sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Estar não é existir

Sou disperso e incompleto,
Insatisfeito,
Imperfeito,
Sem direito de escolha
Nem hábito de ser escolhido.
Sou negro na escuridão
E sou iridiscente na luz,
Invisível quando presente,
Sempre igual mesmo que diferente.
A opinião é um grito no vácuo;
A vontade, uma utopia abafada.
Sou um móvel na sala
Ou uma prateleira na garagem.
No mar sou um pingo de água,
Na pedreira uma frágua,
Na ventania uma aragem.
No deserto grão de areia,
Numa cómoda, uma meia
No aeroporto a bagagem.
Corro, luto e sofro em silêncio.
Sopro breve e quente no verão,
Arrepio de frio no inverno.
Sim, sou eu.
Mas não me vês
Nem notas em mim.
Eu sou a rotina do dia-a-dia.
Sou aquele que está sempre sem que o vejas
E que nunca é notado nem apreciado
Porque é um valor adquirido
E não trás mistérios consigo.
E eu não tenho mistérios comigo.
Eu apenas estou.
Sempre.

3 comentários:

Ana Guedes disse...

Lindo, Gorgeous! Foste tu? Se sim digo já que é tudo mentira!

Gelo disse...

:)
Claro que fui eu!
Às vezes somos, outras vezes não. Às vezes escrevemos sobre o que somos, outras vezes sobre quem não somos, outras vezes misturamos os dois.

Anónimo disse...

Bravo! Bravo!
"Ser ou não ser, eis a questão!"
E aqui não há mistérios: estás e existes!
Sempre!
EM