quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Bom Natal a todos
Filosofia e o autómato bissubstancialista de Descartes
domingo, 19 de dezembro de 2010
A crise
Contem as últimas areias da ampulheta e os últimos grãos de açúcar!
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Estar não é existir
Elegia aos Líderes de Portugal ou Carta de Desamor àquilo em que nos tornámos
Nascemos no cimo do monte e descemos aos trambolhões, empurrando o fundo do quadrado com o nosso peso, esmagando muçulmanos e castelhanos com as nossas barrigas rotundas. Chegados ao mar inventámos um rectângulo só para nós, mas não era suficiente, precisávamos de formas mais modernas, mais abstractas. Acabámos por desenhar o mundo juntando continentes num abraço circular de circumnavegação, apenas para desbaratar tudo e regressar em debandada à origem e se não voltámos ao quadrado foi mera coincidência, que quadrados nos mantemos ainda hoje, a viver dentro do rectângulo a que resolvemos chamar Portugal.
Por existirmos e por sermos quem somos, quero agradecer às grandes figuras da nossa nação que continuaram a cultivar a portugalidade!
Obrigado D. Sebastião por teres desaparecido sem apelo nem agravo, dando início à orfandade de que ainda hoje padecemos. Denotaste visão, daquelas que moldam as grandes nações, ao criar uma escola em que a irresponsabilidade é a maior virtude.
Obrigado Salazar, por nos mostrares as virtudes da liberdade. Não há como ficarmos sem algo para lhe sentirmos a falta e tu educaste-nos pela via do exemplo, iluminando os nossos espíritos pela dor e pelo medo.
Obrigado Cavaco, o rei do alcatrão. Nunca tanto dinheiro de outros foi por nós derretido em alcatrão e em formação. O país ficou mais perto mas nem por isso mais esperto. Pelo menos o bolo-rei do teu reinado foi vintage.
Obrigado Guterres por teres chamado os boys pelos nomes... (todos sabemos porque não os chamaste pelos números) ainda que tenha sido quando os nomeaste para o teu desgovernado governo. O teu legado evidenciou a indecisão à portuguesa, que nos consome a todos. No teu caso estender-se-ia, seguramente, até à escolha entre rezar um pai-nosso ou uma avé-maria.
Obrigado Santana e Durão, por personificarem a política de terra-queimada onde a fuga é uma estratégia legítima, seja fuga em frente, para os lados, para dentro ou para fora, mas sempre sem olhar para trás. Como há que olhar sempre em frente e, é sabido, todos temos a memória curta, a incompetência e a imbecilidade vão-se perpetuando ciclicamente – afinal somos todos iguais, se bem que uns mais inimputáveis que outros!
Obrigado Sócrates, ó nosso rei Leónidas, por apregoares a estabilidade e a confiança no futuro enquanto nos despenhamos no precipício financeiro, como as manadas de outrora, acossadas e encurraladas pelos caçadores, se suicidavam cegamente. A palavra cicuta diz-te alguma coisa?
Obrigado Zé, meu bom e dócil Povinho português por parires e tolerares os teus abortos genéticos. Talvez seja a altura, porém, de baixares essa mãozinha e bateres antes uma punheta.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Piada comercial
- um budgetesão!
nota: budget = orçamento disponível para investir em qualquer coisa
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
FEITIÇO
sábado, 20 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Amarás como Ícaro?
Tens no gesto a candura
Das arestas de uma esfera.
E no movimento a frescura
De pétalas viçosas, de Primavera.
A inocência da tua expressão
Qual manhã ensolarada
Embala-me o coração
Em alegria renovada.
O dom da sedução
Embebido em teus poros
Inebria-me a razão
Revela-me novos tesouros.
E a metamorfose que despoletas
Em mim, todos os dias,
Faz renascer as borboletas
Que em meu corpo escondias...
E partem livres e errantes
Sem direcção definida...
Serão cúmplices? Amantes?
Ou tão-somente juventude irreflectida?
Como pairam e esvoaçam!
Ó Icarus, que inveja!
Mas também elas se esgarçam,
Rasgam o pulso que agora lateja.
Cairá o sangue, galopante,
Como tu, Ícaro, sem remissão,
Numa pira chamejante
A pique, directo ao chão.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Ensaio sobre a cegueira – José Saramago
Eu gosto dos livros onde sou eu o condutor e o autor é o co-piloto. Gosto dos livros que me fazem pensar mas não apontam uma solução evidente que se possa comprar no quiosque da esquina – por favor dê-me um maço de cigarros, o correio da manhã e a solução aí à direita, essa que está ao lado das pastilhas de mentol, ai já não tem dessas, então dê-me antes a que está por baixo, até é mais barata, sempre poupo algum dinheiro... Gosto dos livros que não acabam, que não impõem um fim apenas para que possamos ter paz de espírito... afinal a realidade que vivemos não se coaduna com fins urdidos em filigrana resplandecente.
Gosto de chegar cansado ao fim de um livro. Nunca entediado! Apenas cansado porque o livro me agarrou de tal forma que fui forçado a despender toda a minha energia para o afastar e fechar as páginas entre a capa e contra-capa, esmagá-las debaixo de uma pilha de outros livros que ainda hoje se agitam quando chego perto deles, porque a história que contavam não acabou e mais do que ficar eu desassossegado por essa ausência de um ponto final parecem estar eles, os livros, irrequietos, a suplicar-me um fim, que lhes escrevinhe as últimas páginas que costumam ficam desnudadas e, se não chegar o espaço, que lhes use as margens até que a palavra os complete e, completos, possam finalmente repousar em paz, enfileirados numa prateleira ombro a ombro com irmãos, primos e filhos bastardos.
