sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Amarás como Ícaro?

Tens no gesto a candura

Das arestas de uma esfera.

E no movimento a frescura

De pétalas viçosas, de Primavera.

A inocência da tua expressão

Qual manhã ensolarada

Embala-me o coração

Em alegria renovada.

O dom da sedução

Embebido em teus poros

Inebria-me a razão

Revela-me novos tesouros.

E a metamorfose que despoletas

Em mim, todos os dias,

Faz renascer as borboletas

Que em meu corpo escondias...

E partem livres e errantes

Sem direcção definida...

Serão cúmplices? Amantes?

Ou tão-somente juventude irreflectida?

Como pairam e esvoaçam!

Ó Icarus, que inveja!

Mas também elas se esgarçam,

Rasgam o pulso que agora lateja.

Cairá o sangue, galopante,

Como tu, Ícaro, sem remissão,

Numa pira chamejante

A pique, directo ao chão.

2 comentários:

Ana Clara disse...

Fiquei sem respiração! Ah Grande Fernando Pessoa do século XXI! :)

Ana Guedes disse...

O que eu andava a perder!