sexta-feira, 29 de abril de 2011

Dilúvio

Agora até o tempo foi "FMIzado"







segunda-feira, 25 de abril de 2011

Testemunho - 25 Abril


Nasci em Fevereiro de 1975, um pouco antes da revolução dos cravos. Não a vivi, não estava em Portugal. Contudo, mesmo que por aqui tivesse nascido, de tão imberbe que era, não me iria recordar de nada. Por isso, cresci num país “livre” sem disso tomar conta e sem perceber a importância do que tal representa. Escrevi a palavra livre entre aspas, não porque duvide da nossa liberdade mas porque há diversas liberdades ou diversos graus de liberdade e nunca seremos verdadeiramente livres, como nos recordam o FMI e os nossos mal-amados governantes. Porém, livres somos! Tão livres que podemos optar por perder essa liberdade quando deixamos de votar, quando deixamos que outros escolham por nós. Somos livres até de escolher o cárcere.

Esta espécie de liberdade, conquistada sem sangue, alguns dizem-no por acaso, outros por conjuntura, outros ainda por formatação cultural, criou um povo que não percebeu a dor da conquista, apenas saboreou o seu sucesso e, acredito eu, em boa parte dos casos é essa a razão pela qual somos um povo mimado e indolente e que espera que tudo se resolva por si próprio, com o passar do tempo.

Para mim, o 25 de Abril não foi um marco importante da minha vida porque o não vivi mas, se me perguntarem pela sua importância, a minha resposta não soaria falsa ou hesitante porque em casa de meu pai sempre houve uma consciência política apurada, já a houvera em casa de meu avô, e as consequências da falta de liberdade foram por ambos sentidas na pele, de forma literal no caso do meu avô. Desconfio, porém, que não será esse o caso da maioria das casas e das pessoas e o que ficou da revolta dos cravos foi um reforço do laxismo e do facilitismo, dos quais a corrupção é filho primogénito. E se aqueles que viveram a conquista da liberdade quiseram viver num repente aquilo de que se viram privados e, por isso, resvalaram muitas vezes para caminhos esconsos e pantanosos, já os próximos serão potencialmente piores (alguns já o estão a ser), porque nasceram num mundo onde puderam exercer a sua liberdade sem perceberem que a liberdade sem sangue também custou a ganhar e que deve ter limites auto-impostos para que se não atropelem as liberdades dos outros. Temo que continuem a ser estes os ingredientes das próximas gerações. Temo que a invasão do FMI, a nosso pedido, não seja o suficiente para espicaçar o orgulho nacional. Temo que o orgulho nacional não exista e tenha sido substituído inapelavelmente pelo interesse individual. Temo que a ética tenha ficado ferida de morte e sepultada debaixo dos cravos de Abril.

Costumamos alardear que, quando é preciso, os portugueses inventam soluções e conseguem dar a volta por cima. Pois bem, é chegado um desses momentos.

Celebremos Abril hoje.

Comecemos Abril amanhã.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Factos e Comentários

Facto: Teixeira dos Santos não foi inscrito nas listas que concorrem às próximas eleições.

Comentário: Será que a notícia do Expresso tem um fundo de verdade e que se verificou um desentendimento entre Sócrates e o Ministro das Finanças ou será que é uma estratégia política que pretende apenas retirar visibilidade a um elemento muito desgastado neste executivo do PS? Perdoem-me a ignorância mas não é verdade que que um ministro é convidado pelo primeiro ministro e não tem que estar necessariamente numa lista? Se for o caso, o homem até pode renascer das cinzas sem prejudicar o PS nas próximas eleições!





Facto: Capucho, Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, entre outros, disseram não a Pedro Passos Coelho.

Comentário: Será que o que parece um facto negativo, resultado de uma falta de liderança que eu acredito que PPC tem, não acabará por ser um facto positivo? O facto de não ter certos barões nas suas listas pode prejudicá-lo nas eleições mas também lhe permite criar listas com sangue novo, possivelmente ainda descontaminado (como se eu acreditasse nisso...).