Ao pedir-me a defesa de um livro que me tenha marcado estão-me a pedir que defenda a marca que esse livro me deixou e o Ensaio sobre a Cegueira foi um ferro em brasa que me cegou e que me obrigou a tactear as emoções página a página, capítulo a capítulo, até à palavra derradeira, até ao último sobressalto.
sábado, 6 de novembro de 2010
Ficar
e a noite partiu e chegou.
Ficou o cheiro a terra
Ficou na terra o cheiro
de quem chega e parte,
de quem parte e chega,
e de quem partido fica
ao ver o mundo partir
e o sorriso que o aquece
arrefece-o a seguir,
numa constrição gelada
que aguarda nova chegada,
que na morte, o florir
é beleza que desabrocha
e a centelha de hoje
amanhã será tocha
novamente, até se extinguir.
Ficou o cheiro a terra
Ficou na terra o cheiro
de quem partiu e chorou
de quem voltou e sorriu
os passos de quem passou
a saudade de quem viu.
Todos partem.
Todos chegam.
Fica a terra.
Fica o cheiro.
Ficam sós.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
locus
domingo, 24 de outubro de 2010
Criatividade
Gosto de pensar nela como a actividade de criar, mas não me fico por aqui. Dito assim, a criatividade parece algo maquinal, visceralmente ligado à execução quando, na realidade, não é nada disso. A criatividade surge da necessidade e do prazer da descoberta, característica que retemos da nossa infância, onde tudo era novo. A criatividade nasce da paixão que aplicamos na junção de elementos, nasce do amor com que cozinhamos e transformamos esses elementos para criar algo que seja único, na medida em que está imbuído de sentimentos nossos, de contextos próprios, específicos, dificilmente replicáveis.
É por isso que uma pintura de Picasso é uma obra de arte especial e valiosa e uma cópia exacta da mesma obra não passa disso mesmo - de uma cópia, coxa de contexto, despida de sentimentos, caricatura das emoções que lhe deram luz. E se imitar pode ser uma arte por direito próprio, nunca será mais que uma amostra da verdadeira fragrância que emana de um original.
Neste contexto, criar não é apenas o acto de construir algo mas sim o de construir algo de novo, algo de diferente. É também um acto de amor, na medida em que criar implica amar e construir pode ser apenas um movimento mecânico. Pode construir-se algo e repetir essa criação as vezes que forem necessárias, mas a criatividade inerente a essa obra esgotou-se no momento em que foi originada. O depois resume-se à partilha, à divulgação à democratização e exploração dessa ideia ou obra primordial.
É por essa razão que um quadro branco com uns rabiscos (lembrei-me do Miró, vá lá saber-se porquê...) pode ser algo criativo. Não apenas porque é novo e diferente, mas porque tem um contexto que tem relevância para o autor e para os "consumidores" de arte. Eles reconhecem-lhe a individualidade e descobrem ou partilham as emoções. Da mesma forma uma ave de plasticina, meio deformadita e com o bico desproporcional, manufacturada pelos dedos pequeninos de uma criança, representa a aplicação da sua criatividade - é a expressão dessa criança do seu conceito de ave, de acordo com a sua capacidade, a sua percepção e a habilidade com a plasticina. Tu poderias fazer melhor? Seguramente que sim se, para ti, melhor for uma ave mais próxima do ser vivo real, ou algo diferente mais próximo do teu conceito de ave.
Ainda não há muito tempo participei num workshop de desenho e nesse workshop o formador dizia que desenhar não é necessariamente copiar com exactidão. A sua opinião era distinta - desenhar é interpretar a realidade de acordo com a nossa perspectiva. E estou a falar de desenho à vista!
A análise da criatividade tem um paralelo na forma como se analisa uma obra de arte, talvez porque as obras de arte não sejam mais do que expressões de criatividade, um mero subconjunto que só é relevante porque a arte é relevante para nós, humanos, mais do que outros formas de expressão criativa. Mas, dizia eu, existe um paralelo e esse paralelo traça-se no plano da emoção que determinada obra gera ou não a alguém. Nem sequer tem que ser a mesma emoção que levou à sua criação, mas uma emoção é uma emoção e é gerada por cada ser humano de forma diferente e também por isso, o mesmo estímulo pode produzir resultados diferentes em diferentes pessoas.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
A tangibilidade das palavras
A palavra cresce quando dita em voz alta, compromete quando escrita, agiganta-se quando cantada, é incomensurável quando chorada.
Libertamos e agarramos palavras e elas agarram-nos a nós, como açúcar e suor, como pólos magnéticos que se atraem irreversivelmente... e peça a peça vão completando a nossa roupagem, a camada exterior que nos apresenta ao mundo.
Por isso sabemos que as palavras despertam e deleitam.
