porque há diversas liberdades ou diversos graus de liberdade e nunca seremos verdadeiramente livres, como nos recordam o FMI e os nossos mal-amados governantes. Porém, livres somos! Tão livres que podemos optar por perder essa liberdade quando deixamos de votar, quando deixamos que outros escolham por nós. Somos livres até de escolher o cárcere.
Esta espécie de liberdade, conquistada sem sangue, alguns dizem-no por acaso, outros por conjuntura, outros ainda por formatação cultural, criou um povo que não percebeu a dor da conquista, apenas saboreou o seu sucesso e, acredito eu, em boa parte dos casos é essa a razão pela qual somos um povo mimado e indolente e que espera que tudo se resolva por si próprio, com o passar do tempo.
Para mim, o 25 de Abril não foi um marco importante da minha vida porque o não vivi mas, se me perguntarem pela sua importância, a minha resposta não soaria falsa ou hesitante porque em casa de meu pai sempre houve uma consciência política apurada, já a houvera em casa de meu avô, e as consequências da falta de liberdade foram por ambos sentidas na pele, de forma literal no caso do meu avô. Desconfio, porém, que não será esse o caso da maioria das casas e das pessoas e o que ficou da revolta dos cravos foi um reforço do laxismo e do facilitismo, dos quais a corrupção é filho primogénito. E se aqueles que viveram a conquista da liberdade quiseram viver num repente aquilo de que se viram privados e, por isso, resvalaram muitas vezes para caminhos esconsos e pantanosos, já os próximos serão potencialmente piores (alguns já o estão a ser), porque nasceram num mundo onde puderam exercer a sua liberdade sem perceberem que a liberdade sem sangue também custou a ganhar e que deve ter limites auto-impostos para que se não atropelem as liberdades dos outros. Temo que continuem a ser estes os ingredientes das próximas gerações. Temo que a invasão do FMI, a nosso pedido, não seja o suficiente para espicaçar o orgulho nacional. Temo que o orgulho nacional não exista e tenha sido substituído inapelavelmente pelo interesse individual. Temo que a ética tenha ficado ferida de morte e sepultada debaixo dos cravos de Abril.
Costumamos alardear que, quando é preciso, os portugueses inventam soluções e conseguem dar a volta por cima. Pois bem, é chegado um desses momentos.
Celebremos Abril hoje.
Comecemos Abril amanhã.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Factos e Comentários
Facto: Teixeira dos Santos não foi inscrito nas listas que concorrem às próximas eleições.
Comentário: Será que a notícia do Expresso tem um fundo de verdade e que se verificou um desentendimento entre Sócrates e o Ministro das Finanças ou será que é uma estratégia política que pretende apenas retirar visibilidade a um elemento muito desgastado neste executivo do PS? Perdoem-me a ignorância mas não é verdade que que um ministro é convidado pelo primeiro ministro e não tem que estar necessariamente numa lista? Se for o caso, o homem até pode renascer das cinzas sem prejudicar o PS nas próximas eleições!
Facto: Capucho, Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, entre outros, disseram não a Pedro Passos Coelho.
Comentário: Será que o que parece um facto negativo, resultado de uma falta de liderança que eu acredito que PPC tem, não acabará por ser um facto positivo? O facto de não ter certos barões nas suas listas pode prejudicá-lo nas eleições mas também lhe permite criar listas com sangue novo, possivelmente ainda descontaminado (como se eu acreditasse nisso...).
Facto: O convite a Fernando Nobre foi o maior tiro no pé até agora do líder social-democrata, porque foi mal gerido quer por Pedro Passos Coelho quer por Fernando Nobre.
Comentário: Fernando Nobre muito provavelmente acabou de perder todo o crédito político que ganhara nas últimas eleições como figura independente e, arrisco-me a dizer que se não for eleito Presidente da Assembleia da República, acabámos de assistir a um suicídio político. Pedro Passos Coelho conseguiu transformar um ás de trunfo num duque por não perceber que o convite efectuado teria que ser comunicado à população para que a sua pretensa estratégia de pluralidade fosse entendida como tal e não como veio a ser percebida por todos. A Sócrates, quase que basta ficar quieto para ganhar as próximas eleições, tal como as últimas sondagens sugerem...
Facto: O responsável do FMI para a negociação com Portugal é apelidado de "olhos azuis" pelos meios televisivos porque alguém em Dublin ou Atenas assim o chamou.
Comentário: Imaginem que tinham antes escolhido outro dos epítetos com que vulgarmente ambos os povos o brindaram... seria publicável? Na realidade fico um pouco estupefacto com este apelido. Será que agora vão passar a referir-se a Sócrates como o "pencas" ou ao Portas como o "dentes brancos"?
Facto: Telmo Ferreira, ex-concorrente do Big-Brother e bronco a tempo inteiro, é um dos elementos da lista do PS à Câmara Municipal de Leiria.
Comentário: Ainda que não esteja em lugar elegível, tenho pena que não tenham optado antes pelo Marco... sempre podia dar um pontapé na crise...
terça-feira, 19 de abril de 2011
Faremos Isto Mudar
Quando estamos mais vulneráveis física e emocionalmente podemos ser tomados por memes virais, em que ideias simples (e simplórias) para a resolução de problemas complexos se tornam extremamente apelativas para o ser humano. É por isso que existem suicídios em massa, bombistas que se explodem num autocarro ou se adoptam ideais como o nazismo.
