segunda-feira, 25 de abril de 2011

Testemunho - 25 Abril


Nasci em Fevereiro de 1975, um pouco antes da revolução dos cravos. Não a vivi, não estava em Portugal. Contudo, mesmo que por aqui tivesse nascido, de tão imberbe que era, não me iria recordar de nada. Por isso, cresci num país “livre” sem disso tomar conta e sem perceber a importância do que tal representa. Escrevi a palavra livre entre aspas, não porque duvide da nossa liberdade mas porque há diversas liberdades ou diversos graus de liberdade e nunca seremos verdadeiramente livres, como nos recordam o FMI e os nossos mal-amados governantes. Porém, livres somos! Tão livres que podemos optar por perder essa liberdade quando deixamos de votar, quando deixamos que outros escolham por nós. Somos livres até de escolher o cárcere.

Esta espécie de liberdade, conquistada sem sangue, alguns dizem-no por acaso, outros por conjuntura, outros ainda por formatação cultural, criou um povo que não percebeu a dor da conquista, apenas saboreou o seu sucesso e, acredito eu, em boa parte dos casos é essa a razão pela qual somos um povo mimado e indolente e que espera que tudo se resolva por si próprio, com o passar do tempo.

Para mim, o 25 de Abril não foi um marco importante da minha vida porque o não vivi mas, se me perguntarem pela sua importância, a minha resposta não soaria falsa ou hesitante porque em casa de meu pai sempre houve uma consciência política apurada, já a houvera em casa de meu avô, e as consequências da falta de liberdade foram por ambos sentidas na pele, de forma literal no caso do meu avô. Desconfio, porém, que não será esse o caso da maioria das casas e das pessoas e o que ficou da revolta dos cravos foi um reforço do laxismo e do facilitismo, dos quais a corrupção é filho primogénito. E se aqueles que viveram a conquista da liberdade quiseram viver num repente aquilo de que se viram privados e, por isso, resvalaram muitas vezes para caminhos esconsos e pantanosos, já os próximos serão potencialmente piores (alguns já o estão a ser), porque nasceram num mundo onde puderam exercer a sua liberdade sem perceberem que a liberdade sem sangue também custou a ganhar e que deve ter limites auto-impostos para que se não atropelem as liberdades dos outros. Temo que continuem a ser estes os ingredientes das próximas gerações. Temo que a invasão do FMI, a nosso pedido, não seja o suficiente para espicaçar o orgulho nacional. Temo que o orgulho nacional não exista e tenha sido substituído inapelavelmente pelo interesse individual. Temo que a ética tenha ficado ferida de morte e sepultada debaixo dos cravos de Abril.

Costumamos alardear que, quando é preciso, os portugueses inventam soluções e conseguem dar a volta por cima. Pois bem, é chegado um desses momentos.

Celebremos Abril hoje.

Comecemos Abril amanhã.

4 comentários:

Ana Clara disse...

Celebremos Abril sempre! :)

(n)Ana disse...

Meu, 75 ou 74?
:o)

Gelo disse...

ERRATA (Nasci em Fevereiro de 1975, um pouco DEPOIS da revolução dos cravos. Não a vivi, não estava em Portugal. Contudo, mesmo que por aqui tivesse nascido NESSA ALTURA) :)

Fernando Vicente disse...

Meu 25 de Abril , que nascestes tão suave e estás a morrer tão depressa.
Estes governantes são a geração do 25 de Abril , qu encontraram tudotão facilmente do anoitecer para o amanhecer, e hoje estão a deitar tudo por terra aqul que foi conquistado com muito sacrificio , mas que eles não dão valor,penminha

Fernando Vicente