Assim as sentimos.
domingo, 17 de outubro de 2010
"Mandar tudo para o espaço"
Estou a imaginar uma nave espacial em direcção ao sol... a sair da atmosfera... vultos olham para baixo pelas pequenas janelas redondas, para o planeta terra, cada vez mais distante, cada vez maior para aqueles que até agora a julgavam pequena como eles próprios. Olham pela janela com um misto de surpresa, melancolia e resignação, por saberem que o seu destino é o sol e que não há retorno possível. Decoram os contornos dos continentes, observam as massas nebulosas, um pequeno furacão sobre o pacífico... o azul intenso do planeta... a nostalgia de ser este o último olhar sobre o planeta que os viu nascer e ao qual não poderão regressar...
e diz o Passos Coelho: olha agora o que me apetecia era ouvir Adagio for Strings. Olha... isso era porreiro pá, mas eu preferia ouvir o Air de Bach responde o Sócrates, parece-me mais apropriado pelo facto de estarmos a voar tão alto... Epá, mas vocês não se entendem nem aqui, pergunta Cavaco, enquanto o Alegre resmunga se fosse comigo isto não seria assim... Gera-se o silêncio e de repente ouve-se um bip bip, bip bip... Ah, possas, diz o Portas, não desliguei o reminder do telemóvel para não me esquecer de ir à feira do bulhão...
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Encher Chouriços
"«Salanoia durrelli» é o nome da nova espécie de mamíferos encontrada a viver nas zonas húmidas que rodeiam o lago Alaotra, no centro da ilha africana. O pequeno animal castanho pesa menos de um quilo, é carnívoro e é, segundo a organização não governamental Consevation International, é uma das espécies mais ameaçadas do mundo."
in tvi24 online
Então descobre-se um novo mamífero e já é um dos mamíferos mais ameaçados do mundo? Será que nasceu com uma etiqueta a dizer "hug me" ou qualquer outro tipo de indicador de extinção eminente?
Ainda agora se descobriu e já se sabe quantos indivíduos existem dessa espécie? Se estão a decrescer ou a crescer em número e qual o seu nível de adaptação ao meio?
É a treta do IOL mas haja paciência! E algum sentido crítico, já agora.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Evento Sushial III
Infelizmente, ninguém fotografou a versão final... tanto trabalho, tanta imaginação e dedicação e (quase) tudo se perdeu... até dá pena enviar isto para o lixo mas... cést la vie.
Não tem nada a ver com a ventania que nos fustiga. É decamarão. Quer dizer, é decoração. A rolha de Lambrusco ao fundo começou cheia de gás mas acabou assim, deitadita... tadinha.
A fome era tanta que até se começou a perder a visão. Foi uma experiência muito próxima da quase-morte, de tal forma que até se viu a luz branca no final do túnel.
Sushi em círculos, sushi em fileiras, sushi selvagem. Deste, até os que não gostam de sushi (ou assim o dizem) comeram. O man-of-the-match foi o sushi de morango, marmelada e queijo philadelphia. Especialmente quando regado com molho natural de frutos silvestres.
Neste jogo de damas também se comiam as peças.
Obrigado por mais uma tarde e noite bem passadas. Um abraço especial aos ajudantes de sushiman. A destreza foi tanta que até deu para eu ficar apenas a ver e a polvilhar no fim com mais um bocadinho de sementes de sésamo hehehe.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Com que então macacos?!
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
The symphony of the void
To sing infinity
Is to cherish the open space
To lift off the ground and dwell in the air
like the notes of an angelsong
Is to escape from our earthly body and throw ourselves in the distance,
loosing gravity, loosing mass, loosing corporeity.
Is to grow and merge
embracing the whole world
with our thoughts.
To sing infinity
is to fill the void with our voice and our words.
Is to become one with the void
to be it and let it be us
and together live until the end of times.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
Escondam os garrafões e os barris
Dublin lines
Evento Sushial take 2
Desta feita chez moi, mas com a ajuda habitual da Krisspi como se pode depreender da decoração um pouco mais aprimorada e já com o maldito frigorífico a funcionar a todo o vapor (ou deveria dizer gás?) iniciei os trabalhos deitando fora todos os ingredientes cujo prazo de validade estava comprometido, afinal há mais de um ano que não me dedicava a estas andanças. Foi por isso um desafio um pouco maior - recuperar da memória tudo o que é preciso para não ter surpresas desagradáveis de última hora - mas que culminou em sucesso, como podem observar nas fotografias em baixo. Pena que desta vez o fotógrafo profissional não trouxe a sua máquina fotográfica que transforma o sushi mais banal numa obra prima. Teremos que nos contentar com o telemóvel...
-----Stepping Stones
----- Next departure scheduled for 8:30. Please acquire your ticket on the railstation ticket booth. Travelling without a valid ticket is prohibited. The offender may incur on a penalty fee of 10.000 sushi rolls.
Diversity is the key for evolution. Evolution is key for diversity
We are prisioners in the island. Surrounded by air rather than water, milky white space rather than black vacuum. Impenetrable and unreachable we cannot be defeated and still... we already lost when we become islands inside.
-----The study of perspective
-----Flying Saucer - Invasion is imminent
-----Scrutiny - Act of looking deeper
When you look deep inside you're bound to find obscurity
-----Images of the Industrial Age
Some worms develop venomous juices that disorient or right out kill anything that tries to make a meal out of it. Some human beeings are worm wannabes. The ones in the picture are neither really... just plain wasabi worms.
-----Strawberry delight
Próximo evento - 2 de Outubro!
domingo, 12 de setembro de 2010
We will be with you in a moment...
Pois a mim não me deram nada quando estive à espera que as Finanças me atendessem...
Estes ingleses são muito avançados...
Obama - "não foi uma religião que atacou a América no dia 11 de Setembro"
É uma frase poderosa mas não concordo totalmente com ela.
