Costuma-se dizer que no meio é que está a virtude, mas é falso. No meio está o homem, prisioneiro dos extremos. Cada vez que nos aproximamos dos extremos há uma força magnética que nos empurra novamente para o centro, para o compromisso, para o consenso, para a paz, para a banalidade, para a serenidade. Contudo, quando nos aproximamos do centro sentimo-nos novamente repelidos para os extremos como se fossemos ímans de cargas opostas. Não aguentamos muito tempo sem criar, sem pensar, sem observar. Não aguentamos muito tempo sem expressar o nosso egoísmo, o instinto que nos leva a fugir do que conhecemos e do que temos para procurar mais. E depois de atingir esse mais, queremos voltar ao aconchego da nossa humanidade para saborear o que alcançámos.
Ambas as forças são energias humanas. Por um lado a criatividade, a diferença, a ansiedade, a agressão, o frenesim, o confronto, a ambição , o individualismo e o egoísmo, a repelirem-nos para os extremos. Por outro, a normalização, a partilha, o consenso a atrairem-nos para o centro. Todos vivemos nesta dualidade que saltita entre a presença e a ausência, entre o sentimento de pertença e a necessidade de afirmação individual. Todos nós nos sentimos puxados em direcções diferentes e abrimos conflitos internos que se vão renovando. Todos nós vivemos no paradoxo em que só poderemos encontrar a liberdade procurando a diferença mas apenas seremos livres quando formos absolutamente iguais.
domingo, 31 de julho de 2011
Centros de Saúde - o serviço adiado
As minhas experiências recentes em Centros de Saúde não têm sido as melhores. As duas últimas, em Queluz, resultaram em duas entradas no livro de reclamações, de modo que resolvi finalmente inscrever-me em Oeiras, zona da minha residência vai para uns sete anos. Gostava de dizer agora que a mudança foi grande e para melhor mas na realidade não foi. Se descontar a melhoria do edifício, mais recente que o de Queluz e, aparentemente, mais bem dimensionado para a quantidade de utentes que o utiliza, as mudanças ascendem a… zero. Registei, para já, que a burocracia se mantém – já o esperava – e que o mero processo informático de troca de centro de saúde não terá sido bem desenhado ou bem implementado ou então está construído sobre tecnologia obsoleta. O efeito prático resulta em “penso que o seu processo foi alterado mas o melhor é ligar amanhã para ter a certeza”. Se juntarmos este facto à formação deficiente ou incapacidade de actualização por parte das pessoas mais idosas que trabalham no atendimento ao público temos uma grande chatice que nos faz perder bastante tempo.
Depois, finalmente inscrito e registado no sistema, continuo a não poder ter médico de família, o que só é uma chatice porque, conforme me foi explicado pela senhora do atendimento, apesar de eu sustentar todo este sistema com os meus impostos, não tendo médico de família apenas serei atendido no Centro de Saúde da minha área se tiver a felicidade de apanhar uma das TRÊS consultas disponíveis de manhã por ordem de chegada. Todas as restantes consultas estão reservadas! Apesar de pagar mais para este sistema de saúde que a maioria das pessoas que dele usufruem, significando com isso que os meus impostos servem, muito justamente, para permitir que pessoas com menos rendimentos possam ter os cuidados de saúde essenciais acabo, no processo, por ter um serviço pior para mim. E isso é incompreensível e inaceitável. Defendo, por isso, que se deve instituir o fim do privilégio chamado “médico de família”, quer seja porque todos o passamos a ter e deixa de ser um privilégio para passar a ser uma "commodity" ou porque todos o deixamos de ter e passamos a ser atendidos por marcação ou por hora de chegada.
Isto é uma agulha no palheiro. Mas é uma agulha que está espetada em boa parte da população e legitima a má imagem dos serviços de saúde. Por vezes bastam pequenas mudanças para fazer grandes progressos.
