segunda-feira, 31 de maio de 2010

Abandono

Para quem gosta de criar a destruição é penosa e a justificação de que é preciso destruir para dar espaço à criação não me convence totalmente. Fico angustiado quando tal acontece, como fico angustiado com a evolução natural da vida em que uns morrem para dar lugar a outros.

Quando criamos alguma coisa ou disso temos a ilusão, essa "coisa" passa a fazer parte de nós, mais um punhado de átomos que, por acaso, estão fora do nosso corpo mas que têm o nosso código genético ou a nossa impressão digital.

É por essa razão que guardamos com carinho coisas absurdas como desenhos, cadernos da primária, figuras de barro dos nossos filhos (uma extensão de nós), ou aquele cinzeiro em barro que fizemos no preparatório. Apesar de não terem utilidade nenhuma e ficarem apenas a ocupar um espaço qualquer numa gaveta ou numa arrecadação representam algo nosso, algo a que dedicamos atenção, suor e carinho.

Por esse motivo é difícil destruir algo. Por isso é difícil deixar algo para trás, que abandonar é o mesmo que destruir, com a diferença de não sermos nós a executar a sentença final. Alguém se encarregará disso, quem sabe, o tempo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A Muse



Do you hear'em coming?
Do you feel their soft silky skin, rushing by you, almost touching you but never actually doing so?
Do you sense'em drifting in the corner of the eye, mixing up illusion and delusion, always promising and denying at the same time?
Do you hear them singing like Wendy James?
Can you listen to the muffled sound of their illusive footsteps?
Can you feel the momentum when something new is almost sprouting and suddenly it bursts into smithereens?
They allure and inspire. They divert and decoy.
They'll blow you a kiss, but it never reaches your cheeck - it's there, for all infinity, apparently getting near but never reaching it's destiny.

If you fall in love with the doomed are you to be doomed too?

Mirandela

A propósito de Mirandela e das suas alheiras de coelhinha,
lembrei-me deste post de 2008...

Foi premonitório ou não?!
Ah pois é!

O fim

Chegou o fim.
É tempo de um novo começo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

sábado, 15 de maio de 2010

Livros

A melhor maneira de um livro nos agarrar desde o primeiro momento é dizer na primeira página: Este livro é para ti, Gelo.

Funciona como quando vamos numa rua movimentada, na época de natal, no meio de dezenas de pessoas e ouvimos alguém gritar o nosso nome. Inevitavelmente, viramos a cabeça, procuramos detectar quem chama por nós.

Quando a primeira página de um livro descreve algo visceral do autor e essa preocupação encaixa, sem tirar nem pôr, na tua maneira de ver ou sentir a realidade, então esse livro só pode ser para ti. E ficas agarrado, passa a ser a tua Bíblia. É essa a razão do sucesso da Bíblia e de qualquer outro livro religioso. Eles foram concebidos como se fossem para cada um de nós, endereçando a preocupação mais básica e instintiva de todas - a morte - para além das restantes preocupações básicas, de modo a não alienar ninguém. Mas de algum modo, todos nos identificamos com a morte e com a vontade de viver. É essa vontade que nos leva a querer viver uma vida dentro de outra, duplicando, pelo menos, o nosso período de vida sensorial com uma ou mais realidades virtuais. Uns encontram essa realidade virtual nos escritos religiosos, outros nas obras Alice no País das das Maravilhas ou Senhor dos Anéis, outros na ficção científica, outros na ciência...

Cada um reage à sua maneira e procura o seu caminho, de acordo com o seu mapa de instintos, medos e desejos. Contudo, como no âmago da nossa existência está uma experiência acumulada de largas centenas de anos, esse facto acaba por se reflectir numa semelhança naquilo que, individualmente, ansiamos.

Por esse motivo é muito interessante que encontremos um livro que diga "Este és tu" e "Este livro é para ti"; "Aqui, encontras alguém, que vive noutro lado qualquer mas tem a tua preocupação, expressa exactamente nas mesmas palavras e com a mesma pontuação".

E como tal, não temos outro remédio se não ler o livro.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A disfunção pública

Sei que é chover no molhado mas em 2010 a função pública continua com um nível de serviço apenas comparável ao da Zon - péssimo. Indecente, por se tratar de um serviço público.