A não ser que se refira à distinção entre seita e religião e considere que os "terroristas" pertençam a uma seita. Nesse caso, trata-se de uma operação de semântica para apaziguar o mundo islâmico, o que é de louvar num homem da sua posição, mesmo que não seja exacto. Por outro lado estará a continuar a procurar isolar as facções islâmicas radicais das outras, e marginalizando-as, possibilitar que as facções moderadas possam emergir como forças sociais capazes de mudar o Médio Oriente para níveis civilizacionais ocidentais.
O que faz uma religião ou uma seita são os seus seguidores e não a legitimação da crença por uma qualquer autoridade. E, naturalmente, uma seita ou religião pode perpretar actos terroristas (políticos). Aliás, têm-no feito ao longo da História e não me refiro unicamente ao Islão.
Um acto terrorista é um acto político, não um acto religioso. Mas, dada certas circunstâncias, pode utilizar a religião como arma e é o que tem vindo a acontecer no Médio Oriente. A cúpula dirigente dos países islâmicos aproveita-se do facto de a maior parte da população ainda viver na Idade Média e controla-os através da religião, tal como a Igreja e as monarquias fizeram na Idade Média Europeia.
Por isso, se é um acto terrorista porque foi orquestrado por uma cúpula culta e consciente do impacto político e económico que iria causar, também é um acto religioso, na medida em que o foi para os executantes, toldados pela intifada que lhes foi imposta e vendida.
Para eles, apenas a religião interessa. Os jogos de poder são secundários.
Gostava mais de ter ouvido que o incidente não se tratou de um acto da igreja islâmica contra os Estados Unidos mas sim de uma seita formada por um conjunto de criminosos que distorce a religião para atingir os seus objectivos. Porque não sendo americano, nem tendo conhecido alguém que tenha morrido nesse dia, também eu fiquei horrorizado e muito menos tolerante relativamente ao Islão.
Dito daquela forma acaba por desculpabilizar o Islão de um problema que têm que ser eles próprios a resolver.
E acho que dessa forma o tributo seria mais realista.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Sarkozy e a expulsão dos estrangeiros
Pois agora já não são bons outra vez...
Freud explicaria a coisa desta forma*:
(A Carla Bruni também :))
* Forma - molde sobre o qual ou dentro do qual se coloca alguma substância fluida, que toma o feitio desse molde
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Um dia de MERDA
4:00 - o #"$%#" do despertador não tocou.
6:30 - acordo e vejo as horas - #$%$#"%$#"%
6:45 - continuo incrédulo a olhar para o relógio... será que há maneira de ainda conseguir apanhar o vôo das 6:50?
6:55 - continuo incrédulo a olhar para o relógio... será que há maneira de ainda conseguir apanhar o vôo das 6:50? Pode ser que se tenha atrasado... significativamente (ESPERANÇA)
6:56 - "$#%#"$%$#"%$#"% percebo que estava a ter halucinações causados pelo stress
14:00 - O Vôo para Madrid está atrasado uma hora por causa dos "#$%$#"% dos espanhóis da Ibéria
15:45 - indo eu, indo eu a caminho de Madrid...
15:50 - Estes c#$%$#% dos espanhóis não se calam, este avião parece o mercado do Bulhão
16:50 - A estúpida da espanhola que está junto à janela deve estar com incontinência... pela segunda vez me obriga a levantar para ela sair e novamente para entrar. cab#$%&%# dos espanhóis que nunca ouviram falar de retenção de líquidos.
17:30 - Agora percebo o infanticídio. Estou prestes a cometê-lo. Será que o puto cabe numa retrete?
18:35 - Saio do avião em Madrid. Aproveito para dar um chuto no puto que vai a rebolar no chão ao longo de três filas de cadeiras.
18:35 - É mentira. Não dei o chuto no puto. Mas Apeteceu-me.
18:40 - Em Madrid são 19:40. O Vôo é às 19:50. A porta de entrada está fechada, porque o avião de Dublin atrasou-se uma hora. $%#!%"#$"!$ dos espanhóis, não haver uma peste negra que os leve.
18:50 - Trocam-me o bilhete para as 22:45 de Espanha. Pelo incómodo dão-me uma senha para comer um menu no restaurante ARS.
19:00 - Olho para a comida do restaurante ARS. Acho que vi um dos pratos disponíveis no menu no fundo da retrete hoje de manhã, em Dublin. Interrogo-me como terá chegado aqui primeiro que eu. Terá vindo de barco?
19:32 - Se alguém com poder suficiente estiver a ler este apelo, lance uma bomba de neutrões em Madrid... mas só a partir da meia-noite. Pelo sim, pelo não... liguem para saber se o vôo das 22:45 com destino a Portugal sempre acabou por sair, por favor.
sábado, 28 de agosto de 2010
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Is this Ireland?!
Atravesso a estrada e aproximo-me da montra para observar os jogos. Eis que um irlandês se aproxima vagarosamente, a raspar com o corpo na parede. Na realidade não raspava o corpo porque vestia uma sweater vermelha com capuz por cima de uma t-shirt branca; olhar fixo no infinito, neste caso no fundo da rua, avançava periclitante na minha direcção, garrafa na mão oposta à parede onde apoiava a sua progressão. Chegado à montra do estabelecimento dos jogos terá perdido o resto das forças ou da dignidade e encosta-se de costas contra o vidro. Lentamente, sem mover um músculo que fosse, provavelmente sem noção de que a gravidade é uma força omnipresente no nosso planeta, começa a deslizar para a esquerda, como se fosse um ponteiro do relógio a inverter a sua marcha, passando pelas 23 horas, deslizando para as 22 horas, sempre a deslizar encontrado ao vidro continua para as 21, para as 20, 19 e pumba, eis que encontra o chão onde fica sem apelo nem agravo, sem uma tentativa de se mexer, de levantar a cabeça sequer, mas de olhos abertos, como se estivesse consciente no interior e o corpo não respondesse aos impulsos nervosos.
