segunda-feira, 22 de novembro de 2010

FEITIÇO

Mais uma das power ballads do tempo da guitarra :)

No refrão, cantemos todos juntos!

Não sei se o sabes...

Ou mesmo se o queres...


:)



sábado, 20 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Amarás como Ícaro?

Tens no gesto a candura

Das arestas de uma esfera.

E no movimento a frescura

De pétalas viçosas, de Primavera.

A inocência da tua expressão

Qual manhã ensolarada

Embala-me o coração

Em alegria renovada.

O dom da sedução

Embebido em teus poros

Inebria-me a razão

Revela-me novos tesouros.

E a metamorfose que despoletas

Em mim, todos os dias,

Faz renascer as borboletas

Que em meu corpo escondias...

E partem livres e errantes

Sem direcção definida...

Serão cúmplices? Amantes?

Ou tão-somente juventude irreflectida?

Como pairam e esvoaçam!

Ó Icarus, que inveja!

Mas também elas se esgarçam,

Rasgam o pulso que agora lateja.

Cairá o sangue, galopante,

Como tu, Ícaro, sem remissão,

Numa pira chamejante

A pique, directo ao chão.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ensaio sobre a cegueira – José Saramago

Há duas maneiras de ler um livro. Ou deixamos que o livro nos conduza, o autor ao volante, a definir as curvas, a aceleração e tempos de travagem enquanto nós ficamos sentados no lugar do passageiro e, se o autor for demasiado possessivo, resta-nos ficar no banco de trás, encaixados nas formas ergonómicas da cadeira do bebé, ou conduzimos nós o livro e ao folhear as suas páginas seguramos no volante enquanto o autor nos vai guiando do lugar do co-piloto - curva à esquerda, curva fechada, lomba ou ponte a 100 metros -, mas temos nós a ilusão de dirigir e escolher, de imaginar o autor, as suas personagens e intenções.

Eu gosto dos livros onde sou eu o condutor e o autor é o co-piloto. Gosto dos livros que me fazem pensar mas não apontam uma solução evidente que se possa comprar no quiosque da esquina – por favor dê-me um maço de cigarros, o correio da manhã e a solução aí à direita, essa que está ao lado das pastilhas de mentol, ai já não tem dessas, então dê-me antes a que está por baixo, até é mais barata, sempre poupo algum dinheiro... Gosto dos livros que não acabam, que não impõem um fim apenas para que possamos ter paz de espírito... afinal a realidade que vivemos não se coaduna com fins urdidos em filigrana resplandecente.

Gosto de chegar cansado ao fim de um livro. Nunca entediado! Apenas cansado porque o livro me agarrou de tal forma que fui forçado a despender toda a minha energia para o afastar e fechar as páginas entre a capa e contra-capa, esmagá-las debaixo de uma pilha de outros livros que ainda hoje se agitam quando chego perto deles, porque a história que contavam não acabou e mais do que ficar eu desassossegado por essa ausência de um ponto final parecem estar eles, os livros, irrequietos, a suplicar-me um fim, que lhes escrevinhe as últimas páginas que costumam ficam desnudadas e, se não chegar o espaço, que lhes use as margens até que a palavra os complete e, completos, possam finalmente repousar em paz, enfileirados numa prateleira ombro a ombro com irmãos, primos e filhos bastardos.

Ao pedir-me a defesa de um livro que me tenha marcado estão-me a pedir que defenda a marca que esse livro me deixou e o Ensaio sobre a Cegueira foi um ferro em brasa que me cegou e que me obrigou a tactear as emoções página a página, capítulo a capítulo, até à palavra derradeira, até ao último sobressalto.

sábado, 6 de novembro de 2010

Ficar

Hoje o sol chegou e partiu
e a noite partiu e chegou.
Ficou o cheiro a terra
Ficou na terra o cheiro
de quem chega e parte,
de quem parte e chega,
e de quem partido fica
ao ver o mundo partir
e o sorriso que o aquece
arrefece-o a seguir,
numa constrição gelada
que aguarda nova chegada,
que na morte, o florir
é beleza que desabrocha
e a centelha de hoje
amanhã será tocha
novamente, até se extinguir.

Ficou o cheiro a terra
Ficou na terra o cheiro
de quem partiu e chorou
de quem voltou e sorriu
os passos de quem passou
a saudade de quem viu.

Todos partem.
Todos chegam.
Fica a terra.
Fica o cheiro.
Ficam sós.