Só há uma forma de conseguirmos um vislumbre que seja sobre a essência de outra pessoa. É preciso limpar a mente de todos os nossos valores, ideias, preconceitos, sentimentos e capacidade computacional. É preciso eliminar aquelas pequenas rotinas insidiosas que se insinuam constantemente e que fazem parte do nosso sistema operativo. São inconscientes, mecânicas, automáticas e recorrentes. Norteiam as bases da nossa intuição e são rotinas de análise e detecção de padrões visuais, de cheiros, de sensações tais como "está frio, está calor" que, antes de serem vocalizadas, já produziram o seu efeito.
É preciso desligar a máquina que nos torna Humanos.
É esta a grande ironia da Humanidade, enquanto adjectivo. É necessário contrariarmos a nossa humanidade, talvez fosse mais correcto chamá-la de individualidade, para percebermos o outro. Livres do nosso próprio lastro, da nossa experiência, podemos partir para o outro ser completamente desprovidos de tudo e mimetizar os seus pensamentos, emoções e acções, como forma de recolha sensorial. Na medida do possível, tentamos tornar-nos um clone do nosso objecto de observação e tentamos senti-lo em primeira mão.
Naturalmente que este processo não é isento de erros, ante pelo contrário, é pródigo neles, mas é a melhor aproximação que podemos almejar conseguir.
Nada disto é novo, nem original. O nosso processo de aprendizagem passa muito pela tentativa-erro e o que proponho não é mais do que reutilizar esse processo num ambiente virgem e não num ambiente contaminado pela nossa individualidade.
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