Nota: não largou a garrafa em momento algum.
Eu, a 50 centímetros da cena não me mexi, fiquei a ver a cena como se se tratasse de um filme do Joaquim de Oliveira...
Priceless: movimento counterclockwise com uma garrafa na mão:
| -> de costas para a parede
\ -> firme e hirto mas em slide
_ -> firme e histo mas esparramado
terça-feira, 24 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
O caminho das pedras
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Amorxilhão
Para ver com banda sonora:
Serge Gainsbourg & Jane Birkin
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Fui ao deserto e não vi nenhum camelo
Foi descoberto um novo bivalve nas costas portuguesas que vem lançar luz sobre a nova e secreta campanha publicitária da Ola, que está a manipular o código genético dos mexilhões para promover o seu novo gelado de mexilhão. E eu que pensava que tinham abandonado o projecto porque não tinham conseguido meter o pauzinho... Os publicitários estão a sair da casca, é o que é... mas desta vez a tentativa de iludir a população com a presença de um punhado de figurantes não foi suficiente para enganar o olho clínico da Mokkini.
Bem mais importante foi a descoberta do elo perdido que liga as serpentes venenosas aos berbigões - esses perigosos bivalves, que tantas vítimas têm provocado entre os seres Humanos -, não precisando de recorrer à análise do genoma de ambos para determinar que o berbigão cascavel (à esquerda) e o berbigão naja (à direita), estavam quase a atingir o estado de metamorfose que os levaria a deixar a água para viver nas zonas pantanosas do Barreiro.
O calhau à esquerda é meramente decorativo. Quem disse que a ciência e a beleza não podem andar de mãos dadas?
De resto, foi uma jantarada supimpa (com o novo acordo ortográfico já se deve poder escrever isto...) com os quilitos de marisco, os grissinos al oliva e umas garratifas de frisante e rosé, introduzidas por uma caipirinha... tudo bem condimentado com a magnífica companhia dos amigos de Roma, Caparica e arredores, a provar cabalmente que, afinal, o ministro marilyn ou Mário Lino, ou lá o que é não tem razão, porque nem só de camelos vive a margem sul... aliás, ainda não vi nenhum por lá o que me leva a desconfiar que se está a criar um monopólio ali para os lados de São Bento...
A repetir... :)
domingo, 15 de agosto de 2010
Pulseira do (des)equilíbrio
As pessoas que compram e usam a pulseira do equilíbrio, porque esta melhora o seu equilíbrio e não por questões meramente estéticas são, comprovadamente, desequilibradas. Se não o fossem, não precisariam de uma pulseira em primeiro lugar. O único aspecto positivo de usarem essa pulseira é a manifestação de conhecimento desse desequilíbiro e o altruísmo que denotam ao partilhar esse sinal de demência com todos nós, para que os possamos evitar. É um rasgo de lucidez que emerge do desequilíbrio, mas nem esse pequeno sinal de sucesso se pode atribuir à dita, porque ele terá que ter nascido, forçosamente, antes da ostentação de tal amuleto.
O fenómeno tem algumas semelhanças com as pulseiras que uma facção da juventude usa para indicar o seu estado de comprometimento com outra pessoa - uma indica amizade, a outra sexo ocasional, talvez haja uma para "virgem", outra para "enclausurada num convento contra a vontade" e muitas mais se poderiam criar ainda antes de entrar no fucsia, no sépia e nos degradés. Só que, contrariamente ao despretenciosismo das pulseiras coloridas, as pulseiras do equilíbrio são vendidas como algo que beneficia o corpo e a mente, aumentando o equilíbrio de ambos. Na prática, se estivermos em pé e levarmos com uma nortada nem pestanejamos, antes aguentamos estoicamente a nossa posição como se nos tivéssemos transformado em gárgulas. E esse é um benefício claro e importante com a ventania que por aí anda! E só pode ser verdade, mesmo que, à excepção dos vendedores de banha da cobra, ninguém o consiga provar ou defender, ou sequer perceber como pode funcionar na prática ou na teoria a pulseira, para lá da auto-sugestão e tratando-se de auto-sugestão então as pulseiras são placebos que não têm impacto real. Isto tem um nome: publicidade enganosa. Por isso também, disse que só pessoas já desequilibradas é que podem acreditar que existe algum impacto positivo.
Se se vier a provar que existe um efeito placebo, então a pulseira do equilíbrio entra na mesma categoria dos ossos de galinha, dos sapos, dos trevos de quatro folhas e outros amuletos tais como santinhas, cruzes e rezas, entrando a talho de foice numa franja do mercado de religiões e de seitas como a IURD... por isso cuidado! Se a IURD se sentir ameaçada no seu feudo da vigarice, é bem possível que venha a excomungar a carteira de todos os possuidores de pulseiras e exigir o dízimo aos vendedores de tal produto.