Depois, finalmente inscrito e registado no sistema, continuo a não poder ter médico de família, o que só é uma chatice porque, conforme me foi explicado pela senhora do atendimento, apesar de eu sustentar todo este sistema com os meus impostos, não tendo médico de família apenas serei atendido no Centro de Saúde da minha área se tiver a felicidade de apanhar uma das TRÊS consultas disponíveis de manhã por ordem de chegada. Todas as restantes consultas estão reservadas! Apesar de pagar mais para este sistema de saúde que a maioria das pessoas que dele usufruem, significando com isso que os meus impostos servem, muito justamente, para permitir que pessoas com menos rendimentos possam ter os cuidados de saúde essenciais acabo, no processo, por ter um serviço pior para mim. E isso é incompreensível e inaceitável. Defendo, por isso, que se deve instituir o fim do privilégio chamado “médico de família”, quer seja porque todos o passamos a ter e deixa de ser um privilégio para passar a ser uma "commodity" ou porque todos o deixamos de ter e passamos a ser atendidos por marcação ou por hora de chegada.
Isto é uma agulha no palheiro. Mas é uma agulha que está espetada em boa parte da população e legitima a má imagem dos serviços de saúde. Por vezes bastam pequenas mudanças para fazer grandes progressos.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Vacinas para o lixo
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Privatizar
Muito se tem discutido nas últimas décadas sobre qual o papel do estado na economia, nomeadamente no que diz respeito ao modelo de intervenção no tecido económico. Há quem defenda a liberalização absoluta das funções produtiva e de serviços, há quem defenda a manutenção de sectores chave no jugo público e há quem defenda um modelo misto ou até conjuntural, assegurando serviços específicos ou garantindo o desenvolvimento de produtos e serviços em que se pretende efectuar uma aposta estratégica.
A crise instalada tem servido de catalizador para uma discussão mais intensa. O Ministro das Finanças anunciou um programa alargado de privatizações. Ainda há poucas semanas atrás Mário Soares fez saber que não concorda com o neoliberalismo de Pedro Passos Coelho receando que o modelo económico actual e o estado social venham a ser aniquilados. Esse receio veio a ser corroborado posteriormente por um estudo do INE que assume a existência de dois milhões de portugueses a viver no limiar da pobreza em 2005, apesar do forte apoio do estado. Ora eu não sou partidário de deitar dinheiro fora em subsídios desnecessários ou mal aplicados mas concordo que um dos papéis do estado é garantir que a sua população possa sobreviver, em primeiro lugar, e crescer, em segundo. Não faz sentido o conceito de Estado sem população, tal como não faz sentido, pelo menos para mim, a existência de um estado que privilegie as classes instaladas no poder e abandone as classes marginalizadas, apenas porque não têm poder económico e são incapazes de sair de um ciclo vicioso que é tanto sua responsabilidade como responsabilidade de quem detém o poder, ou não fossem estes últimos os principais interessados na manutenção do status quo. Ainda não foi há muitos meses que um ministro das finanças foi para o exterior vender a ideia de que é bom investir em Portugal porque temos salários baixos! É preciso contenção mas também é preciso critério.
Trago este tema à baila porque a primeira iniciativa deste governo foi anunciar a privatização da grande maioria das empresas públicas. Aliás, o tema já estivera em cima da mesa na recente campanha eleitoral e não é surpresa nenhuma. Nessa altura, todos os quadrantes políticos rapidamente se prontificaram a desenhar as posições que mais os favorecessem junto das suas clientelas sem que tal significasse um prejuízo político no imediato. O Partido Comunista, como habitualmente, manifestou-se contra qualquer tentativa de privatização, passando e repassando a velha e gasta cassete de sempre. Não querendo glosar sobre a razão, ou falta dela, que os comunistas possam ter, acredito que nem eles próprios sabem porque não querem privatizar. Jerónimo de Sousa, no máximo da sua capacidade de eloquência, avisava que a direita queria tirar a “chicha” e deixar os ossos, referindo-se à suposta privatização de empresas rentáveis tais como a Galp ou a Edp. Teria razão se não estivéssemos no buraco em que estamos e que nos obriga a vender os ossinhos também, assim alguém os queira comprar.
