Um líder carismático é aquele que transforma as ideias em palavras e as palavras em imagens, porque toda a gente compreende imagens, ainda que nem todos compreendam as palavras.
Poderá ser-se um líder carismático apenas porque se repete o que um outro líder carismático disse uma vez?
Há líderes ou aspirantes a líder que escolhem um líder comprovado e sempre que podem enfiam uma bucha: gosto de repetir o que disse Sun Tzu "bla, bla, bla" ou, vocês sabem que eu gosto de Winston Churchill e ele disse algo como...
Estas citações e referências parecem-me sempre muletas de quem não sabe criar as imagens necessárias para criar uma ideologia e uma ligação com a sua audiência e, por isso, vê-se na obrigação de seguir o caminho fácil da cópia. Assim, monta o seu discurso construindo um edifício assente em várias pedras de toque que não são de sua autoria e onde apenas decidiu a côr que embeleza o exterior para lhe dar algum contexto. Além disso, é curioso como as citações dos famosos são ditas com soberba e orgulho, como se por repeti-las as tornassem suas e legitimassem todo o seu discurso... afinal, Winston Churchill disse que um optimista transforma um problema numa oportunidade, por isso vamos lá vender mais retretes. E, de repente, a associação das retretes a Winston Churchill surge aos olhos do aspirante a líder como o seu próprio momento de glória e brilhantismo, o momento em que o seu discurso se revelou rico, culto e extremamente significante; no fundo, significante como uma retrete antes de se puxar o autoclismo. Pobre Winston, se calhar nem soube o que era um autoclismo!
Compreendo a estupefacção de quem me conheça, porque eu digo que gosto de frases feitas e essas incluem as citações de muito boa gente, que sintetizou uma realidade, uma ideia ou uma mensagem num conjunto restrito de palavras ou imagens. Porém, custa-me a engolir que essas imagens sejam estropiadas ou descontextualizadas, que se usem sem parcimónia e custa-me a aceitar que alguém se julgue um génio apenas porque é um papagaio.
O que falha na construção do edifício discursivo descrito em cima é tão apenas a credibilidade. A utilização de alguém de renome tem o objectivo de atribuir a credibilidade que falta ao orador mas, quando se utilizam os outros com frequência, acaba-se por demonstrar a incapacidade de pensar por si próprio, de construir o sonho, a mensagem a ideologia que fará a audiência imaginar, seguir e defender. Revelam as suas fragilidades e desvirtualizam as ideias originais porque não há substância em pessoas ocas nem há mérito na repetição pela repetição. Ou a repetição acrescenta algo de novo ou é apenas um embuste mal encoberto e esses são facilmente entendidos como tal. E destroem a liderança desses pretendentes.
7 comentários:
Isto é uma brilhante prosa! Já pensaste dedicar-te à escrita? :)
Já... mas depois tinha que escrever muitas palavras!
:)
Olha que ia ser...BONITO! :):):)
Gosto de eleger a «frase do dia»... que não é minha, mas que tem a ver com o momento que vivo... que me motiva... e se puder colocar os outros a pensar, melhor ainda ;)
Nas conversas com a minha equipa, resumo-as a muito poucas... as que uso... porque, como dizes, se explanarmos as nossas ideias sem termos de recorrer sistematicamente aos outros, somos originais e reconhecem-nos como tal...
Não gosto de clones, nem de cópias... são sempre piores que o original ;)
e a Ana Clara tem razão... somo ao que escreveu, os cartoons... noutra vertente, como já te expliquei... talento é o que não falta por aqui (ia escrever abunda, mas arrependi-me) ;)
Abraço
Ainda bem que não disseste abunda, porque se o tivesses dito eu respondia com apoia e depois tinha aí comentários de pessoas a dizer que não voltavam ao blog 'dejecto nenhum"... ;)
Tu és demais!!! Ahahahah! Inteligência, com inteligência se (a)paga!
Por acaso, a Ana Clara é quem se cruzou comigo no Chiado, laste week? ;)
How would I know?!
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