Começa por ser indecente formatar as pessoas a pensar que se querem ser atendidas com alguma celeridade têm que ir dormir para a porta de entrada, encostadinhos a outros indivíduos, perfeitos desconhecidos, que também têm pressa, por alguma razão que só a eles diz respeito. Começa assim a formar-se uma fila com hora e meia de avanço, como se fosse a sopa dos pobres e não tivéssemos outra opção que não esta para comer uma refeição aceitável para sobreviver. Naturalmente, nem a sopa dos pobres deveria ser assim (confesso que não sei se é) mas quando as necessidades básicas apertam a muita gente ao mesmo tempo, até percebo que tal possa acontecer. Depois, as portas abrem e dá-se o corre corre para as senhas - graças a deus que as pessoas já ganharam o nível de civilidade suficiente para não se atropelarem umas às outras - e, recolhido o precioso ingresso para a satisfação das nossas necessidades burocráticas, resta-nos esperar pela nossa vez.


Cheguei em quarto lugar, deverão abrir uns quatro postos de atendimento, logo imagino que serei atendido em 15 minutos. Pura ilusão! Aguardo 50 minutos para ser atendido, apesar de ter sido a quarta pessoa a entrar numa sala, onde estão cinco balcões abertos. Não sei se porque os funcionários ainda não tinham tomado o seu café matinal, se por abrirem menos balcões que o costume, se porque o Benfica foi campeão e estão de ressaca, ou se a conversa casual não estava posta em dia. Posso dizer que testemunhei os dois últimos aspectos quando, finalmente, fui atendido. Aliás, testemunhei-os durante o atendimento.

Lá apareceu o meu número no visor electrónico, levantei-me e dirigi-me ao balcão 8, irritado mas também contido, porque se há coisa que eu aprendi é que não vale a pena exteriorizar essa irritação para os funcionários públicos porque eles não compreendem que estão a trabalhar para os outros, que deverão ser facilitadores da vida e do trabalho dos outros, não o oposto. É uma questão de educação/formação que ainda não está perfeitamente resolvida, ainda que a evolução seja notória, diga-se em abono da verdade.

De qualquer modo, o que acabou por ser mais irritante para mim foi ter a consciência de que fiz um esforço enorme para ser atendido rapidamente e, no fim, fiquei a ver as senhas de todos os outros assuntos a ser despachados à minha frente. Devo ter sido a vigésima pessoa a ser atendida!

Quando finalmente fui atendido, calhou-me em sorte uma senhora idosa, nem simpática nem antipática, que lá foi fazendo o seu serviço com toda a calma do mundo, tirando fotocópias, enganando-se duas vezes a imprimir os documentos, a falar com a chefe que, seguramente não teria muito que fazer e que saía da sua sala para beber água de uma garrafa estrategicamente colocada fora do seu gabinete, na parte mais afastada da sala, provavelmente para que pudesse fazer uns passeiozitos e ter umas conversas de alguidar com as subordinadas.

Enfim, em 15 minutos fui despachado e preparei-me para o próximo embate: uma chamada para o call-center do ministério das Finanças, serviço de apoio técnico, cuja função é ajudar os contribuintes a ultrapassar "pequenos" problemas técnicos, como por exemplo, a emissão de uma certidão. A grande vantagem dos Help-desks telefónicos é que são muito mais rápidos que o atendimento ao público, principalmente porque ali ninguém vai fazer comentários sobre o Benfica ou sobre aquela senhora que disse qualquer coisa e tal. A minha primeira experiência com este serviço, um mês antes, fora aterradora - uma manhã inteira a ligar para me desligarem constantemente o telefone, do outro lado, após alguns segundos. Contudo, a esperança é a última a morrer e até pode ter sido um dia particularmente infeliz, o outro.

Mas vamos ligar o número grátis o quanto antes, que as filas virtuais costumam ser tão grandes como as outras... 707206707, "carregue no 0 para maior facilidade" (o quê?!?!?!), "carregue no 1 por isto" e "carregue no 5 por aquilo".

Resultado: enganei-me e devo ter "discado" os números de um serviço de jukebox, ainda por cima estragado, porque começou a tocar um trecho das quatro estações de Vivaldi, ininterruptamente durante 25 minutos. No entanto, para não perder a vez na fila de entrada telefónica, mesmo não sabendo se também estava em quarto, como na Segurança Social, ou se estava em centésimo oitavo, lá fiquei a ouvir em modo repeat:



Eu que ando mortinho para que o sol volte rapidamente, já não podia ouvir as notas da Primavera de Vivaldi! Tanto tempo estive à espera que podia ter ouvido todas as estações e ainda alguns microclimas!

De tal forma já não esperava que um ser humano me atendesse o telefone que a minha primeira reacção quando a música se calou foi chegar à carteira para colocar mais moedas na jukebox...