O Partido Socialista, recém saído de uma esquerda muito endireitada e desnorteada, avançou e recuou nas privatizações e não tinha muito a dizer sobre o assunto a não ser manter-se na posição dúbia que lhe garantisse passar um pouco despercebido entre as gotas de água e evitar perder mais votos. Parece-me que o governo socialista foi defensor das privatizações mas esteve sempre refém de pressões várias que as impossibilitaram. Curiosamente, acabaram por ver-se "obrigados" a nacionalizar um banco quando se viu a crise financeira prestes a fazer a sua primeira vítima em Portugal (ou assim o comunicou o governo socialista).
O PSD, e principalmente o apagado candidato Passos Coelho, na expectativa de aproveitar a onda negativa que afogou Sócrates, tratou de medir o pulso ao eleitorado, testando o grau de liberdade permitido pela crise. Os barões do partido e outros clientes afiavam os dentes e salivavam com as privatizações da Caixa Geral de Depósitos e com a Galp e os espanhóis com a Edp. Aos eleitores apenas interessava o combate à corrupção e a privatização pareceu uma boa maneira de o fazer, pelo que legitimaram com o voto a pretensa social-democrata de utilizar a crise para privatizar.
Em boa verdade, neste momento não há uma alternativa melhor para as privatizações por causa das necessidades financeiras do estado, pelos compromissos assumidos, pela máquina pesada que se encontra em andamento. Aliás, se adoptarmos uma perspectiva histórica, de muito longo prazo, não há uma solução única e tudo passa a ser conjuntural. Num momento faz sentido nacionalizar, noutro fará sentido privatizar. Sobretudo há que decidir qual é o papel do estado ou qual é o seu papel num determinado momento. Não sou especialista em história político-económica mas, olhando para trás, talvez as nacionalizações tenham permitido diminuir o desemprego e aumentar, por esse meio o rendimento da população. Só que um dos efeitos colaterais foi o aumento da corrupção, da injustiça e a promoção da incompetência nos quadros do Estado. Hoje, é possível que a crise promova a adopção de medidas de maior eficiência económica e que se liberte a função estatal das garras dos incompetentes, pelo menos, já que estou menos confiante no que diz respeito aos corruptos. Quero, porém, acreditar que um governo com tanta gente fora do radar político possa fazer um bom trabalho também nessa área.
Sou da opinião que o Estado deve minimizar a sua intervenção directa no meio produtivo pela única razão de estar demonstrado que o Estado (ainda) não sabe gerir com eficiência e depois somos nós, contribuintes, que temos que colmatar os desvarios cometidos, de que são exemplo a Rtp, a Refer e a Cp, através de impostos mais pesados. Destas ineficiências há uma que é particularmente obnóxia e que passa pela contratação de amigos para cargos dirigentes, cargos esses, muitas vezes criados à medida. Não só se esbanja muito dinheiro nas mordomias como também se gasta ou perde dinheiro pela incompetência dos actos de gestão. Parece-me que esta razão é suficiente para que o governo tenha carta branca para proceder às privatizações e vai ser-lhe dada pelos portugueses exactamente por que o papel social do Estado deve existir para os necessitados e não para os amigos. Dito isto, acho que o Estado deve sofrer um emagrecimento considerável mas não ser sangrado até à morte. Os serviços que constituem a razão de ser do Estado devem ser mantidos na esfera pública. Refiro-me à Saúde, à Justiça, à Educação e ao Apoio Social. Adicionalmente não gostaria de ver a Caixa Geral de Depósitos privatizada porque me parece importante manter o bastião financeiro português sob o controlo do Estado, especialmente em momentos de crise, como o que atravessamos.
Os dados estão lançados. Esperemos que o Governo tenha o bom senso de não querer ser mais papista que o papa e não proceda a uma liberalização demasiado extensa para o nosso próprio bem.
