quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O ludíbrio e a ilusão

O meu irmão mais velho tem um carro grande e está sempre a queixar-se do custo dos combustíveis. Ontem, passou por aqui para me ver e trouxe dois amigos e um palhaço que se ri quando lhe aperto o nariz!! Enquanto brincava com o palhaço, os três falavam sobre o preço do gasóleo e sobre o Presidente da GALP. Mais tarde, fui ler notícias sobre o assunto no Magalhães e cheguei a algumas conclusões:

Haverá alguma diferença entre iludir e ludibriar? Sim… e não.
Normalmente são acções que produzem o mesmo resultado. Contudo a sua intenção pode ser distinta. O ludíbrio é sempre um engano deliberado, suportado por uma agenda ou uma intenção escondida. Aqui manipula-se a informação de forma a que os resultados esperados sejam apresentados de maneira inversa à realidade, mas de acordo com o que nós desejamos. Já a ilusão pode ser a expectativa de algo que desejamos ou esperamos poder vir a acontecer com determinado grau de probabilidade e que varia de um grau a tender para o zero (utopia) até um grau a tender para o infinito (decisão informada). Como falamos de probabilidades, o resultado esperado nem sempre acontece e, por isso, se fala de ilusão. Este fenómeno pode ser influenciado por outros e por isso, reverter num determinado nível de manipulação, mas ela parte sempre de nós, dos nossos objectivos, desejos ou expectativas e por isso, não podemos dizer que fomos enganados, antes que nos enganámos a nós próprios na análise de probabilidades.
No entanto, quando nos referimos a organizações económicas, políticas, activistas ou outras, a ilusão é, na sua esmagadora maioria, um sinónimo de ludíbrio. É uma cortina de fumo que não nos deixa ver nada a não ser a cenoura, quando há uma, porque muitas vezes apenas se trata de nevoeiro cerrado, ocultador de uma determinada realidade.
A ilusão e o ludíbrio são técnicas muito poderosas e que são bem executadas pelos responsáveis das organizações. Contudo, há um limite para tudo. Não se pode apontar uma cenoura a um burro e esperar que o burro vá sempre atrás da cenoura se nunca lhe conseguir chegar. A certa altura, até o burro se apercebe que se trata de uma ilusão (ludíbrio?). Por isso, é curioso quando alguém é apanhado a atirar uma cenoura e se vê o cordel atado à cana de pesca, como foi o caso do presidente executivo da GALP em declarações recentes aos media:

«A Galp acompanha com prazer a baixa dos preços das cotações internacionais», afirmou Ferreira de Oliveira, presidente executivo da Galp, na conferência de imprensa para apresentação dos resultados do terceiro trimestre do ano.

Deve ser o prazer masoquista de acompanhar a descida bem devagarinho… as cotações internacionais descem 20 cêntimos, a GALP desce, sei lá, 1 cêntimo.

Ferreira de Oliveira voltou a sublinhar que a variação do crude não implica uma mexida imediata dos preços finais dos combustíveis. «Acompanhamos é a ilusão dos preços dos produtos. Quanto mais depressa tivermos os nossos clientes tranquilos, melhor para nós», acrescentou.

Claro que sim, ora então vamos dar a ilusão de que baixamos o preço dos produtos baixando um cêntimo e ainda ganhando 19. Para tranquilizarmos os nossos clientes adicionamos um aditivo que, quando inalado por ocasião do abastecimento, provoca um certo torpor e sensação de felicidade

Quanto à evolução do mercado até ao final deste ano, considera que os preços vão continuar a descer e, quando questionado sobre se acredita que o gasóleo pode valer menos de 1 euro, respondeu que «seria muito feliz» se isso acontecesse.

Faltou acrescentar que ficaria muito feliz, desde que a descida desses cêntimos ao consumidor tivesse sido precedida por uma descida MAIOR nas cotações internacionais.

Será que ele pensa que convence algum burro com esta cenoura?

Pois a mim só me apetece apertar o nariz vermelho do palhaço que me ofereceram para que se ria! E já tem um nome: é "Presidente Executivo".

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