Facto: O convite a Fernando Nobre foi o maior tiro no pé até agora do líder social-democrata, porque foi mal gerido quer por Pedro Passos Coelho quer por Fernando Nobre.

Comentário: Fernando Nobre muito provavelmente acabou de perder todo o crédito político que ganhara nas últimas eleições como figura independente e, arrisco-me a dizer que se não for eleito Presidente da Assembleia da República, acabámos de assistir a um suicídio político. Pedro Passos Coelho conseguiu transformar um ás de trunfo num duque por não perceber que o convite efectuado teria que ser comunicado à população para que a sua pretensa estratégia de pluralidade fosse entendida como tal e não como veio a ser percebida por todos. A Sócrates, quase que basta ficar quieto para ganhar as próximas eleições, tal como as últimas sondagens sugerem...






Facto: O responsável do FMI para a negociação com Portugal é apelidado de "olhos azuis" pelos meios televisivos porque alguém em Dublin ou Atenas assim o chamou.

Comentário: Imaginem que tinham antes escolhido outro dos epítetos com que vulgarmente ambos os povos o brindaram... seria publicável? Na realidade fico um pouco estupefacto com este apelido. Será que agora vão passar a referir-se a Sócrates como o "pencas" ou ao Portas como o "dentes brancos"?





Facto: Telmo Ferreira, ex-concorrente do Big-Brother e bronco a tempo inteiro, é um dos elementos da lista do PS à Câmara Municipal de Leiria.

Comentário: Ainda que não esteja em lugar elegível, tenho pena que não tenham optado antes pelo Marco... sempre podia dar um pontapé na crise...

terça-feira, 19 de abril de 2011

Faremos Isto Mudar

Quando estamos mais vulneráveis física e emocionalmente podemos ser tomados por memes virais, em que ideias simples (e simplórias) para a resolução de problemas complexos se tornam extremamente apelativas para o ser humano. É por isso que existem suicídios em massa, bombistas que se explodem num autocarro ou se adoptam ideais como o nazismo.

Estamos a atravessar um momento de grande vulnerabilidade económica e psicológica. O nosso ego está em baixo, as carteiras vazias, as perspectivas enevoadas.

Ainda assim, é preciso respirar fundo e pensar que nem o FIM do mundo está ao virar da esquina, nem o FMI vai ser o salvador da pátria.

Hungria -país de doidos?

Então agora há quem defenda, na Hungria, que as mães de filhos menores tenham direito a votar duas vezes, com a argumentação de que ninguém está a preocupar-se com o futuro dos jovens.

Se as mães soubessem o que fazer, o problema do futuro dos jovens nem se colocava! E não eram precisos dois votos...

E desde quando as mães percebem mais de política que os pais?!

Ai Cavaco, Cavaco, triste música a tua

retirado de iOnline:
Cavaco diz que sabe "muito bem quando deve falar em público"

É uma pena, digo eu, que não saiba falar muito bem...

Evento Sushial VI

Finalmente o sexto evento sushial, o último do ciclo das promessas!
Desta vez experimentámos os cogumelos shitake e a omolete dentro dos rolos, para além das ovas pretas de peixe voador. Além disso, voltámos a utilizar o rábano, que já não encontrava há algum tempo... finalmente encontrei o supermercado chinês com este vegetal.

Tive pena que a anfitriã não possa ter comido por indisposição mas, lá que fez um bom trabalho na confecção do sushi, lá isso fez, como o podem atestar as fotos seguintes.
O camarão voltou a figurar na ementa, também ele desaparecido há algum tempo. Continua com dificuldades de adaptação ao bolo de arroz no nigiri, mas dá sempre um aspecto bonito ao prato e sempre é mais uma coisa que pode ser comida por quem não quer peixe cru.



Sempre que olho para estes nigiris apetece-me partir o ecrã e comer um. Principalmente o de atum, nham.

o belo sashimi e mais uma lição... não colocar a lima muito cedo para não queimar o peixe!

Esta última foto faz-me recordar o filme do Johnny Depp e da fábrica de chocolate (Willy Wonka?!)