Estamos a atravessar um momento de grande vulnerabilidade económica e psicológica. O nosso ego está em baixo, as carteiras vazias, as perspectivas enevoadas.
Ainda assim, é preciso respirar fundo e pensar que nem o FIM do mundo está ao virar da esquina, nem o FMI vai ser o salvador da pátria.
Hungria -país de doidos?
Então agora há quem defenda, na Hungria, que as mães de filhos menores tenham direito a votar duas vezes, com a argumentação de que ninguém está a preocupar-se com o futuro dos jovens.
Se as mães soubessem o que fazer, o problema do futuro dos jovens nem se colocava! E não eram precisos dois votos...
E desde quando as mães percebem mais de política que os pais?!
Ai Cavaco, Cavaco, triste música a tua
retirado de iOnline:
Cavaco diz que sabe "muito bem quando deve falar em público"
É uma pena, digo eu, que não saiba falar muito bem...
Evento Sushial VI
Finalmente o sexto evento sushial, o último do ciclo das promessas!
Desta vez experimentámos os cogumelos shitake e a omolete dentro dos rolos, para além das ovas pretas de peixe voador. Além disso, voltámos a utilizar o rábano, que já não encontrava há algum tempo... finalmente encontrei o supermercado chinês com este vegetal.
Tive pena que a anfitriã não possa ter comido por indisposição mas, lá que fez um bom trabalho na confecção do sushi, lá isso fez, como o podem atestar as fotos seguintes.
O camarão voltou a figurar na ementa, também ele desaparecido há algum tempo. Continua com dificuldades de adaptação ao bolo de arroz no nigiri, mas dá sempre um aspecto bonito ao prato e sempre é mais uma coisa que pode ser comida por quem não quer peixe cru.
O camarão voltou a figurar na ementa, também ele desaparecido há algum tempo. Continua com dificuldades de adaptação ao bolo de arroz no nigiri, mas dá sempre um aspecto bonito ao prato e sempre é mais uma coisa que pode ser comida por quem não quer peixe cru.
E pronto! Acabou-se. Não quero ouvir falar de fazer sushi nos próximos meses!!!
segunda-feira, 18 de abril de 2011
O direito a escolher
Todos devemos ter o direito de escolha. Está consagrado na nossa constituição e na palavra que usamos para descrever o nosso regime político - democracia.
No entanto, tenho defendido que não temos tido este direito no que diz respeito à escolha dos nossos líderes políticos, ora porque acabamos por votar por protesto ou seja, "voto no candidato A para erradicar o candidato B", ora porque nem sequer temos uma opção plausível que possa merecer o nosso voto sem que nos envergonhemos de dobrar o papelinho em quatro.
Acredito piamente que estamos a viver, pela segunda eleição governamental consecutiva esta última situação. O Bloco de Esquerda há muito desistiu de ser um partido político sério para ser um bando de agitadores adolescentes sem eira nem beira, nem ideias, nem critério. Agora sim, parecem estar sob o efeito de alguma droga, tamanhas as asneiras e as idiotices que proclamam ou defendem. A CDU, espremida de pessoas válidas para além do líder e sempre ausente de ideias que não estejam na cartilha empoeirada da ex-União Soviética, não quer sacudir a fuligem que lhe entrou para os olhos, libertada pelo trabalho do proletariado. Está decadente e apenas protesta sem apresentar soluções. O CDS, liderado pelo melhor político da nossa praça, continua a ser um partido parasítico, sempre à espera das migalhas que caem do prato do irmão mais velho. Infelizmente, o melhor político da nossa praça também é alguém que arrasta muitas suspeitas consigo desde o caso Moderna, com as ligações à maçonaria, até aos submarinos e aos dinheiros movimentados... debaixo de águas pouco límpidas. O PSD, o partido que vai alternando o poder com o PS, continua com uma crise de liderança e corre o risco de não ter uma passada forte o suficiente para ganhar as eleições ou para liderar um país moribundo e desalentado. Passos Coelho, talvez o líder social-democrata mais fraco de que me lembro, quiçá a par do Nogueira, não inspira confiança a ninguém, nem ao próprio partido e já não deve ter dedos nos pés, tantos são os tiros. E Sócrates... bem... só mesmo Passos Coelho para fazer o mesmo número de asneiras! Só que as asneiras do "engenheiro" e dos socialistas no governo acabaram por nos enterrar definitivamente na lama financeira e estatística em que nos encontramos. Não deveria haver perdão para Sócrates mas... a questão que muitos colocam é: em quem votar então?
E para esta pergunta não tenho resposta...
A minha expectativa é a de que tudo acabe por acabar num belo cozido à portuguesa com um acordo tripartido (sim, a pseudo-coligação Bloco/PCP é irrelevante) para acompanhar a pratada de cogumelos que nos vai ser servido pela Europa do FMI, sabendo nós que temos que os engolir, mesmo estando envenenados.
domingo, 17 de abril de 2011
Evento Sushial V
Ao longo da vida vamos criando diferentes grupos de amigos pelas mais diversas razões ou ausência delas. E é verdade que há momentos em que descuramos uns grupos em favor de outros. Ainda que a amizade não se meça por números ou quantidades é importante criar situações em que possamos celebrar essa amizade em conjunto.
Este momento é desses.
Obrigado, Sónia, pela ajuda.
Obrigado a todas pela presença, pela boa disposição e por terem lavado a louça no final :)
MALDITO ARROZ que ficou mal três vezes...
Subscrever:
Mensagens (Atom)