Eles que são da mesma cepa que se entendam. Já eu, só espero que o holograma das pulseiras seja fluorescente para que se possam ver também à noite...
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Portugal on "fire"
O caminho das pedras
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Q***roz
No entanto, as jogadas de bastidores que se costumam ver no futebol e as politiquices nojentas que se costumam ver... na política, quando em conjunto, só podem nausear até à morte qualquer pessoa que a elas assista. E não há dúvida nenhuma que a desculpa encontrada por Laurentino Dias e os seus acólitos ou mandantes (alguns conhecidos, outros não) para testar o despedimento de Queiroz, assim à laia de "deixa ver se pega", não passa de uma imunda politiquice de bastidores.
Será que contavam com o apoio da opinião pública, desgostosa após a derrota com a Espanha, para criar uma onda que tornasse insustentável a presença de Queiroz à frente da Selecção - resolvendo um problema à FPF?
Será que foi apenas uma manobra política para capitalizar o descontentamento da opinião pública em proveito de um PS à beira do precipício e, especialmente, em proveito do seu líder, esmagado por tantos escândalos e más decisões e indecisões que lhe têm custado a imagem e a nós a saúde financeira? Nem sequer era a primeira vez que procuravam aproveitar-se do futebol - veja-se o caso Tagus Park/Figo.
Será que sofreu pressões de alguém ligado ao futebol e que estava interessado em colocar outra pessoa no lugar de seleccionador? Talvez alguém mais maleável a certos interesses? Infelizmente os dois candidatos mais prováveis, os presidentes dos dois maiores clubes nacionais, acabaram a defender o seleccionador, não se sabendo com que honestidade, mas essa é outra história. Um facto: dois candidatos subiram imediatamente a terreiro, ainda Laurentino não tinha acabado de falar, a tentar ganhar altura espezinhando Queiroz.
Será que foi apenas um devaneio futebolístico de Laurentino Dias, qual vulgar adepto, choroso com a substituição do Hugo Almeida? Um devaneio que o levou a desejar ardentemente a substituição de Queiroz, fervor partilhado pela esmagadora maioria dos portugueses, é certo, mas notoriamente indecorosa e pornográfica no método, muito mais que as expressões de regressão intra-uterina alegadamente proferidas por Queiroz, dado que foi por demais evidente que nada mais queria do que f**** o seleccionador!
Não estou certo que Laurentino Dias tenha sido o mentor desta ignomínia mas foi quem deu a cara e a credibilidade ao inquérito movido a Queiroz. Confesso até que a primeira ideia que aflorou a minha mente foi que o mentor de tal jogada teria sido o incompetente-mor da monarquia futebolística, o senhor Madaíl, em desespero, agarrado a um calhau no meio de um tsunami. Porém, depois de o ver no final da Supertaça a mediar os dois maiores anjos da guarda de Queiroz neste processo, não sei se o julgue Pedro ou Judas. Quem sabe o tempo nos venha a esclarecer a sua inclinação.
Quanto a Laurentino, demonstrou uma faceta que não lhe conhecia, a da instrumentalização. Talvez porque não lhe tenha prestado muita atenção até hoje...
Já agora, para aqueles que arregalaram os olhos quando leram a expressão "f**** o seleccionador", aviso desde já que me referia a "filar", no sentido de "morder o seleccionador".
Evidentemente!
Glossário I
Magically automatic.
Used when automation solves a problem in such a way that it looks like it has David Copperfield's touch somewhere.
Reference: David Copperfield - a highly renowned magician. If you don't know who he his just think of Criss Angel or the like...
sábado, 31 de julho de 2010
Reset
É preciso desligar a máquina que nos torna Humanos.
É esta a grande ironia da Humanidade, enquanto adjectivo. É necessário contrariarmos a nossa humanidade, talvez fosse mais correcto chamá-la de individualidade, para percebermos o outro. Livres do nosso próprio lastro, da nossa experiência, podemos partir para o outro ser completamente desprovidos de tudo e mimetizar os seus pensamentos, emoções e acções, como forma de recolha sensorial. Na medida do possível, tentamos tornar-nos um clone do nosso objecto de observação e tentamos senti-lo em primeira mão.
Naturalmente que este processo não é isento de erros, ante pelo contrário, é pródigo neles, mas é a melhor aproximação que podemos almejar conseguir.
Nada disto é novo, nem original. O nosso processo de aprendizagem passa muito pela tentativa-erro e o que proponho não é mais do que reutilizar esse processo num ambiente virgem e não num ambiente contaminado pela nossa individualidade.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Galp devia ser glup
E ainda falam da mancha de petróleo provocada pela BP nos EUA... aqui esta mancha dura há anos e mantém-se viscosa como sempre.
Antes, há cerca de um ano, quando os preços do combustível aumentavam ao ritmo dos especuladores mas diminuia a um ritmo inferior aos acertos do mercado, roubaram de forma legal todos os seus clientes sem que o Estado se preocupasse realmente com a situação.
Por isso, senhores fornecedores da Galp, preocupem-se! Se isto tocar a todos, vós sois os próximos.
A grande questão é: porque é que o estado não se preocupa com esta situação? Não se preocupa porque o Estado é constituído pelas elites que amanhã irão ocupar esses cargos. Elites por influência, não por valor ou conhecimento, como é o caso de (quase) todos os detentores de cargos políticos em empresas.