A crise instalada tem servido de catalizador para uma discussão mais intensa. O Ministro das Finanças anunciou um programa alargado de privatizações. Ainda há poucas semanas atrás Mário Soares fez saber que não concorda com o neoliberalismo de Pedro Passos Coelho receando que o modelo económico actual e o estado social venham a ser aniquilados. Esse receio veio a ser corroborado posteriormente por um estudo do INE que assume a existência de dois milhões de portugueses a viver no limiar da pobreza em 2005, apesar do forte apoio do estado. Ora eu não sou partidário de deitar dinheiro fora em subsídios desnecessários ou mal aplicados mas concordo que um dos papéis do estado é garantir que a sua população possa sobreviver, em primeiro lugar, e crescer, em segundo. Não faz sentido o conceito de Estado sem população, tal como não faz sentido, pelo menos para mim, a existência de um estado que privilegie as classes instaladas no poder e abandone as classes marginalizadas, apenas porque não têm poder económico e são incapazes de sair de um ciclo vicioso que é tanto sua responsabilidade como responsabilidade de quem detém o poder, ou não fossem estes últimos os principais interessados na manutenção do status quo. Ainda não foi há muitos meses que um ministro das finanças foi para o exterior vender a ideia de que é bom investir em Portugal porque temos salários baixos! É preciso contenção mas também é preciso critério.
Trago este tema à baila porque a primeira iniciativa deste governo foi anunciar a privatização da grande maioria das empresas públicas. Aliás, o tema já estivera em cima da mesa na recente campanha eleitoral e não é surpresa nenhuma. Nessa altura, todos os quadrantes políticos rapidamente se prontificaram a desenhar as posições que mais os favorecessem junto das suas clientelas sem que tal significasse um prejuízo político no imediato. O Partido Comunista, como habitualmente, manifestou-se contra qualquer tentativa de privatização, passando e repassando a velha e gasta cassete de sempre. Não querendo glosar sobre a razão, ou falta dela, que os comunistas possam ter, acredito que nem eles próprios sabem porque não querem privatizar. Jerónimo de Sousa, no máximo da sua capacidade de eloquência, avisava que a direita queria tirar a “chicha” e deixar os ossos, referindo-se à suposta privatização de empresas rentáveis tais como a Galp ou a Edp. Teria razão se não estivéssemos no buraco em que estamos e que nos obriga a vender os ossinhos também, assim alguém os queira comprar.
O Partido Socialista, recém saído de uma esquerda muito endireitada e desnorteada, avançou e recuou nas privatizações e não tinha muito a dizer sobre o assunto a não ser manter-se na posição dúbia que lhe garantisse passar um pouco despercebido entre as gotas de água e evitar perder mais votos. Parece-me que o governo socialista foi defensor das privatizações mas esteve sempre refém de pressões várias que as impossibilitaram. Curiosamente, acabaram por ver-se "obrigados" a nacionalizar um banco quando se viu a crise financeira prestes a fazer a sua primeira vítima em Portugal (ou assim o comunicou o governo socialista).
O PSD, e principalmente o apagado candidato Passos Coelho, na expectativa de aproveitar a onda negativa que afogou Sócrates, tratou de medir o pulso ao eleitorado, testando o grau de liberdade permitido pela crise. Os barões do partido e outros clientes afiavam os dentes e salivavam com as privatizações da Caixa Geral de Depósitos e com a Galp e os espanhóis com a Edp. Aos eleitores apenas interessava o combate à corrupção e a privatização pareceu uma boa maneira de o fazer, pelo que legitimaram com o voto a pretensa social-democrata de utilizar a crise para privatizar.
Em boa verdade, neste momento não há uma alternativa melhor para as privatizações por causa das necessidades financeiras do estado, pelos compromissos assumidos, pela máquina pesada que se encontra em andamento. Aliás, se adoptarmos uma perspectiva histórica, de muito longo prazo, não há uma solução única e tudo passa a ser conjuntural. Num momento faz sentido nacionalizar, noutro fará sentido privatizar. Sobretudo há que decidir qual é o papel do estado ou qual é o seu papel num determinado momento. Não sou especialista em história político-económica mas, olhando para trás, talvez as nacionalizações tenham permitido diminuir o desemprego e aumentar, por esse meio o rendimento da população. Só que um dos efeitos colaterais foi o aumento da corrupção, da injustiça e a promoção da incompetência nos quadros do Estado. Hoje, é possível que a crise promova a adopção de medidas de maior eficiência económica e que se liberte a função estatal das garras dos incompetentes, pelo menos, já que estou menos confiante no que diz respeito aos corruptos. Quero, porém, acreditar que um governo com tanta gente fora do radar político possa fazer um bom trabalho também nessa área.
