terça-feira, 27 de setembro de 2011

Soberba - 5º do ciclo dos sete pecados mortais


Se eu desviar o olhar
onde te vais agarrar?
Mergulhas no vácuo e na escuridão.

Se a luz dos meus olhos se extinguir
a que luz vais pedir
que te encontre a direcção

É na imensidão do que eu sou
que tu encontras abrigo.
É na minha consciência
que encontras, da vida,  o sentido.

Se de ti me perder...
Se de ti me esquecer...

domingo, 18 de setembro de 2011

Ira - 4º do ciclo dos sete pecados mortais


Ergue-te, sombra desnudada da raça Humana!
Ergue-te dessa morte anunciada por criatura profana
Que julgaste divina, pintura da Capela Sistina.

Esquece a forma e o cheiro desse anjo negro
O canto de sereia, o desassossego
O mal sob a pele de cordeiro.

Liberta-te da traição desonesta e cobarde
De quem te converteu à Cristandade
Para te preencher com solidão.

Mata esse ser que amas e odeias
Mostra-lhe as trevas de que agora te rodeias
Mostra-lhe a obra de Deus!

Mata esse Deus que nunca se sentou a teu lado
Maldita seja a hora em que o criaste, apaixonado!
E com ele morram os anjos  e os demónios,
Quebrem-se as asas! Partam-se os cornos!
Queimem-se os altares, inundem-se os infernos!
Soprar-lhes-ei vida e deixarão de ser eternos.
Que o infinito acabe de repente,
Que leve tudo e todos na torrente,
Que colapse o éden imaginário, a cruz, o almário
Queimem-se as vestes e o breviário!
Apaguem-se as velas!
Arrasem-se as capelas!

Toquem os sinos, a rebate, os finados
E empurrem-nos da torre, partam-nos em bocados
Destruam-se todos os símbolos desse engano
Desmistifique-se o divino e o profano!
Extinga-se a chama oca da ilusão
Pela espada morram, todos pela minha mão.

sábado, 17 de setembro de 2011

Mirandês - desliguem-lhe a máquina!

O mirandês é a segunda língua oficial de Portugal, ainda que ninguém a compreenda, fale ou escreva fora da região de Miranda do Douro e arredores. Acredito até que  mesmo nessa região poucos o falem e quase que aposto que absolutamente ninguém o usa no seu dia-a-dia.

Afirmo isto sem recurso a nenhum dado concreto nem a nenhuma experiência particular. É uma daquelas ideias que se baseiam no conceito de que se algo não for útil (e incluo a arte como algo útil) não sobreviverá - é uma decorrência da selecção natural aplicada a algo que não é um ser vivo, mas que é manipulado ou utilizado pelos seres vivos e, como tal, se rege pelas regras que moldam a realidade desses seres vivos (nós).

Apeteceu-me discorrer um pouco sobre esta questão do mirandês por causa de uma reportagem lançada na SIC onde se dá algum tempo de antena à "utilização" e "importância" desta segunda língua nacional. Discordo completamente dessa relevância. O mirandês não é utilizado nem é importante, desculpem-me os mirandeses. Mais me irritou porque ao ver a reportagem pareceu-me estar a assistir a uma peça montada por uma máquina de propaganda fascista com o objectivo de evangelizar a população para a bondade da causa, neste caso do mirandês. Desde os meninos (coitados) na escola, com um ar natalício, a recitar, um de cada vez, a fábula da lebre e da tartaruga até às senhoras de idade a simularem uma conversa natural em mirandês, sobre vacas, silvas, portões e ladrões, visivelmente pouco à vontade porque, claramente, só devem falar mirandês quando lá vão os jornalistas da SIC, toda a reportagem foi uma encenação, quiçá patrocinada pela autarquia.

Não acredito que existam mais de 10.000 pessoas a falar mirandês como afirmaram na reportagem. A não ser que contem as pessoas que conhecem até um mínimo de três palavras. Nesse caso, eu sou um poliglota de renome porque falarei mais que dez idiomas, incluindo o mirandês, a saber: "lhéngua", "hoije" e "scritores".

Por outro lado, considerar o mirandês como segunda língua nacional, quando ela é ensinada apenas num punhado de escolas primárias é uma anedota. Mais valia seleccionar o inglês, o francês ou o castelhano como segunda língua, ou então, se o anterior vos escandaliza, escolham o latim e voltamos aos tempos de antigamente, mesmo porque língua morta por língua morta, o latim sempre tem mais valor e aplicabilidade. A "piéce de résistance" é saber que de entre os livros traduzidos para mirandês, os dois mais notavelmente publicitados são... Eça? Camilo? António Lobo Antunes? Não. São dois volumes do Astérix... tipicamente português, diga-se de passagem...

Se o mirandês alguma vez foi vivo, já morreu. Se está morto deixêmo-lo ao cuidado dos historiadores, façamos levantamentos culturais do que foi e da sua importância, criemos festas temáticas onde se celebre essa tradição mas não percamos tempo nem gastemos recursos a inventar uma roda quadrada que nunca funcionará, porque a redonda já foi criada há muito tempo e funciona melhor. Não gastemos o tempo das crianças nem o dinheiro dos seus pais e do resto dos contribuintes para ornamentar esse túmulo!

Passos Coelho, olha aqui uma despesa boa para se cortar quase sem impacto nenhum! Pode ser que chegue para oferecer um bilhete de avião ao Alberto João Jardim para o raio que o parta.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Avareza - 3º do ciclo dos sete pecados mortais


Tantas palavras para somar...
dois foram uns!
E eu não as uso
com medo de as gastar.
São minhas,
não as sei dar.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Preguiça - 2º do ciclo dos sete pecados mortais


Quero um tempo
onde o tempo não se conte
o já não exista
o depois seja mais tarde
e o nada não acabe.