No fundo, onde há petróleo, se nos distanciarmos suficientemente dos pormenores, poderemos ver que nada muda há séculos. Agora, tal como antes, independentemente do regime, há uns poucos que se alimentam dos outros todos e vivem bem com isso. Os do petróleo só estão mais sujos.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
IURD, retroescavadoras e um ensaio sobre a cegueira
Um pobre diabo, completamente transtornado, entrou com uma retroescavadora pelas paredes da Iurd de Faro a dentro mas não conseguiu apanhar nenhum pastor ou agiota, ou lá como se chamam os "padres" daquela seita, acabando por destruir apenas uma porta e a parede envolvente, talvez ainda algumas cadeiras e quiçá algumas molduras penduradas na parede para adoração, com fotografias de notas de 500 euros.
O pobre homem, que tinha sido estropiado de tudo por essa organização, decidiu demonstrar a sua fúria contra as paredes do edifício, já que ninguém pode tocar nos alicerces de uma organização que, sendo moralmente criminosa, não o é aos olhos da Lei... ainda que eu desconfie que a Lei também está de olhos vendados de forma propositada, principalmente o ramo fiscal da Lei. Adiante...
Agora, para lá da desgraça em que se encontrava antes de recorrer à IURD e à desgraça em que se encontra depois de recorrer à IURD, ainda vai ter que levar com um processo em cima, porque a Justiça é cega. Cega, porque se deixa cegar. É bem sabido que as notas têm um produto químico que causa cegueira...
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Génio - profissão: pastor de estrelas
Os "génios" são elementos aglutinadores na História da Humanidade. Quais buracos negros dos quais matéria alguma escapa, parecem exercer uma força gravitacional irresistível que atrai os seus contemporâneos, os seus sucessores e até os próprios eventos que moldaram a nossa História, para o seu interior. Porventura é mais fácil imaginar a História mapeada como se fora um céu estrelado que, olhado por baixo, revelaria os génios como sendo os planetas e os acontecimentos importantes as estrelas, ambos pequenos alfinetes luminosos na malha da realidade, mas aqueles que se conseguem identificar de imediato e que sobressaem da bruma que envolve tudo o resto.
Não deixa de ser curioso porém que, para manter essa comparação, se esteja a cair em contradição, dado que a corrente científica mais respeitada na actualidade indica que as galáxias se estão a afastar cada vez mais e os cientistas e as correntes científicas, pelo contrário, se estão a concentrar. Na antiguidade, a genialidade era uma expressão que resultava mais do isolamento, do individualismo e da subtracção. Era o resultado de uma mente brilhante, muito acima dos seus contemporâneos que trilhava sozinho um determinado caminho. Hoje em dia, a especialização continua (e continuará) a existir mas também se começa a assistir ao movimento contrário, à generalização, combinando diversos ramos da ciência e unificando-os numa única teoria que satisfaz as necessidades de todos.
A compreensão da nossa realidade passa por juntar essas peças recortadas pela especialização, combiná-las de forma adequada e conseguir perceber a lógica de tudo o que nos rodeia, visível ou invisível.
Estas correntes, estas forças dinâmicas, atravessam os povos, as culturas, as ideologias, as economias, as epistemologias; invadem-nas, perfuram-nas, incorporam-se nelas e extravasam os limites da sua origem, reflectindo-se de várias formas nas fibras que compõem a nossa realidade. Podemos observá-lo no crescimento das redes sociais, na cooperação virtual, no crescimento incomensurável da informação, do conhecimento, da visibilidade em tempo real; também na importância crescente do papel dos recursos humanos nas organizações, na obsessão pela qualidade, no crescimento das capacidades de liderança, no pensamento estratégico e no pensamento científico; ainda no ambientalismo emergente, na evolução da religiosidade para a espiritualidade, nos produtos, na indústria e no lazer.
Tudo está a evoluir. Tudo está a crescer de forma cada vez mais integrada. Os ramos que se vão diversificando encontram novos pontos de contacto, por vezes distintos das próprias raízes. Uma das teorias recentes, indica até que o conhecimento vai continuar a crescer infinitamente até o fim dos tempos, venha ele como vier.
Qual o papel dos génios agora?
O mesmo de sempre.
Não deixar que se apague o brilho das estrelas.
terça-feira, 6 de julho de 2010
O Fixe
Quem é "O Fixe"?
"O Fixe" é aquele indivíduo de quem toda a gente gosta, mas não o suficiente. É uma pessoa que não é líder de grupo mas que tem alguma coisa de que se gosta; ou porque é engraçado, ou porque está disponível, ou porque é bem disposto, ou porque cria boa disposição, ou porque tem um feitio particular que o diferencia dos outros e que, em dadas circunstâncias, o tornam alguém interessante ou de confiança ou apenas porque é alguém que não leva a mal qualquer tipo de brincadeira ou que alinha em qualquer tipo de iniciativa, tornando-se por isso uma vítima preferencial.
"O Fixe" é alguém de quem nos lembramos logo a seguir aos melhores amigos, mas antes dos apenas conhecidos. É alguém a quem somos capazes de telefonar para um jantar a 8 quando ainda só temos sete e precisamos de alguém e já tentámos aqueles que estão mais próximos. É alguém a quem pediríamos o seu guarda-chuva para nos abrigarmos, mesmo que esse alguém ficasse à chuva... provavelmente "O Fixe" passaria pela chuva sem se molhar, transformando-se em apenas mais uma gota, pensaríamos nós... ou num registo mais corriqueiro: "ele não se importa" ou "ele está habituado".