E pronto! Acabou-se. Não quero ouvir falar de fazer sushi nos próximos meses!!!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O direito a escolher

Todos devemos ter o direito de escolha. Está consagrado na nossa constituição e na palavra que usamos para descrever o nosso regime político - democracia.

No entanto, tenho defendido que não temos tido este direito no que diz respeito à escolha dos nossos líderes políticos, ora porque acabamos por votar por protesto ou seja, "voto no candidato A para erradicar o candidato B", ora porque nem sequer temos uma opção plausível que possa merecer o nosso voto sem que nos envergonhemos de dobrar o papelinho em quatro.

Acredito piamente que estamos a viver, pela segunda eleição governamental consecutiva esta última situação. O Bloco de Esquerda há muito desistiu de ser um partido político sério para ser um bando de agitadores adolescentes sem eira nem beira, nem ideias, nem critério. Agora sim, parecem estar sob o efeito de alguma droga, tamanhas as asneiras e as idiotices que proclamam ou defendem. A CDU, espremida de pessoas válidas para além do líder e sempre ausente de ideias que não estejam na cartilha empoeirada da ex-União Soviética, não quer sacudir a fuligem que lhe entrou para os olhos, libertada pelo trabalho do proletariado. Está decadente e apenas protesta sem apresentar soluções. O CDS, liderado pelo melhor político da nossa praça, continua a ser um partido parasítico, sempre à espera das migalhas que caem do prato do irmão mais velho. Infelizmente, o melhor político da nossa praça também é alguém que arrasta muitas suspeitas consigo desde o caso Moderna, com as ligações à maçonaria, até aos submarinos e aos dinheiros movimentados... debaixo de águas pouco límpidas. O PSD, o partido que vai alternando o poder com o PS, continua com uma crise de liderança e corre o risco de não ter uma passada forte o suficiente para ganhar as eleições ou para liderar um país moribundo e desalentado. Passos Coelho, talvez o líder social-democrata mais fraco de que me lembro, quiçá a par do Nogueira, não inspira confiança a ninguém, nem ao próprio partido e já não deve ter dedos nos pés, tantos são os tiros. E Sócrates... bem... só mesmo Passos Coelho para fazer o mesmo número de asneiras! Só que as asneiras do "engenheiro" e dos socialistas no governo acabaram por nos enterrar definitivamente na lama financeira e estatística em que nos encontramos. Não deveria haver perdão para Sócrates mas... a questão que muitos colocam é: em quem votar então?

E para esta pergunta não tenho resposta...

A minha expectativa é a de que tudo acabe por acabar num belo cozido à portuguesa com um acordo tripartido (sim, a pseudo-coligação Bloco/PCP é irrelevante) para acompanhar a pratada de cogumelos que nos vai ser servido pela Europa do FMI, sabendo nós que temos que os engolir, mesmo estando envenenados.

domingo, 17 de abril de 2011

Evento Sushial V

Ao longo da vida vamos criando diferentes grupos de amigos pelas mais diversas razões ou ausência delas. E é verdade que há momentos em que descuramos uns grupos em favor de outros. Ainda que a amizade não se meça por números ou quantidades é importante criar situações em que possamos celebrar essa amizade em conjunto.

Este momento é desses.

Obrigado, Sónia, pela ajuda.
Obrigado a todas pela presença, pela boa disposição e por terem lavado a louça no final :)
MALDITO ARROZ que ficou mal três vezes...

Em cima, o famoso dragão japonês - Kaitusku; em baixo a serpente Myobi
O morango e a marmelada criam a peça favorita de sushi, conforme votado por todos
Mais munições:
Estou à espera do postal assinado !!!

sábado, 9 de abril de 2011

O iluminado

Portugal 2011


País imaginado fora do tempo

Já não existes, se exististe.

Pasto de vento que move moínhos

Também tu giras sem sair do lugar

E silenciosamente agitas as pás,

Sem fazer farinha

Que te possa salvar.





