quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Taylorismo na Comporta... ainda por cima mal implementado

Ele há coisas que se encontram nos sítios mais inesperados. Como por exemplo, encontrar o taylorismo num restaurante na praia da comporta, quando se julgava apenas existir em unidades industriais.

Tudo começou ao entrar no restaurante. Logo aí, apesar de existirem cerca de 5 empregados a cirandar, sem fazer realmente nada, ninguém nos indicava uma mesa. Só quando finalmente perguntámos a um dos indivíduos onde nos podíamos sentar é que obtivémos uma resposta... ou algo do género porque não saiu palavra daquela boca, apenas um aceno com o pescoço que levou a cabeça agarrada e com a mão, como que indicando qualquer um dos disponíveis. Enfim, mais tarde verificámos que era ucraniano ou romeno, vá lá, da Europa de Leste.

Bom, não foi aqui que identificámos o regime taylorista mas esta desorganização inicial deveu-se, seguramente, a uma falha na identificação desta tarefa ou à ausência do seu responsável.

Adiante...
Sentámo-nos e eis que chega alguém a oferecer couverts, Não muito obrigado mas queremos duas caipirinhas, Ah, isso não é comigo, têm que falar com o responsável das bebidas, Ai sim? Muito bem, queremos também uma entrada mas não esses couverts, Ah isso é com outra pessoa, aguardem um momento.

Aguardámos. Vários momentos. E como eu gosto de esperar...

Entretanto um outro empregado lá foi montar o guarda-sol...

Continuámos a aguardar...

Até que chamámos o tipo que nos tinha indicado a mesa, ao que ele respondeu que não podia, que era outra pessoa que fazia os pedidos das bebidas.

E FINALMENTE lá chegou o tipo das bebidas que registou o pedido, avisou que o couvert tinha que ser pedido a outra pessoa, que não era com ele. Lá vem a senhora do couvert outra vez a perguntar se sempre queríamos couvert, ao que respondemos que queríamos apenas pão e chouriço para a entrada e não os queijinhos que nos mostrara antes, ao que replicou, Ah mas isso já não é comigo eu só apresento o couvert, há-de vir aqui alguém registar o pedido porque, sabe, cada um aqui tem as suas tarefas, Ah, estou a ver, disse eu e pode chamá-lo?, Sim senhor, E lá veio o rapaz que tinha aberto o guarda-sol registar o pedido e, esperamos nós, trazer as bebidas, porque essas já tardam. Agora parece estar resolvido!

Aparece o chouriço, entregue pelo indivíduo cujas tarefas são levar as pessoas à mesa, montar guarda à porta e, pelos vistos, entregar chouriço que o resto dos pratos ainda não sabemos. Já o pão, esse, não veio com o chouriço, estranhamente dado serem de tão boa companhia e não poucas vezes viajarem amalgamados. Se não veio porque não havia regra definida para trazer pão sem couvert ou para trazer pão com chouriço, ou se foi má vontade da senhora dos queijos por termos repudiado o seu lacto produto ou se foi o mais vulgar esquecimento não o soubemos...mais à frente veremos que viríamos a pagar dois cestos de pão embora apenas um tenha conseguido chegar imaculado à nossa mesa. Muitos e tortuosos são os caminhos do pão!

Lá vieram as caipirinhas, entregues pelo responsável pelo seu registo, estranho que o responsável por trazer o chouriço à mesa já o não seja para as bebidas mas avancemos que se faz tarde e o chouriço tem que ir a banhos. Aproveitamos para perguntar pelo pão, Sabemos que não é tarefa sua mas os seus colegas devem ter-se esquecido, e lá chegou o pão entregue não pelo rapaz das bebidas, aguadeiro seria um século antes, nem sequer pela menina das entradas de queijo mas, agora sim, pelo moço que indica a mesa, guarda a porta, entrega o chouriço... e o pão.

Sigamos em frente, para já parece que tudo está como Deus manda e o cliente exige, que Deus não poderia ser tão exigente ou não teria criado a raça humana e eis que vem o prato principal, que fique registado que era tamboril de arroz quando o costume indica o contrário, mais uma vez entregue pelo moço da entrega do chouriço, parece afinal que ele ganha aos outros na quantidade de tarefas, será isso bom ou mau não o sabemos. Já o picante é trazido pelo rapaz que regista os pedidos de comeres que não de beberes... UFFFF, é complicado para nós, clientes, manter o registo de quem é quem. O BRG acaba por sugerir que cada um deveria trazer uma indicação sobre qual a especialidade que dominavam mas não a fez a quem mais lucraria com ela e perdeu-se nos vapores que emanavam do tacho de tamboril.

Entre garfadas e vira-copos lá se foi pedindo mais uma imperial, desta feita pedida nem sei a quem mas trazida pelo rapaz que abriu o guarda-sol, que terá sido feito do aguadeiro, talvez preso nos lavabos que o stress de tão complicada divisão e cruzamento de tarefas dá as voltas ao estômago a qualquer alma. Já a sobremesa e os cafés foram pedidos a e entregue por esse mesmo rapaz, um claro rasgão na rigidez das tarefas definidas por algum proprietário reformador com tiques de classicismo, mas no vórtice de tanta confusão, tal terá passado despercebido a todos, até ao próprio empregado.

Assim se passou o resto da refeição, observando a confusão reinante em que uma dezena de empregados se cruzava, atrapalhava e confundia os clientes.

Bem saciados de comer, de beber e de rir, que rir também faz trabalhar o estômago, eis senão que vemos tudo começar de novo na mesa ao lado, verdinhos e acabadinhos de chegar, O que é este Arroz de peixe?, Ah, têm que perguntar ao meu colega que faz o registo do pedido, eu só trato das bebidas - diz o aguadeiro, e nós não aguentámos e rimos que nem uns perdidos, acompanhados por alguns sorrisos da moça dos queijos, encostada à porta, que o anterior porteiro desaparecera, que a ela já havíamos perguntado pela maneira como estavam organizados para que endereçássemos os nossos pedidos às pessoas adequadas, ao que ela respondeu, Eu só trato de levar as entradas às mesas, as bebidas são com outra pessoa e os pedidos com outra ainda, E mais não soubemos porque nem ela sabia, nem nós o queríamos saber realmente, haveríamos de chamar o que estivesse mais perto.

E por fim chegou a Patrícia Bull e com ela, em pano de fundo, um grupo de golfinhos saudando os banhistas com a barbatana de fora culminando uma refeição diferente...

Ah e não me lembro quem trouxe a conta mas foi a paga a uma outra empregada, concerteza responsável pelos pagamentos das mesas com número primo (apenas divisíveis por 1 e pelo próprio).

Charlie Chaplin ficaria deliciado!

Desculpem qualquer coisinha pela escrita mas ando a ler Saramago e tal acto destrambelhou-me toda a pontuação.

2 comentários:

PSousa disse...

Valha a Patricia Bull ;)

De morte!

;)

Ana Guedes disse...

Patrícia Bull que foi "tratada" pelo aguaeiro. Alusão à bebida energética, que não se chama Patrícia ;).