Sou da opinião que o Estado deve minimizar a sua intervenção directa no meio produtivo pela única razão de estar demonstrado que o Estado (ainda) não sabe gerir com eficiência e depois somos nós, contribuintes, que temos que colmatar os desvarios cometidos, de que são exemplo a Rtp, a Refer e a Cp, através de impostos mais pesados. Destas ineficiências há uma que é particularmente obnóxia e que passa pela contratação de amigos para cargos dirigentes, cargos esses, muitas vezes criados à medida. Não só se esbanja muito dinheiro nas mordomias como também se gasta ou perde dinheiro pela incompetência dos actos de gestão. Parece-me que esta razão é suficiente para que o governo tenha carta branca para proceder às privatizações e vai ser-lhe dada pelos portugueses exactamente por que o papel social do Estado deve existir para os necessitados e não para os amigos. Dito isto, acho que o Estado deve sofrer um emagrecimento considerável mas não ser sangrado até à morte. Os serviços que constituem a razão de ser do Estado devem ser mantidos na esfera pública. Refiro-me à Saúde, à Justiça, à Educação e ao Apoio Social. Adicionalmente não gostaria de ver a Caixa Geral de Depósitos privatizada porque me parece importante manter o bastião financeiro português sob o controlo do Estado, especialmente em momentos de crise, como o que atravessamos.
Os dados estão lançados. Esperemos que o Governo tenha o bom senso de não querer ser mais papista que o papa e não proceda a uma liberalização demasiado extensa para o nosso próprio bem.
domingo, 17 de julho de 2011
quinta-feira, 7 de julho de 2011
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Nobre - o cometa político
Fernando Nobre teve o primeiro efeito cometa da política portuguesa da minha geração. Tão depressa chegou como partiu.
Tal como um verdadeiro cometa, Nobre namorou um planeta socialista mas acabou por se aproximar demasiado do planeta social democrata, atraído pela sua "maior gravidade", esquecendo-se que os cometas são normalmente capturados e destruídos pela atmosfera desses planetas, mesmo que também eles sofram mossa e ganhem crateras na sua superfície.
Nobre aparece ou reaparece na cena política num momento delicado para o país. Surgiu no encalço de umas eleições onde o candidato de direita estava eleito, a esquerda não tinha alternativa e deixou o poeta-desastre finalmente candidatar-se para o queimar de uma vez por todas, um pouco o que tinham feito a Soares uns anos antes, pela mesma ocasião.
Por ter aparecido do nada político foi aclamado por uma faixa considerável da população jovem, principalmente de esquerda mas não exclusivamente, instruída, esclarecida e aborrecida com a política e com os políticos de então. Perdeu as eleições como era esperado mas ganhou credibilidade suficiente para se poder colocar no espaço de maior crescimento na política nacional - o da abstenção. E foi com esta não-derrota que Nobre (se) perdeu. Porque se esqueceu que quem votou nele o fez porque ele não pertencia ao mundo da política. E quando se alia a Pedro Passos Coelho e, principalmente, devido à forma como essa aliança foi comunicada, acabou por alienar completamente a sua base de apoio, quase levando com ele o próprio Passos. Aliás, não tivesse Passos uma conjuntura tão desequilibradamente favorável e a história seria outra.
Entretanto, os deputados profissionais, aqueles que não passam de yes men ou que estão há anos nas preguiçosas cadeiras da Assembleia e utilizam os partidos políticos como feudos, despeitados pela afronta de terem que se sujeitar a alguém que não utilizou habilidades nem escalou compadrios para chegar onde chegou, apressaram-se a capitalizar a evidente fragilidade de Nobre nos tortuosos caminhos da política bem como a dissonância da aliança vencedora das eleições no que à sua eleição dizia respeito e trucidaram-no completamente, num assassinato político de que não há memória em Portugal. A vingança serve-se fria, dirão os deputados do partido socialista. Eis a vingança como forma de fazer política e eis o magnífico exemplo que nos dão os nossos iluminados representantes! Até José Seguro, que não terá muita coisa de interesse para dizer, veio zurzir no defunto, por ter abandonado o seu posto de deputado.