A cavalo dado não se olha o dente

Diz Judas, de olho na crina áurea

Enquanto lhes beija os quadris.

E como Pilatos lava as mãos

No suor de quem trabalha,

Mártires sem filosofia.





Eia Rocinante, eia!

Lança-te de cascos em lança

Contra esses moínhos de vento!

Eu ordeno-te unicórnio,

O povo fará de Pança

E eu imagino-me o sonhador.

Refundemos a santa trindade

Noutros moínhos,

Que se movam pela força da vontade.

Aticemos a lança com os olhos

Vazios de quem nada tem

Que na sela, viaja a esperança dum lado,

E no outro, cravos ainda por sangrar.

Cavalguemos Sancho! e voaremos

Num vento de bandeiras desfraldadas

Numa chuva de lanças afiadas de sal.

Ala Rocinante, ala!

A cruzada do querer

Começa nas brisas do imaginar.


Eia Rocinante, eia!

Resfolego que vira asas

Asas que viram lanças

Lanças que viram ar.

A cavalo dado não se olha o dente

Lança-ta p'lo ar Rocinante!

Todos somos poucos

Para tantos moínhos de vento!



2011/04/08

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Conta-me uma história...


Recomendo a bebida "JA SAIU". A relação custo/benefício é imbatível!

domingo, 3 de abril de 2011

Campeão!

ManINfestação II

Há alguns dias atrás, em Viseu, um grupo de jovens irrompeu na sala onde o então primeiro-ministro, José Sócrates discursava, com tarjas e gritos e braços levantados e saltos na atmosfera, numa clara manifestação de protesto contra a "situação actual" dos professores e dos serviços públicos.

Mas, afinal, contra que situação actual é que eles protestam?

Se calhar nem eles sabem e se lhes perguntassem provavelmente obter-se-iam frases feitas como "porque o governo não sabe governar, porque o desemprego aumenta, porque o preço da gasolina aumenta, porque o FMI está a bater à porta, porque o FMI já não está a bater à porta, porque está a destruir a saúde, porque são todos uns ladrões corruptos, porque obriga os professores a serem avaliados por um processo muito trabalhoso e mal concebido, porque o Benfica não é campeão...". Descontando a clara provocação ao Benfica, o rol de chavões, ainda que contendo verdade, não são realmente compreendidos por 99% das pessoas que se manifestam. Diria mesmo que 99,99% desses manifestantes não apresenta soluções alternativas nem tem, infelizmente, capacidade para o fazer.

Mas nós gostamos de festa. As manifestações são a oportunidade de fazermos uma festa e colectivamente fazermos o que os adeptos de futebol fazem nos estádios - gritar impropérios - e fingir que temos, de facto, algum poder para lixar alguém que nos lixou a nós. E também porque sabemos disto é que não damos importância às manifestações. Toda esta altercação é apenas movida por um sentimento de vingança e não por uma vontade de mudança ou progresso genuína porque a maior parte de nós, povo, não tem a capacidade de medir o progresso. Não temos capacidade para perceber como mudar as coisas mas temos a ambição de obter para nós tudo aquilo que pudermos e só conseguimos ver e perceber o caminho do roubo e da corrupção que é, aliás, o único que nos é exemplificado. Somos nós, os corrompidos, que nos tornamos os corruptores (Pavlov acabou de sorrir na tumba).

Naturalmente que apenas uma ínfima parte de nós chega a tais cornucópias de regabofe, ficando os restantes limitados a assistir através da janela a essas festas faustíssimas, mesmo no caso de termos participado activamente com o nosso voto e com a nossa presença nos jantares, e inaugurações-comício, mesmo tendo desfraldado as bandeiras nos carros em movimento, perigosamente empoleirados nas janelas ou perfurando os tectos de abrir com o nosso corpo e a nossa vontade, mesmo tendo aplaudido efusivamente cada palavra e cada gesto do líder do "nosso" partido e andado à porrada nos cafés e nos largos da feira com os nossos oponentes, às vezes até com contacto físico. Mas é quando nos apercebemos que temos meias rotas nos pés e espreitamos, através da janela embaciada, as meias bordadas a ouro penduradas nas chaminés dos outros, à espera do pai natal, que nos revoltamos. Também queremos umas meias iguais! Umas meias sem buracos e sem fundo! E é nessa altura que sentimos a dor de corno no seu apogeu, dor que fica recalcada à espera da primeira oportunidade para mugir numa tourada, mesmo que ostentando os ferros que nos foram sendo cravados no lombo. E quando a oportunidade surge, lá vamos todos em manada, a mugir em uníssono numa cacofonia de côr e som.