E depois de tanto tempo esperar, há que dizer que o atendimento foi rápido, competente e atencioso. Percebo agora porque esteve tanto tempo à espera. Foi o tempo necessário à preparação de um atendimento altamente personalizado e eficaz.

Afinal essas coisas levam tempo, não é?

sábado, 8 de maio de 2010

Is that a tape recorder in your pocket...







Or are you just happy to see me?

Compre já!!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O fabuloso e estranho mundo interior do Ser Humano

O cérebro, essa coisa gelatinosa e cinzenta, é um computador biológico sobre o qual muito pouco se sabe. Não se sabe com precisão como funciona, ainda que se saiba que as operações são efectuadas com base em descargas eléctricas entre os neurónios. Não se sabe exactamente onde e como armazena a informação que utiliza para essas operações, ainda que já tenhamos identificado áreas do cérebro que reagem consistentemente a certos estímulos. Não sabemos se já descobrimos a totalidade das suas capacidades. Desconhecemos os seus limites.

Esta pequena peça do corpo humano é na realidade a única que é completamente insubstituível para quem acredita em espiritualidade, não necessariamente em religião e essa espiritualidade pode não ser mais do que o conjunto das ligações alguma vez feitas por um determinado cérebro. Poderá ser, essa peça, a alma. Mas também pode não ser. Aparentemente, todas essas ligações poderão ser replicadas facilmente assim que encontremos a tecnologia adequada e isso seria o fim da alma enquanto entidade etérea, enclausurado dentro do corpo humano. Isso dir-nos-ia que o cérebro é apenas um computador orgânico, um computador que utiliza componentes biológicos, como o são os genes, para realizar as operações que os aparelhos a que chamamos computadores replicam com base em metal, plástico, silicone e energia.

Se acreditarmos que uma tecnologia futura permitirá destrinçar o cérebro, tornar-se-á fácil perceber que a alma, a existir, poderá ser replicada e, como tal, perderá a sua espiritualidade. Isto tendo em atenção a realidade que nós experimentamos no dia-a-dia.

Há, contudo, um facto curioso e que era para mim desconhecido até há poucas semanas, fora de um contexto de ficção científica, que pode trazer mais explicações ou confusão ao conceito de alma e ao conceito de espiritualidade. Refiro-me à existência de universos paralelos. Ainda é um tema controverso, mas alguns cientistas concluiram que, sem margem para dúvidas, existem universos paralelos em número infinito e citam algumas experiências que fundamentam explicações extremamente coerentes e convincentes. Ainda não estou preparado para aceitar todas essas explicações, muito menos perceber todas as implicações mas, no fundo, a explicação é tão interessante que eu desejo que seja verdadeira... vá lá saber-se porquê.

Assumamos assim que é verdade a existência desses infinitos universos paralelos e assumamos que é verdadeira a explicação de que existe alguma interferência entre eles. Uma vez que a fundamentação resultou de uma experiência com fotões (partículas de luz), assumamos também que há um impacto dessas partículas no nosso cérebro ou que, de algum modo, essas ou outras partículas que interagem com o nosso cérebro são susceptíveis de interferência.

Se tudo o que afirmei até aqui for verdade, parece que podemos determinar que num universo único a alma não existirá ou será apenas o nome dado a um conjunto de interacções e rotinas efectuadas por um computador, facilmente mimetizáveis e, por isso, sem individualidade. Mas, se considerarmos que existem universos infinitos, com variações ligeiras em todos eles, e que existem interferências entre eles que influenciem o nosso cérebro, então podemos dizer que a alma de um indivíduo pode ser a soma da actividade do seu cérebro adicionada de todas as interferências de todos os universos onde o seu cérebro existe. Parece quase um solipsismo multiuniversal mas não é. Tal hipótese poderia explicar o sobrenatural (sendo que, neste contexto, o natural é o que podemos experimentar no nosso universo) e também a existência de pessoas com capacidades extraordinárias como as que podem encontrar nos links abaixo, e que foram a verdadeira razão pela qual escrevi este post.

Será que a genialidade que demonstram estas pessoas está algures no cérebro de toda a gente neste lado do universo e apenas não se manifesta por uma qualquer razão de selecção natural, em que não houve necessidade ou espaço para o seu crescimento ou será que estão a beber de uma fonte quântica, feita de interferências de outros universos, fechada aos restantes seres humanos?

Seja qual a for a razão, eis o maravilhoso ser humano, que transforma as fraquezas em força.





The living camera
The PI Man
The Human iPod
Rain Man twins
Iceman
The artist with no eyes
The boy who lived before

Gratuito III