Quero um som
com poucas letras
escrito em minúsculas
dito em surdina
lido para dentro.

Quero uma ideia
já descartada
de premissas impossíveis
e sem aplicação visível.

Quero um esforço já feito
um custo pago na íntegra
uma estase perfeita.

Quero fixar o olhar
num horizonte inalcançável
até que a vista cegue.

Espero um universo
em que a espera seja avanço
e o sonho sabedoria.

sábado, 10 de setembro de 2011

Luxúria - 1º do ciclo dos sete pecados mortais


Tenho fome de ti
Doce pecado
Sushi de serpente
Nua e crua
És Eva
Em cama de arroz
Paraíso
Em forma de maçã
Dentada em forma de beijo
Curei a imortalidade
Com o teu veneno.

Mas vais cair do pedestal
E eu cairei contigo
Agarrado à tua costela, que é minha
Em êxtase
Completar-nos-emos
Nesse vôo lascivo
Descendente
Faremos Cains e Abéis
Atravessaremos os olhos dos anjos
Incrédulos
Penas sussurram e coram
-      Sobressalto!
Não fora este o sétimo
E talvez Deus acordasse – Alto!
Mas não.
Segue sonhando que é Deus
E nós, caindo, criamo-lo.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

António Costa is back

António Costa foi, para mim, uma das figuras da semana por causa de um acto aparentemente inócuo, que passou por baixo do radar. Refiro-me à sua presença na lista de Assis, num vistoso segundo lugar, para concorrer à Comissão Nacional do Partido Socialista.

O facto relevante é o posicionamento político que António Costa continua a sedimentar, logo após ter rejeitado candidatar-se ao lugar de Secretário Geral do PS.

Com esta candidatura, António Costa vai, finalmente, a jogo e coloca uma carta forte na mesa. Ao apoiar Assis, demonstra acreditar que José Seguro não vai conseguir aguentar-se no barco logo após as primeiras eleições a que concorra e, por isso, posiciona-se desde já numa "oposição velada". Desta forma, ninguém o pode criticar agora por não apoiar abertamente Seguro nem, mais tarde, quando concorrer contra ele, correr o risco de ser acusado de saltimbanco político ou mesmo de traidor. Também relevante é o facto de avançar em 2º lugar. Apesar de ser um lugar natural, dado o peso que António Costa tem no PS, é uma clara manifestação de intenção e de poder. Se o objectivo não fosse o de marcar o seu território de forma muito clara, poderia ter avançado num lugar mais modesto onde se não comprometesse ou, até, manifestar o seu apoio político nos media e nem sequer participar na lista. Assim, está a dizer a todo o partido que deu um avanço a Seguro mas que agora vai começar a caçada.

Entretanto, vai esperando que Assis faça o seu trabalho de desgaste e Seguro tropece nas suas próprias pernas.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Gotas de água fazem a tempestade


Fernando Ruas afirma que dívidas dos Municípios são "gota de água" no contexto do Estado.

Diversos economistas e Passos Coelho acreditam que os proveitos resultantes de tributar as fortunas seriam gotas de água.

Américo Amorim não se julga rico, apenas mais uma gota de água...

As despesas exorbitantes com telemóveis e carros no Estado e empresas públicas são gotas de água.

Já os salários dos trabalhadores (por oposição a dirigentes e políticos) não são gotas de água.

Se não o soubessem já, gostava que alguém explicasse a estes senhores que é gota a gota que se faz uma tempestade.

Aperta o garrote

André Macedo escreveu no DN uma análise que resume o que eu tenho dito nos últimos tempos no que diz respeito à máquina fiscal. A complexidade que se foi acumulando com medidas avulsas ou de “emergência” politica, fiscal e social tem que ser eliminada para bem de todos. Digo isto porque se o sistema fiscal for simplificado conseguir-se-ão reduzir custos de gestão que o Estado pode redireccionar para outras áreas (Saúde!!!). Contudo, tal como André Macedo, defendo que a eliminação das deduções fiscais tenham uma repercussão positiva nas taxas de IRS e que só assim farão sentido, caso contrário estaremos a observar um novo aumento de impostos que asfixiará novamente a classe média. Os cortes feitos da forma que foram anunciados pelo ministro das Finanças, Vítor Gaspar vão, infelizmente, no sentido da redução dos rendimentos da classe média sem a respectiva contrapartida.

Para já, como nota André Macedo, as únicas medidas tomadas por este Governo centram-se na receita e resumem-se a aumentos de impostos. O “ataque” à despesa fica, inexplicavelmente, para 2012.

Compreendo que o Governo tenha que tomar medidas difíceis para a população mas é preciso que não se tomem apenas as medidas fáceis para o Governo. Para isso, qualquer badameco podia ser eleito ministro das finanças, não precisávamos de ir buscar um iluminado.
Adicionalmente, Passos Coelho já afirmou que não pensa criar um imposto sobre as grandes fortunas. Alguém pensou que a direita o faria? Alguém pensou que Passos Coelho o poderia fazer? Eu não.

André Macedo finaliza o artigo com um alerta: “Gaspar que não nos defraude”. Neste momento, só há uma hipótese deste Governo não me defraudar e demonstrar alguma boa-fé de que não continuam apenas a ser os campeões da riqueza e poder instalados. É urgente e prioritário terminar com o regabofe na ilha da Madeira. Há razão, há conjuntura, há necessidade imperiosa.

Haja também coragem.