Outro aspecto interessante destas manifestações e que anda de braço dado com o desejo de vingança, é a restauração do sentido da vida em duas a três a horas de êxtase e comunhão emocional. Utilizamos estas manifestações públicas para nos sentirmos parte de algo maior que nós, algo que perdemos com o desmoronar do nosso império de ontem, construído sobre toros de madeira flutuante ao sabor de especiarias e outras riquezas. Agora não somos nada nem ninguém, encostados neste canto da Europa que perdeu a centralidade e cuja voz é ouvida por favor ou por educação mas não é realmente tida em conta no grande plano das coisas, nesse olimpo onde são tomadas as decisões. E todos nós gostamos de participar, de saber, de fingir que opinamos e que influenciamos e que empurramos as rodas dentadas que movimentam a nossa realidade, mergulhando numa ilusão que oculta a nossa verdadeira impotência e irrelevância.

Não sabemos para onde ir nem como lá chegar. Mas basta escolher uma bandeira, atá-la aos cornos do infeliz que for à frente e lá vamos todos, em manada, a satisfazer o nosso sentido de pertença. E como nós precisamos de pertencer a algo, de nos enquadrar num contexto, de perceber que a nossa vida infeliz tem um sentido para além da luta inconsequente do dia-a-dia!

Aconteceu com Timor. Acreditam realmente que as camisas por fora dos carros, os concertos de apoio, as manifestações de repúdio a Jacarta tiveram algum impacto? Penso até que a presença das nossas forças militares em Timor só aconteceu porque Xanana Gusmão teve medo de lidar com potências que ele próprio desconhecia, preferindo que um país pequeno como o nosso os "ajudasse" a manter a ordem, sem correr o risco de uma ocupação em substituição, por exemplo pela Austrália, sabendo perfeitamente que Portugal não teria poder militar ou económico para o fazer ou até poder político para um neocolonialismo sancionado por uma ONU. E no entanto, todos gritámos "Timor livre"! O massacre do cemitério fez mais pela nossa auto-estima que pelos próprios timorenses, por mais triste que seja admitir que o mal dos outros nos faz bem.

É por tudo isto que eu acho deplorável que aconteçam manifestações como a de Viseu. É por tudo isto que eu acho que são inúteis manifestações pacíficas como as que aconteceram por todo o país. Todos intuimos que não servem realmente para nada a não ser ter duas ou três horas de prazer emocional. Se é para isso, mais vale ir à missa, ao cinema ou a casas nocturnas.
Tudo o resto serve apenas para que alguns possam continuar a manipular-nos contra outros perpetuando a nossa bestialidade enquanto se refastelam nos despojos.

Governo demitido faz 156 nomeações e promoções

Não quero cometer a desinteligência de afirmar peremptoriamente que todas as 156 nomeações/promoções são desajustadas. Sei que o mundo não para, nem as organizações, nem as suas necessidades e objectivos, ou seja, a vida continua mesmo com o governo demissionário. Sei também que quando olhamos para números abstraímo-nos do facto desses números representarem pessoas e que uma decisão que beneficia a maioria acaba por prejudicar uma minoria.

