quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A força dos nomes

Uma das primeiras coisas que se ensina a quem quer escrever ficção é que um nome pode ser determinante para o sucesso de uma história. É evidente, para mim, enquanto leitor, que o nome de uma personagem pode ajudar a estabelecer a ligação entre ela e o leitor. A escolha de um "bom" nome pode, imediatamente, provocar um certo estado de espírito no leitor ou levá-lo a colar determinados traços de personalidade à personagem. Por isso, quando bem escolhido, o nome do herói ou do vilão fazem-nos acreditar que aquela personagem é boa ou má.

O primeiro livro que eu li do José Rodrigues dos Santos foi paradigmático. Um herói de ficção com um nome português não funciona para mim porque estou demasiado habituado a nomes estrangeiros ou nomes inventados. Um nome português, colado a uma nacionalidade improvável para aventuras fantásticas fez com que eu torcesse o nariz à narrativa desde o início. Pura e simplesmente não acreditei que o Tomás Noronha fosse um cientista aventureiro. Talvez acreditasse que fosse um nobre enfadado com a vida, um escritor revolucionário ou um missionário Comboniano mas nunca a personagem que Rodrigues dos Santos quis criar.

A minha dúvida é que nome poderia ter funcionado?

Em inglês, Butch pode ser o nome de um assassino, de um bruta-montes, de alguém que faz "bullying" na escola. Daisy, pode ser o nome de alguém doce, de uma menina bonita e cabeça no ar, de alguém alegre e vivaço. Matt é o nome do soldado, do tipo prático, do jovem de boa índole, etc., etc., etc...

Em português não consigo estabelecer esta ligação. Os únicos nomes que imediatamente funcionam, quando usados em conjunto, são "Cátia" e "Vanessa". Quem é o Manuel? Quem é o João? Quem é a Ana, ou a Cristina?

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