Em virtude do comportamento da Assembleia, Nobre ficou sem opções. Ou se mantinha por lá a vegetar como boa parte dos seus (ex-)colegas sem que pudesse realmente ter um impacto onde quer que fosse ou se demitia. Demitiu-se e assumiu o único acto que, na minha opinião, lhe permitiu manter a dignidade, demonstrando que não era o dinheiro (ou a inexplicável pensão a que os políticos têm direito) que o movia a assumir o papel de deputado mas sim um espírito de missão. Missão essa que lhe não seria permitida pelo aparelho social-democrata. Quantos dos outros poderão bater com a mão no peito e afirmar o mesmo?
Tal como um verdadeiro cometa, Nobre namorou um planeta socialista mas acabou por se aproximar demasiado do planeta social democrata, atraído pela sua "maior gravidade", esquecendo-se que os cometas são normalmente capturados e destruídos pela atmosfera desses planetas, mesmo que também eles sofram mossa e ganhem crateras na sua superfície.
Nobre aparece ou reaparece na cena política num momento delicado para o país. Surgiu no encalço de umas eleições onde o candidato de direita estava eleito, a esquerda não tinha alternativa e deixou o poeta-desastre finalmente candidatar-se para o queimar de uma vez por todas, um pouco o que tinham feito a Soares uns anos antes, pela mesma ocasião.
Por ter aparecido do nada político foi aclamado por uma faixa considerável da população jovem, principalmente de esquerda mas não exclusivamente, instruída, esclarecida e aborrecida com a política e com os políticos de então. Perdeu as eleições como era esperado mas ganhou credibilidade suficiente para se poder colocar no espaço de maior crescimento na política nacional - o da abstenção. E foi com esta não-derrota que Nobre (se) perdeu. Porque se esqueceu que quem votou nele o fez porque ele não pertencia ao mundo da política. E quando se alia a Pedro Passos Coelho e, principalmente, devido à forma como essa aliança foi comunicada, acabou por alienar completamente a sua base de apoio, quase levando com ele o próprio Passos. Aliás, não tivesse Passos uma conjuntura tão desequilibradamente favorável e a história seria outra.
Entretanto, os deputados profissionais, aqueles que não passam de yes men ou que estão há anos nas preguiçosas cadeiras da Assembleia e utilizam os partidos políticos como feudos, despeitados pela afronta de terem que se sujeitar a alguém que não utilizou habilidades nem escalou compadrios para chegar onde chegou, apressaram-se a capitalizar a evidente fragilidade de Nobre nos tortuosos caminhos da política bem como a dissonância da aliança vencedora das eleições no que à sua eleição dizia respeito e trucidaram-no completamente, num assassinato político de que não há memória em Portugal. A vingança serve-se fria, dirão os deputados do partido socialista. Eis a vingança como forma de fazer política e eis o magnífico exemplo que nos dão os nossos iluminados representantes! Até José Seguro, que não terá muita coisa de interesse para dizer, veio zurzir no defunto, por ter abandonado o seu posto de deputado.
Em virtude do comportamento da Assembleia, Nobre ficou sem opções. Ou se mantinha por lá a vegetar como boa parte dos seus (ex-)colegas sem que pudesse realmente ter um impacto onde quer que fosse ou se demitia. Demitiu-se e assumiu o único acto que, na minha opinião, lhe permitiu manter a dignidade, demonstrando que não era o dinheiro (ou a inexplicável pensão a que os políticos têm direito) que o movia a assumir o papel de deputado mas sim um espírito de missão. Missão essa que lhe não seria permitida pelo aparelho social-democrata. Quantos dos outros poderão bater com a mão no peito e afirmar o mesmo?
Subscrever:
Mensagens (Atom)