Por isso, "O Fixe" é a vítima preferencial de exploração. Ele não gosta de ser explorado, mas quer sentir-se integrado e esforça-se por isso, sujeitando-se muitas vezes às diatribes dos outros... e às desconsiderações. Costuma ser o primeiro a ajudar, o primeiro a perguntar, o primeiro a oferecer e o primeiro a dar, porque não é egoísta e porque pensa que há um momento para dar e outro para receber e alguém tem que tomar a iniciativa, passar a ponte para o outro lado. Naturalmente, fica à espera que acabem por voltar juntos dessa ponte, em comunhão amistosa e num plano de igualdade, não porque o que se dá e o que se recebe tenha que ser medido e tenha que ser quantificado de igual modo, apenas porque "O Fixe" pensa que a reciprocidade é a única forma saudável de existência. É também por isso que quando o "Fixe" recebe alguma coisa, fica em pulgas para retribuir.
"O Fixe" não é, nunca, a primeira opção. Por isso, "Fixe" acaba por ser uma metáfora. Tal como "simpática" num contexto machista ou sexista. É alguém que apreciamos o suficiente mas não o bastante e, por isso, acaba por se tornar alguém que navega nas franjas dos grupos sociais, muitas vezes sem pertencer de facto a lado algum.
Os filmes americanos e a cultura anglo-saxónica utilizam muito um conceito semelhante, o do "underdog", mas com uma variante: o "underdog" é um "Fixe" que, em dado momento, consegue atingir alguma notoriedade, porque demonstrou ser melhor que os outros em alguma coisa. Só que nesse preciso momento deixa de ser "underdog". Enquanto "underdog" pode ser tolerado, mas nunca reconhecido.
Eu gosto de "Fixes". Às vezes sou um.
Já agora, o "Fixe" a que o meu amigo se refere é um empregado de mesa que nos serviu um destes dias. Num jantar onde quase tudo correu mal ao tipo, porque se esqueceu de alguns pratos, porque trocava os pratos, porque se enganou na mesa atribuída, porque entretanto vinha a responsável ver o que é que se passava, entre outras peripécias que já se perderam da memória, acabou por tentar ser mais simpático e prestável do que era exigido, por exemplo, dizendo que depois compensava e que se esqueceria de colocar os cafés na conta, contando a história da sua vida até à exaustão, não me refiro à exaustão do tema, mas à exaustão da paciência do meu amigo. Neste caso o "Fixe" foi um papel desempenhado pelo empregado de mesa, para tentar apagar a sua inexperiência e o mau serviço que daí resultou e nada tem a ver com o outro "Fixe".
... ... E como eu sou um bocadinho chato no que respeita ao serviço em restaurantes... ... e tenho um historial de reclamações... ...esperava-se que eu reagisse ao mau serviço... só que não o fiz... e não o fiz porque cada vez que o empregado de mesa cometia um erro procurava de imediato corrigi-lo e compensar esse erro de alguma forma, nem que fosse com paleio. E essa atitude positiva é de louvar e é contrária às trombas com que os empregados habitualmente recebem as reclamações, que é o que me faz passar de alarme amarelo para alarme vermelho num segundo. Não admito que um empregado de mesa não atenda uma reclamação com lisura, respeito e interesse, afinal a culpa pode não ser dele mas seguramente não é do cliente.
Enfim, ambos os "Fixes" precisam de um «fix», é o que é!
sábado, 26 de junho de 2010
O padeiro de Aljubarrota
Mesmo reconhecendo que boa parte da situação actual não é imputável ao Governo parece-me impossível, neste momento, defender José Sócrates e o Governo que navega na sombra da sua liderança, sem cair no ridículo.
Ainda assim, parece-me um pouco desajustado chamar à liça as invasões francesas e a forma como foram rechaçadas (segundo creio, este aspecto nem sequer é consensual...) e a crise actual. Não se luta contra a crise como se luta contra os invasores... a não ser que a mensagem de luta não fosse contra a crise mas contra o Governo de José Sócrates...
domingo, 20 de junho de 2010
"Não tenhamos pressa mas não percamos tempo"
Li esta frase como sendo de Saramago, não sei de que obra. Nem sequer tenho a certeza que seja dele de facto mas, mesmo que não seja sua criação é algo que me parece descrever tudo aquilo que Saramago representou ou que quis representar. Pode não concordar-se com a sua ideologia, com o seu pensamento, com a sua atitude, até com a pontuação das suas obras mas, olhando para lá do óbvio, esta é a mensagem por si gritada a quem o quis ouvir. Talvez o seu legado não passe de um grito de revolta contra o que está mal em nós portugueses e pior, que não passe dos livros onde o registou com eloquência, mas pelo menos gritou aquilo que todos nós sabemos ser e com o qual não sabemos lidar, preferindo por isso ignorá-lo, fazer-lhe ouvidos moucos, talvez assim desapareça e nos tornemos um povo melhor, sem o esforço e sem o mérito. Talvez a sorte nos bafeje e possamos ignorar Saramago, dizer-lhe "bandido! quiseste enganar-nos! Trabalha tu, muda tu, revolta-te tu! Eu nasci português, que mais preciso eu? Alguém há-de cuidar de nós". Talvez...
Podemos continuar todos cegos... ou podemos deixar de perder tempo, calmamente construindo um novo futuro.
Saramago ia gostar disso certamente, mesmo que esse futuro fosse capitalista e católico.