Não obstante os vícios da generalização não deixa de ser curioso o surto de nomeações ou promoções que se verifica sempre que há rotações de Governo ou mudanças na lei com impacto nos cargos políticos, seja nos vencimentos dos seus titulares ou nos vínculos laborais e o surto de medidas de gestão de última hora tais como aprovação de projectos e legalização extemporânea de ilegalidades. O resultado é sempre o mesmo: aumenta-se a factura a pagar pelo Estado, o que é o mesmo que dizer por todos nós, como se pode comprovar pelas medidas "PECianas" cuja constância se resume ao espaço onde temos que preencher o nosso NIB para ajudar este país gordo de corrupção e má gestão.

Em lado nenhum se vêem os políticos a pagar pelas asneiras que fazem. Dizem, como o socialista Francisco Assis, que o "pagamento" tem que ser apenas político e pagam-no com a perda dos seus lugares quando os eleitores assim o decidem com o seu voto. Mas esta é uma falácia duplamente falsa. Em primeiro lugar é falsa porque os votos não encontram a representatividade necessária para que essa responsabilização possa ser feita, porque responsabilizar um partido não é o mesmo que representar os titulares dos cargos políticos que deveriam ser avaliados individualmente – e a diluição no grupo protege os incompetentes e os vigaristas. Em segundo lugar, porque não existe uma verdadeira alternativa (nunca houve, na realidade) que permita castigar os políticos com comportamentos danosos para a imagem do país e para o erário público através de uma votação. Basta ver os “retornos” políticos. Basta atentar que os ex-governantes encontram guarida como deputados no seu partido e se mantém pela Assembleia e pelas listas, independentemente da vontade dos portugueses. Como todo os partidos agem da mesma maneira, deixa de existir alternativa política e, consequentemente, verdadeira responsabilização política patrocinada pelo eleitor. E, por favor, abstenham-se de retóricas tais como "porque não crias um partido político alternativo?" É o mesmo que dizer a um náufrago que se não devia ter metido no barco em primeiro lugar, que deveria ter viajado de avião. Mas nós já estamos no barco, não é viável criar um novo partido político (vide Manuel Monteiro) e o barco está à deriva.

Acho que os governantes deveriam ser responsabilizados amplamente por certo tipo de decisões, nomeadamente decisões que impliquem custos elevados para o Estado directamente imputáveis a incúria, desleixo, compadrio e ignorância. Se não são capazes de o fazer demitam-se. É necessário profissionalizar a decisão para que depois essa decisão possa ser julgada com critérios racionais, reduzindo drasticamente a existência de decisões ad-hoc e de corrupção. Acho também que decisões complexas como é o caso da construção de novos aeroportos, alterações de planos de pormenor, acções que levem a endividamento substancial ou a investimento substancial deveriam ser tomadas de forma colegial, à priori, e não utilizar as comissões para avaliações posteriores para controlo de danos, que mais não são que escusas para justificar a existência de tantos deputados na Assembleia da República e oportunidades para fazer lavagem de roupa e "chicane" política, como o podem testemunhar a Maria José "mas quem é este palhaço" Nogueira Pinto e o "papa-gravadores" socialista, Ricardo Gonçalves. Cada elemento dessa comissão teria que indicar o seu parecer de forma justificada e todos eles ficariam sujeitos a vir a ser responsabilizados pelos danos que a sua decisão pudesse acarretar.

Sim, é verdade que o processo de fiscalização da existência de dolo se mantém. Mas se queremos começar a higienizar a nossa sociedade é preciso começar pelos líderes. Um bom começo é um que diminua a probabilidade de existência de corrupção.

Concedo que a decisão colegial que proponho possa ser apelidada de devaneio comunista mas não é, de todo, o caso. Eu não acredito no comunismo, tal como não acredito no capitalismo. São ambos modelos imperfeitos criados e executados por Homens imperfeitos. Contudo, acho que se os políticos querem realmente que os eleitores acreditem neles e na sua idoneidade é este o caminho que têm que seguir. Decisões estruturantes terão que ser, de algum modo ou até um certo ponto, colegiais e a responsabilização terá que ser efectiva e individual. Não há outra forma de devolver a credibilidade aos políticos, porque qualquer outra forma implica um voto de fé e os portugueses já não têm fé nos políticos, nem nos partidos. A abstenção é a prova disso mesmo.